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O valor de Napoleão

“Uma bela mulher agrada os olhos, uma boa mulher agrada o coração; uma é uma joia, a outra um tesouro” (Napoleão Bonaparte)

A máxima acima é um dos tantos pensamentos de Napoleão que Honoré de Balzac reuniu no livro Napoleão – Como fazer a guerra (Coleção L&PM Pocket). Uma frase que tem tudo a ver com o que aconteceu no início desta semana: o leilão do anel de noivado oferecido em 1796 por Napoleão Bonaparte a Josefina de Beauharnais.

A joia foi vendido no domingo (24 de março) por 896.400 euros, quase R$ 2,4 milhões de reais, durante um grande leilão organizado pela casa Osenat. Com 18 milímetros de diâmetro, o anel em ouro com um diamante e uma safira esculpida em forma de pera, com a inscrição “você e eu”, havia sido avaliado entre 8 mil e 12 mil euros. “Na época, Bonaparte tinha pouco dinheiro. O anel é de uma simplicidade incontestável”, afirmou Jean-Christophe Chataignier, diretor do departamento de objetos históricos da casa Osenat.

Em 24 de fevereiro de 1796, Napoleão Bonaparte anunciou o seu noivado com Josefina, viúva de Alexandre de Beauharnais. Eles se casaram no civil no dia 9 de março, pouco antes de assumir o comando da campanha da Itália. A joia fazia parte da coleção do príncipe Victor Napoleão (1862-1926), neto de dois reis. Seus avôs eram o último irmão de Napoleão, Jérôme, rei de Westphalie, e Victor-Emmanuel II, rei da Itália. Ele herdou grande parte dos objetos de família ligados a Napoleão, indicou Chataignier.

Outra peça importante vendida no leilão foi um retrato do duque de Reichstadt, o filho de Napoleão I e Marie Louise, com 12 anos. No retrato, o duque aparece vestindo em um uniforme branco do 1º Regimento da Infantaria Imperial Austríaca oferecido a ele por seu avô materno em seu aniversário. O imperador austríaco Francisco I encomendou em 1823 o retrato de seu filho-neto do pintor Peter Krafft.

A pintura foi vendida por 435.600 euros, cerca de duas vezes sua estimativa.

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180 anos depois de sua morte, Goethe continua sendo… Goethe

Como Goethe, só Goethe. Tanto que a literatura alemã divide-se em antes e depois de Os sofrimentos do jovem Werther, livro escrito por ele em 1774. 

Goethe era uma celebridade, um pop star da sua época. Escreveu Os sofrimentos do jovem Werther em apenas quatro semanas e sempre se gabou de que Napoleão havia lido o livro sete vezes e o carregava consigo em sua Biblioteca de Campanha. Quando o escritor e o imperador se encontraram, aliás, em 2 de outubro de 1808, Napoleão o louvou, afirmando “Eis um homem”, ao que Goethe, descontente pela invasão francesa na Alemanha teria respondido laconicamente. Ao final do encontro, Napoleão convidou-o para visitá-lo em Paris, mas o encontro jamais aconteceu.

Em 1831, já com mais de 80 anos, Goethe terminou sua obra-prima, aquela que ocupou por muito tempo: Fausto. O manuscrito da parte final foi então selado e guardado para ser publicado apenas depois de sua morte, o que viria a acontecer cerca de um ano mais tarde, em  22 de março de 1832, há exatos 180 anos.

"Goethe e Napoleão I", gravura feita a partir do desenho de Eugène Ernest Hillemacher

O encontro de Goethe e Napoleão - Desenho de 1828, feito por Jahrgang Angsburg, "Goethe e Napoleão I", gravura feita a partir do desenho de Eugène Ernest Hillemacher

No dia de hoje, morria o General Napoleão Bonaparte

Em 15 de outubro de 1815, Napoleão Bonaparte, derrotado em Waterloo, traído pelos franceses e pelos ingleses chegou à ilha de Santa Helena para morrer. Esta pequena possessão inglesa fora escolhida para ser o castigo e a prisão do grande Imperador. A volta do primeiro exílio em Elba fora uma lição sobre a capacidade de retornar do General. Ele então foi condenado ao desterro em um lugar improvável, uma ilha infernalmente tórrida, perdida no meio do Oceano Atlântico. O carcereiro, Sir Hudson Lowe, foi o homem encarregado de policiar, vigiar e humilhar Napoleão Bonaparte até sua morte. Foram seis anos deste martírio. Há 190 anos, em 5 de maio de 1821, o Imperador (como era chamado pelos franceses) morria naquele inferno úmido e quente, corroído pela amargura e pelo câncer (embora haja a versão não oficial de que foi envenenado com arsênico lentamente pelos ingleses).

Napoleão Bonaparte nasceu em Ajaccio, capital da Córcega, em 15 de agosto de 1869. Desenvolveu sua carreira militar justamente no período da Revolução Francesa. Aos 19 anos já era tenente de artilharia do Grande Exército francês. Aos 27 anos, em 1896 , tornou-se general de exército, quando iniciou sua fulminante ascensão. A luminosa inteligência, a vasta cultura e o enorme carisma fizeram do modesto e pequeno corso um dos personagens mais importantes, intrigantes e impressionantes da história. Muito jovem, atingiu a celebridade comandando as tropas francesas em triunfos lendários como as batalhas de Rivoli e Arcole, na Itália, Austerlitz e Marengo contra o exército austríaco. Com o golpe de 18 Brumário, ano 10, segundo o calendário da Revolução Francesa (9 de novembro de 1799, segundo o calendário tradicional), tornou-se o principal cônsul de um triunvirato que governaria a França. Sua chegada ao poder é favorecida pelos enormes problemas da época. De um lado, a França abalada pela corrupção e a desordem, por outro lado a opinião pública indignada com os políticos. Eficiente, estabilizou politicamente o país, acabou com a corrupção, deu melhores condições de vida ao povo e, em 1804, foi proclamado Imperador. Tinha 35 anos. Contraditório, brilhante, ambicioso, a verdade é que Napoleão Bonaparte deixou a sua marca na França, na Europa e no mundo. Modernizou a administração estatal, acabou com a excessiva influência da igreja, com o feudalismo, impedindo o retorno das velhas práticas anteriores à Revolução Francesa. Resumindo, Napoleão tornou-se Imperador, mas não abdicou dos princípios básicos da revolução.

Na sua agonia, lamentava: “Porque não morri antes? Tantas e tantas vezes desafiei de peito aberto as balas dos mosquetões e dos canhões”. Compreensível este amargo desabafo. O homem que se tornara lenda em vida, admirado pela bravura temerária, amado pelos seus soldados e pelo seu povo, acabou seus dias sob a tutela de um mesquinho carcereiro inglês, num cruel desterro, no meio do nada, distante dois mil quilômetros da civilização. (Ivan Pinheiro Machado)

Leia mais no livro Revolução Francesa, de Max Gallo, ou no volume da Série Encyclopaedia sobre o assunto.

Há 196 anos, morria o mais nobre dos pervertidos: o Marquês de Sade

No dia 2 de dezembro de 1814, exatamente dez anos depois de Napoleão ter sido coroado imperador, morria o Marquês de Sade. De seus 74 anos de vida libertina, 29 foram passados em prisões e asilos para doentes mentais. Sade foi encarcerado pela monarquia, pelos revolucionários e pelo império. E também foi até o limite do prazer. Na literatura e na vida. Seus livros descrevem a satisfação de torturar e de humilhar o parceiro em nome do prazer. Quando não estava preso, vivia em alvocas, prostíbulos e apartamentos alugados para onde levava prostitutas que era apresentadas a uma coleção de chicotes, cinturões de couro e correntes. Antes de Sade, não existia o sadismo. Seus escritos chocaram, causaram revolta, foram chamados de grotescos. Mas as mulheres amaram o Marquês. E ele amou as mulheres. Tanto que criou a personagem Justine. Renné de Sade, sua primeira esposa, era habitué nas orgias do marido – a mais célebre delas com a participação de todas as criadas da casa. Em 1801, já velho e separado da mulher, Sade mais uma vez foi preso, dessa vez no Hospício de Charenton, onde encantou-se pela jovem filha de uma carcereira (essa história é narrada em “Contos proibidos do Marquês de Sade”, filme dirigido por Philip Kaufman). Sedutor, Sade planejava produzir peças pornográficas quando saísse do manicômio. Não teve tempo para isso. Morreu em sua cela, numa França regida por Napoleão, obeso e bem menos sedutor do que nos áureos tempos das orgias. Foi enterrado no cemitério de Chareton em uma cova sem nenhuma inscrição, mas que mesmo assim recebeu uma cruz.

Do Marquês de Sade, a L&PM publica Os crimes do amor e O marido complacente.

Mecha de cabelo de Napoleão é vendida por US$ 13 mil

Um leilão na Nova Zelândia vendeu cerca de 40 itens da memorabília de Napoleão Bonaparte. Os objetos estavam em posse de descendentes de um oficial britânico que conviveu com Bonaparte durante os últimos anos de sua vida, quando esteve exilado na ilha de Santa Helena.

Um dos itens leiloados foi uma mecha de cabelo do imperador francês, cortada logo depois que ele morreu, em 1821. O comprador, que desembolsou US$ 13 mil, foi um londrino não-identificado pela empresa responsável pelo leilão. O total arrecadado com a venda de todos os itens foi de quase US$ 100 mil.

A palavra do homem que soube comandar outros homens

Ivan Pinheiro Machado

No dia 5 de maio, eu escrevi um texto sobre o aniversário da morte de Napoleão. Coincidentemente, poucos mais de um mês depois, estamos lançando Manual do líder, um livro especialíssimo, preparado por um grande estudioso da história francesa da primeira metade do século XIX, Jules Bertaut (1877-1959). O livro traz frases e aforismos de Napoleão Bonaparte recolhidos de toda a bibliografia existente a seu respeito. Estadista, político e estrategista genial, Napoleão é um personagem grande demais, polêmico demais, fascinante demais a ponto de render milhares de livros, lendas e filmes. Foi comparado aos grandes conquistadores como Julio César, Alexandre, o Grande e Átila, o Huno. Foi endeusado por sua coragem pessoal em episódios como a famosa passagem sobre a ponte de Arcole, na Itália, quando assumiu a vanguarda de suas tropas e enfrentou a metralha austríaca. Chefiou campanhas memoráveis, como Rivoli, Austerlitz, Marengo entre tantas batalhas célebres. Fez tremer todas as monarquias européias e o sólido reino da Rússia e seu Tzar. Este corso audacioso e pobre que lia dois livros por dia, consumindo dezenas de velas nas madrugadas parisienses, soube utilizar sua carreira militar meteórica (com 26 anos era comandante em chefe do Grande Exército francês) e sua inteligência prodigiosa para fechar o ciclo da Revolução Francesa, com o golpe do 18 Brumário em 1799 quando assumiu o poder. Sua ambição territorial e militar é polêmica, mas seu talento como administrador é inquestionável. Ele nomeou-se imperador, mas nunca abandonou os princípios da Revolução que ajudara a consolidar. A França saiu do feudalismo e do atraso com a Revolução e com Napoleão. Ele transformou em leis os princípios de proteção ao cidadão. Ele lançou os preceitos da educação para todos, criou os códigos civil e penal, organizou a administração pública e modernizou o estado francês. Consequentemente, do mundo. Por tudo isso, esse Manual do líder é um lançamento imperdível. Não apenas para entender melhor o pensamento deste homem que soube como ninguém comandar outros homens, mas também um exemplo para aqueles que buscam estimular seu espírito de comando e liderança.

Para entrar ainda mais no clima do Manual do líder, assista à cena de um filme que mostra o emocionante retorno de Napoleão da Ilha de Elba.