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A grande exposição dos beats na Europa

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“Beat Generation”, a primeira grande retrospectiva sobre o tema na Europa está aberta desde 22 de junho do Centro Pompidou em Paris. Concebida e apresentada pelo próprio centro, é considerada uma mostra sem precedentes que enfatiza o movimento que marcou profundamente a cena criativa contemporânea.

Nômade, a exposição vai além de Paris para aportar em Nova York e San Francisco, Cidade do México e Tânger. E mostrar que o movimento beat também passa pela música, cinema, fotografia e artes plásticas.

O rolo do manuscrito original de “On the Road” está lá, claro, desenrolando-se na semi escuridão para que assim não sofra com a luz e siga preservado para as próximas gerações… beats.

SERVIÇO

O que: Exposição Beat Generation, curadoria de Philippe-Alain Michaud e Jean-Jacques Lebel
Quando: Até 3 de outubro de 2016
Onde: Centro Pompidou, Galeria 1, Nível 6, 75191 Paris Cedex 04: 01 44 78 12 33. Metro Hotel de Ville Rambuteau. Aberto das 11 às 21h, todos os dias excepto às terças-feiras, 14 ou 11 €. Válida no dia para o museu nacional de arte moderna e todas as exposições.

Assista ao vídeo oficial da exposição:

A L&PM tem uma série inteira dedicada aos beats.

O manuscrito original de On the Road em uma exposição sobre a Rota 66

Se você decidir colocar o pé na estrada e chegar a Los Angeles até 4 de janeiro de 2015, ainda poderá conferir a exposição “Route 66: The Road and The Romance”. Entre os destaques da mostra está o rolo do manuscrito original de On the Road, aquele em que Jack Kerouac digitou a primeira versão do seu mais famoso romance.

O rolo do manuscrito original de On the Road

O rolo do manuscrito original de On the Road

A mostra que está em exibição no Autry National Center of the American West se desenrola pelos 2.400 quilômetros de extensão da estrada que foi testemunha ocular de uma América em movimento. “Route 66: The Road and the Romance” percorre a estrada icônica desde seu início, em 1926, estende-se através da Grande Depressão e chega até um olhar contemporâneo, incluindo o que está sendo feito pela sua preservação.

São 250 artefatos extraordinários que traçam a história da Rota 66 e seu impacto na cultura popular americana. Eles foram cedidos por instituições e coleção particulares de todo os EUA e muitos nunca havia sido exibidos juntos.

Dorothea Lange (United States, 1895–1965), Human Erosion in California (Migrant Mother), 1936, gelatin silver print (13 7/16 x 10 9/16 in.) (The J. Paul Getty Museum, Los Angeles)

Uma das fotos da exposição. De Dorothea Lange (United States, 1895–1965), Human Erosion in California (Migrant Mother), 1936

Placas originais dos anos 1970 -  “East 66 / West 66,” Williams, Arizona, circa 1970s. Coleção Steve Rider

Placas originais dos anos 1970 – “East 66 / West 66,” Williams, Arizona, circa 1970s. Coleção Steve Rider

“Western Motel” um neon original datado de cerca de 1950. Coleção do Museum of Neon Art

“Western Motel” um neon original datado de cerca de 1950. Coleção do Museum of Neon Art

Além da mostra, há uma programação paralela. No dia 11 de setembro, por exemplo, haverá o evento “Waiting for Jack: A Beat Poetry Experience”. Pena que Los Angeles é tão longe…

A L&PM publica o Manuscrito Original em dois formatos.

Carolyn Cassady morre aos 90 anos

Carolyn Cassady, que foi casada com Neal Cassady (companheiro de viagem de Jack Kerouac), morreu na última sexta-feira, 20 de setembro. Ela tinha 90 anos e estava internada em um hospital perto de sua casa, em Bracknell, sudeste da Inglaterra. A causa da morte não foi revelada pela família.

A loira, linda e inteligente esposa de Neal teve três filhos com ele e é uma das personagens de On the road. No Manuscrito original, em que os nomes verdadeiros foram mantidos, Jack Kerouac descreve a primeira vez que a viu, quando foi visitar Neal com Allen Ginsberg:

Chegamos à pensão onde Neal estava dando uns amassos em Carolyn. Era um velho prédio de tijolos à vista circundado por garagens de madeira e velhas árvores fincadas atrás das cercas. Subimos escadas acarpetadas. Allen bateu na porta; então voou para se esconder, não queria que Carolyn visse que era ele quem havia batido. Parei em frente à porta. Neal atendeu nu em pêlo. Vi Carolyn na cama, uma linda coxa lustrosa recoberta por uma lingerie de renda preta, uma loira, olhar com serena perplexidade.

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Além de suas coxas, os belos desenhos de Carolyn – que estavam nas paredes – chamaram atenção de Kerouac neste dia. Abaixo, Neal Cassady desenhado por ela em 1951:

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Neal Cassady em desenho feito por Carolyn Cassady em 1951

Incentivados por Neal, Carolyn e Jack Kerouac acabariam tendo um affair.

Durante as filmagens de “Na estrada”, filme de Walter Salles, Carolyn ajudou a equipe a esclarecer algumas dúvidas. “Ela respondeu a todas as nossas questões por e-mail, relembrando de bom grado sua aventura com Jack Kerouac e nos dando, no caminho, uma lição de gramática inglesa” disse a produção do filme na época.

As anotações no roteiro de “On the Road”

A Revista Trois Couleurs, que foi distribuida durante o Festival de Cannes, é uma verdadeira preciosidade para os amantes dos beats. Editada pela Mk2, produtora do filme On the Road (“Sur la Route” na França e “Na Estrada” no Brasil) ela traz, em suas 240 primorosas páginas, um “quem é quem” dos personagens, uma cronologia que mostra até os antepassados de Jack Kerouac, muitas fotos, documentos, desenhos, música e detalhes sobre o filme dirigido por Walter Salles como croquis e anotações no roteiro. Nestas anotações, feitas pelo diretor, há até algumas escritas em português. “Muito bom isso vai antes da morte do pai” escreveu ele junto a uma locução em off de Sal Paradise, que aparece logo no início do roteiro.

A capa da Revista "Trois", uma preciosidade que temos aqui na editora.

Uma das anotações de Walter Salles está escrita em português - Clique sobre a imagem para ampliá-la

Mais anotações. "Excellent star" escreveu o diretor ele no roteiro de José Rivera

Mais duas páginas cheias de comentários

O roteirista portorriquenho José Rivera, que também trabalhou com Walter Salles em “Diários de Motocicleta” fez várias versões de roteiros até chegar na final. Em alguns momentos, ele optou por seguir a descrição de Jack Kerouac em On the Road – o manuscrito original. Um das primeiras cenas do filme, por exemplo, mostra o enterro do pai de Sal Paradise e a locução em off diz “Encontrei Dean pela primeira vez não muito depois que meu pai morreu…”, enquanto no livro On the road – Pé na estrada a frase é “Encontrei Dean pela primeira vez não muito depois que minha mulher e eu nos separamos”.

O filme estreia no Brasil em 13 de julho.

Jack Kerouac aos 90 por hora…

Dentre todas as paixões que agitaram Jack Kerouac, uma jamais o deixou: a paixão genealógica. Por certo, o sonho com as origens é bem comum, ainda que dos mais perturbadores. É um salto no desconhecido, um enunciado do país das sombras, uma estadia fictícia entre os que, há muito tempo, nos inscreveram numa história por acontecer, a nossa, da qual constituímos, para nós mesmos, o ponto final muito provisório. A sequência mais próxima dessa saga é o roteiro primitivo de nossa concepção, no qual um desejo de viver se encarnou, aleatório, acidental. Todos sabem que poderiam não ter nascido. O não-nascido, esse duplo indizível, habitou Jack Kerouac. (…) Jack Kerouac nasce em 12 de março de 1922 em Lowell, pequena cidade de Massachusetts a 45 quilômetros ao norte de Boston, onde as indústrias têxteis e de calçados estão bem implantadas. (…) Em 12 de março, o inverno continental não terminou. O Merrimack arasta ainda alguns blocos de gelo e o céu é baixo, úmido e ventoso.  (Trecho de Kerouac, série Biografias L&PM)

2012 será uma marca na história de Kerouac. Ele estaria completando 90 anos hoje, o filme baseado em seu mais famoso livro será lançado em breve e, provavelmente, uma nova geração de amantes de On the road se aproxima. Para completar, seu “Scroll” (o manuscrito original de On the road) ganhará novas exposições pelo mundo ao longo deste ano. Aliás, ouvimos falar que é possível que ela chegue de carona no Brasil… Por enquanto são só rumores soprando no vento (como diria Bob Dylan). Mas cruzem os dedos.

Jack Kerouac e seu manuscrito original, escrito em um rolo de telex de 36 metros que foi colocado direto na sua máquina de escrever