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O quadro das multidões…

No dia 11 de agosto de 1911, a Mona Lisa foi roubada. Ela já era uma lenda e na época o roubo foi manchete de capa nos jornais do mundo inteiro. O quadro só foi recuoperado 2 anos depois, quando um certo Vincenzo Peruggia, tido como autor do roubo (leia “Roubaram a Mona Lisa!”, L&PM, 2009) tentava vendê-lo  para galeristas italianos que avisaram a polícia. Na época, o ladrão disse que havia cometido o roubo por patriotismo, já que a Mona Lisa era uma obra do italiano Leonardo Da Vinci e, portanto, tinha que estar exposta na Itália. Na verdade, entre lendas, verdades e mentiras ficou um rescaldo de dúvidas. Foram dois anos em que a polícia bateu cabeça atrás de um ladrão que evaporou-se com o quadro. O poeta Guillaume Apollinaire foi preso como suspeito e Pablo Picasso foi ouvido pela polícia, igualmente como suspeito do roubo. E as pessoas faziam fila no Louvre para ver o vazio da parede, onde antes pendia a famosa pintura. Depois que o quadro foi recuperado, surgiram várias versões e muitas dúvidas. Inclusive de que  a obra resgatada seria uma cópia magnificamente bem feita. Até hoje esta tese tem espaço e, como diriam os conterrâneos de Da Vinci “se non è vero, è ben trovato”. O certo é que a celebridade da Mona Lisa aumentou ainda mais, de forma gigantesca, e é, sem dúvida, como se vê abaixo, o carro chefe do Museu do Louvre que, generosamente, permite fotos.

Março de 2013: uma multidão se aglomera em frente à Gioconda. Foto: Ivan Pinheiro Machado

Março de 2013: uma multidão se aglomera em frente à Gioconda. Foto: Ivan Pinheiro Machado

Máquinas de todos os tamanhos e formatos se curvam diante dela. Foto: Ivan Pinheiro Machado

Máquinas de todos os tamanhos e formatos se curvam diante dela. Foto: Ivan Pinheiro Machado

Uma multidão querendo ver e fotografar a pop star Monalisa. Foto: Ivan Pinheiro Machado

Uma multidão querendo ver e fotografar a pop star Mona Lisa. Foto: Ivan Pinheiro Machado

Um ícone americano em Paris

Paris é imbatível quando trata-se de montar magníficas exposições ou retrospectivas dos grandes artistas da história. Nenhuma capital do mundo tem os espaços que a cidade disponibiliza para expor seus tesouros; Louvre, l’Oragerie, Grand Palais, Quai d’Orssay, – só para citar alguns. São museus e galerias que abrigam algumas das mais importantes obras de arte produzidas pela humanidade em toda a sua história. E, mais ainda, nenhuma grande cidade possui a estrutura de organização e pesquisa que é a alma destes mega-eventos artísticos. Afinal, uma equipe altamente preparada pesquisa e busca nos museus, galerias e coleções particulares de todo o mundo os quadros necessários para realizar uma mostra significativa e completíssima como costumam ser as grandes exposições “oficiais” em Paris. O destaque entre as grandes amostras é sem dúvida a mega-retrospectiva de Edward Hopper (1882-1967) um ícone americano, pintor da solidão, dos silêncios e da melancolia. Mas sobretudo o pintor que, em cenas de admirável imobilidade, revela a estética da América da primeira metade do século XX. Enorme, completíssima, cobrindo todos os períodos de sua vida produtiva (inclusive, “ça vas sens dire”, a temporada em Paris) nos EUA – especialmente no Withney Museum, que guarda a grande coleção doada pela viúva Hopper – jamais foi feita uma retrospectiva com a pompa e a circunstância que Paris dedica ao grande pintor. Inaugurada na semana passada, dia 8 de outubro, a exposição encerra em 25 de janeiro de 2013 quando então segue para o maior museu americano, o Metropolitan Museum of Arts de Nova York. (Ivan Pinheiro Machado)

Nova York reverencia Andy Warhol: grande exposição no Metropolitan

O Metropolitan Museum of Art é um prédio enorme, de uma arquitetura sobriamente neoclássica, que lhe confere um aspecto sisudo e solene. Afinal, ele é praticamente único, solidamente instalado no lado Leste do Central Park, no coração de Nova York, na Quinta Avenida, número 1.000. É considerado o segundo maior museu do mundo, sendo o Louvre, em Paris, o primeiro. O Louvre exibe a monumental coleção de arte clássica, tendo no seu acervo – como todos sabem – a Monalisa. A chamada “arte moderna” está representada no Museu d’Orsay, há poucas quadras, do outro lado do Sena. Já o Metropolitan abriga a arte clássica e preciosidades da arte moderna sob o mesmo teto. O melhor da arte de todos os tempos está lá, de Johannes Van Vermeer a Picassos em profusão – inclusive o célebre retrato de Gertrude Stein – além de Monets, Pissaros, Manets, Cezannes e Modiglianis inesquecíveis entre centenas de outros grandes pintores.

Agora, o grande museu decidiu celebrar Andy Warhol, o rei do pop. Até o dia 31 de dezembro, está aberta ao público a grande exposição “Regarding Warhol: Sixty artists, fifty years”. São 45 obras de AW ao lado de 100 obras produzidas por 60 artistas que tiveram e assumiram influências decisivas de Warhol – entre eles, alguns dos maiores pintores americanos de todos os tempos.

Catálogo da exposição "Regarding Warhol: Sixty artists, fifty years"

Morto por um erro médico em 22 de fevereiro de 1987, nem no mais delirante dos sonhos, o frágil emigrante tcheco deslumbrado com a cultura das celebridades, imaginairia que, um dia, o velho Metropolitan se curvaria para sua obra.

Veja aqui a excelente matéria de autoria de Audrey Furlaneto e Catharina Wrede, veiculada pelo jornal O Globo de 23/09/2012, sobre a exposição e sobre a imensa valorização dos quadros de Andy Warhol. (Ivan Pinheiro Machado)

Alexandre, o Grande no Museu do Louvre

A história é viva e nem mesmo o nosso passado – tal qual o conhecemos, pelo menos – pára de se modificar. Uma prova disso é a exposição No reino de Alexandre, o Grande – Macedônia Antiga que foi inaugurada esta semana no Museu do Louvre, na França. São 500 objetos encontrados ao longo das últimas três décadas (em sua maior parte inéditos para o grande público) que ajudam a recontar a história da Macedônia do século 15 até o império romano.

As novas descobertas ajudam também a entender melhor, e de forma mais precisa, as origens de um dos maiores líderes que o mundo já conheceu – pois antes de ser “o Grande”, Alexandre era macedônio. Mas não só isso. Tudo o que conhecemos hoje sobre a produção artística, a educação, o cotidiano e a religião de homens e mulheres que viveram naquela região está sendo revisitado.

A máscara de ouro que sorri

Entre os objetos encontrados, esculturas, vasos e cerâmicas atestam a extraordinária e refinada produção artística da época. Máscaras  e capacetes de bronze sublinham a presença e a importância da guerra no cotidiano e no imaginário daquele povo. Mas ao mesmo tempo, alguns achados supreendem, como uma máscara de guerra inteiramente esculpida em ouro que retrata os contornos e relevos de um rosto que sorri. É aí que entra em cena o desafio de interpretar estes sinais aparentemente paradoxais deixados para a posteridade.

Entre centenas de outros objetos, foram encontrados também duas estátuas. Uma delas está segurando uma lança e acredita-se que seja uma representação do deus Pan caçando leões. A outra retrata um jovem rapaz de traços delicados, mas com o olhar seguro, mirando ao longe. Aí ficou fácil: segundo os pesquisadores, seria a imagem do próprio Alexandre, o Grande.

A exposição No reino de Alexandre, o Grande – Macedônia Antiga vai até o dia 16 de janeiro de 2012 no Museu do Louvre. Mas se você não tem planos de ir a Paris nos próximos meses e quer conhecer um pouco mais sobre a história de um dos maiores líderes que o mundo já conheceu, vale ler o volume sobre Alexandre, o Grande da Série Encyclopaedia.

O reencontro das virgens de Leonardo

Em abril de 1483, ou seja, um ano após sua chegada [em Milão], consegue finalmente uma encomenda séria, por intermédio de Ambrogio e Evangelista Predis. Trata-se do famoso retábulo da Virgem dos Rochedos. (…) 

Em vez de prender-se ao tradicional grupo estático de uma Virgem com o Menino cercada de anjos e profetas, ele se lança na representação de uma antiga lenda que imagina o encontro do Menino Jesus com o jovem João Batista em pleno deserto. Lenda bastante iconoclasta, embora até o momento ninguém se inquiete com ela. Essa encenação audaciosa, quase herética, permite a Leonardo pintar uma fabulosa paisagem de rochedos e maciços, a ponto de fazer dela o principal ator em cena, carregando-a de valor simbólico como no mito da caverna. A Imaculada funde-se com a maternidade virginal, o interior e o exterior se alternam em ambientes densos e úmidos, jogos de luz artificial mostram as trevas como uma luva virada pelo avesso. “O útero da terra que revelaria o mistério das forças vitais em suas cavidades percorridas pelas águas fundadoras…”, assim Leonardo percebe sua Virgem dos Rochedos

Embora não seja o primeiro a pintar madonas dessacralizadas – foi Filippo Lippi quem primeiro tratou a Virgem como mulher carnal, sensual e até mesmo excitante – Leonardo oferece a Maria o amor materno e a ansiedade que sempre o acompanham. Torna-a familiar, comovente e muito jovem, com aquele incrível sorriso misterioso que flutua sobre seu turbulento filho. Suas madonas vão servir de modelo aos pintores dos séculos vindouros. (…) 

O trecho acima está no livro Leonardo da Vinci, de Sophie Chauveau (Série Biografias L&PM) e ganha destaque aqui porque, ontem, 28 de julho, foi anunciado no periódico britânico The Guardian que o quadro em questão, Virgem dos Rochedos vai estar exposto ao lado de outro quadro de Leonardo da Vinci chamado… Virgem dos Rochedos. É isso mesmo que você leu: duas telas de mesmo nome, pintadas pelo mesmo gênio, vão estar finalmente juntas num mesmo museu.  Esclarecendo: da Vinci pintou duplamente a mesma cena descrita no início deste post. A primeira não só foi negada pelo mecenas que a encomendou como Leonardo foi obrigado a pintar uma Virgem dos rochedos mais “conveniente”. Veio daí a segunda (que não se sabe ao certo em que ano foi finalizada), levemente diferente da original, em que João Batista ganhou um crucifixo para que as pessoas conseguissem identificá-lo. 

A primeira versão está no Louvre, em Paris, e a segunda na National Gallery de Londres. Mas agora, graças à aguardada exposição “Leonardo da Vinci: Painter at the Court of Milan”, que começa em novembro, o museu frances vai emprestar a sua Virgem para o museu inglês para que ambas possam ficar lado a lado e o público tenha a chance de compará-las. Uma espécie de “jogo dos sete erros” para os amantes das belas artes (que você até pode tentar fazer aqui, clicando na imagem acima para aumentá-la).

Encontrei o Leonardo!

Por Paula Taitelbaum*

Enquanto leio o primoroso Roubaram a Mona Lisa! de R. A. Scotti (você não leu? Tá esperando o quê?) descubro, além de um livro muitíssimo bem escrito – sobre o verídico roubo do quadro mais famoso do mundo em 1911 –  que alguns personagens das belas artes mundiais possuem um lado que eu desconhecia. Primeiro, deparei com um Picasso que envolvia-se com freqüência em furtos de obras de arte: “No final da audiência, Picasso, que havia comprado as peças roubadas, foi liberado depois de assumir o ato e ser alertado para que não saísse de Paris”. Depois, fiquei sabendo que Leonardo da Vinci arrasava os corações de Florença com um rosto que tinha uma beleza “fora do comum”. Para mim, a imagem que surgia ao ouvir falar do mestre da Vinci era a de um velho homem de nariz adunco, muitas rugas e vasta cabeleira – e não a figura do titã de cabelos louros e encaracolados que lhe caiam sobre os ombros despertando suspiros nas donzelas. Confesso que duvidei. E por isso fui ao Google procurar algo que pudesse atestar a beleza do pai da Mona Lisa. O que encontrei foi o vídeo produzido pelo TED – Ideas worth spreading. É uma micro palestra do artista Siegfried Woldhek sobre o verdadeiro rosto de Leonardo da Vinci. Muito bom!

Paula é jornalista, escritora e coordenadora da L&PM WebTV