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Autor de hoje: Edgar Allan Poe

Boston, EUA, 1809 – † Baltimore, EUA, 1849

Filho de atores, órfão aos dois anos, foi adotado por um comerciante abastado, de quem recebeu esmerada educação. Matriculou-se na Academia Militar de West Point, de onde foi expulso por indisciplina. A partir de então, passou a viver como nômade, exercendo o jornalismo na Filadélfia. Depois disso, mudou-se para Nova York, onde trabalhou como editor de importantes periódicos. Sua vida pessoal foi marcada pela morbidez e pelo alcoolismo. Além de contos, Poe escreveu poemas e ensaios. Devido à melancolia, ao mistério e às sugestões temáticas, sua obra é considerada simbolista e fantástica. Dentre seus temas, destacam-se as alucinações e a fantasmagoria, as neuroses e as inquietações do homem, o duplo, a introspecção na alma, a morte e a fatalidade. É considerado o precursor do moderno romance de mistério ou policial, além de criador dos contos de efeito. Escritor “maldito”, sua obra definiu os rumos da contística contemporânea.

OBRAS PRINCIPAIS: A queda da casa de Usher, 1838; Contos do grotesco e do arabesco, 1838; O relato de Arthur Gordon Pym, 1838; Assassinatos da rua Morgue, 1841; O escaravelho de ouro, 1843; O mistério de Marie Roget, 1842; O barril de amontillado, 1846

EDGAR ALLAN POE por Patrícia Lessa Flores da Cunha

Edgar Allan Poe, escritor norte-americano, talvez seja, ainda hoje, um dos autores mais lidos e conhecidos fora dos limites geográficos da literatura de seu país. Situado nevralgicamente nos limites de um Romantismo exaurido, que já se mostrava impregnado pela atmosfera mecanicista que floresceria no Realismo da segunda metade do século XIX, Edgar Allan Poe, como personalidade literária, é uma figura intrigante. Mesmo os seus desafetos críticos não deixam de lhe reconhecer lances e especulações geniais que, todavia, atribuem quase sempre aos percalços de sua atribulada trajetória de vida pessoal, evitando enquadrá-los como fruto de uma consciência artística superior.

Edgar Allan Poe não é uma unanimidade em termos de crítica. Porém, resta evidente a atuação de um escritor vigoroso e inquietante que, apesar de imperfeições artísticas e técnicas e de uma formação intelectual deficiente, soube atingir e envolver a intelligentsia de seu tempo com a força de uma produção literária que segue questionando os caminhos da investigação crítica da atualidade.

A esse respeito, Poe pode ser visto como a figura de transição no panorama da moderna literatura, e não só norte-americana, por ter descoberto o seu grande filão temático e expressional, qual seja, o da desintegração da personalidade humana, através da insistência com que aborda, por exemplo, a duplicidade latente no indivíduo, tornando-se assim, a todos os leitores contemporâneos, um escritor potencialmente familiar.

A ideia central do pensamento de Poe, oriunda da noção de brevidade na emoção e na contemplação da beleza, leva-o a compor, por caminhos travessos, o que talvez seja a sua mais permanente contribuição ao pensamento teórico-crítico contemporâneo, a teoria do efeito, que se realiza, por excelência, no domínio do conto, alçado a partir e, sem dúvida, por causa de Poe à condição de gênero da literatura moderna. A narrativa curta em prosa, aquela que exigiria, no máximo, duas horas de atenta leitura, propicia um vasto campo de produção literária, adequando-se sobremaneira ao exercício dos conceitos de brevidade, totalidade e intensidade que estruturam a teoria do efeito, tornando Poe, desde então, o mais instrumental dos escritores no gênero. Se a popularidade de sua poesia foi considerável – o poema “The Raven” (1845) é exemplo disso –, os contornos do prestígio de sua ficção têm sido maiores e mais abrangentes.

Não é à toa que pode ser considerado como o fundador da moderna narrativa de ficção científica e do conto policial detetivesco, vertentes originárias da publicação de muitos dos seus contos, notadamente a série dos relatos criminosos solucionados por Arsène Dupin e as experiências fantásticas contidas em A aventura sem par de um certo Hans Pfall e Mellonta Tauta, entre outros.

Ainda chama a atenção, para o sentido de modernidade implícito na proposta narrativa inovadora de Poe, a sua absoluta consciência sobre a importância do leitor – mesmo que anônimo e perdido na multidão dos leitores de um jornal – como elemento receptor e co-criador, em um sentido inegavelmente participativo, da utopia do seu texto poético-ficcional.

* Guia de Leitura – 100 autores que você precisa ler é um livro organizado por Léa Masina que faz parte da Coleção L&PM POCKET. Todo domingo,você conhecerá um desses 100 autores. Pra melhor configurar a proposta de apresentar uma leitura nova de textos clássicos, Léa convidou intelectuais para escreverem uma lauda sobre cada um dos autores. Veja os outros autores já publicados neste blog.

 

Autor de hoje: Stendhal

Grenoble, França 1783 – † Paris, França, 1842

Pseudônimo de Marie-Henri Beyle, desde cedo manifestou tendências republicanas e anticlericais, em dissonância com o meio em que vivia. Devido a essas tendências, participou da campanha de Napoleão, na Itália, como integrante do Regimento de Dragões. Depois disso, abandonou o exército para dedicar-se à literatura, mas a ele retornou por necessidades financeiras. Com a queda do Império Napoleônico, mudou-se para Milão, vindo a exercer outras funções e cargos públicos na Itália e na França. Autor de um estilo sóbrio, criou personagens de grande complexidade psicológica, que se debatiam entre a conduta racional e o comportamento sensual. Embora tenha escrito seus romances em pleno Romantismo, a isenção de sentimentalismo e as profundas análises de personagens caracterizam sua obra como representativa do Realismo francês.

OBRAS PRINCIPAIS: O vermelho e o negro, 1830; A cartuxa de Parma, 1839

STENDHAL por Carlos Jorge Appel

Celebrizado sob o pseudônimo de Stendhal, Henri Beyle viria universalizar o conceito de beylismo, que postula a valorização da felicidade como fator vital para a consecução da plenitude humana. Em Racine e Shakespeare (1823), um dos mais vigorosos manifestos românticos, incompreendido até mesmo por Victor Hugo, Stendhal revela uma lucidez anti-sentimental que rompe com os postulados românticos vigentes até então na Europa. Balzac o saúda como um gênio, em 1840, e diz que ele escrevia “para seus contemporâneos de inteligência já realista”. Convém lembrar que sua infância e adolescência transcorreram em meio às profundas transformações históricas da Revolução Francesa e ao advento da Era Napoleônica. Em dissonância com o meio em que vivia, com sérios problemas de relacionamento familiar, cedo manifestou tendências anticlericais e republicanas, visíveis em suas crônicas, ensaios e romances. Participou da campanha de Napoleão na Itália como ajudante-de-campo do general Michaud, viajou e conheceu de perto a cultura italiana, seus pintores, escultores, músicos e escritores e elegeu Milão como sua cidade preferida. Essa vivência foi fundamental para seus ensaios A vida de Napoleão, Do amor, A batalha de Waterloo e o romance A cartuxa de Parma.

Forjou a palavra “egotismo” para designar a psicose romântica de palavroso subjetivismo sentimental e contrapôs-lhe uma arte de ser individualmente feliz, sem ilusões, à base do conhecimento possível dos homens, das circunstâncias que os modelam e do progresso social inevitável. Contrapôs a objetividade da tradição iluminista à histeria sentimentalista, ao sonho medievalista ou fantasmagórico. Graças ao seu domínio intelectual, Stendhal se tornaria o mestre do melhor realismo já encartado na segunda metade do século XIX. Seu estilo é a consumação perfeita de um pensamento e de uma funda experiência que se exprimem, sobretudo, em seus romances O vermelho e o negro, A cartuxa de Parma e Lucien Leuwen, romance incompleto e editado em 1901, que Otto Maria Carpeaux considera o melhor de sua obra. Dele diria Nietzsche: “Stendhal, esse notável precursor que, qual Napoleão, percorreu a sua Europa, os vários séculos de alma européia, iluminando-a e descobrindo-a; foram necessárias duas gerações para com preendê-lo, para adivinhar alguns dos enigmas que o exaltavam, a ele, epicurista admirável e curioso indagador, que foi o último grande psicólogo da França”.

* Guia de Leitura – 100 autores que você precisa ler é um livro organizado por Léa Masina que faz parte da Coleção L&PM POCKET. Todo domingo,você conhecerá um desses 100 autores. Pra melhor configurar a proposta de apresentar uma leitura nova de textos clássicos, Léa convidou intelectuais para escreverem uma lauda sobre cada um dos autores. Veja os outros autores já publicados neste blog.

Autor de hoje: Júlio Verne

 

Nantes, França, 1828 – † Amiens, França, 1905

Considerado o pai da moderna ficção científica, desde cedo demonstrou interesse pela literatura. Estudou Direito, mas não chegou a exercer a profissão. Trabalhou como secretário do Teatro Lírico entre 1852 e 1854 e, depois, tornou-se corretor de bens públicos, atividades que exerceu paralelamente à de escritor. Suas obras mais conhecidas são Viagem ao centro da Terra, Viagem ao redor da Lua, Vinte mil léguas submarinas e A volta ao mundo em 80 dias. Nelas, o autor prevê um grande número de descobertas científicas, incluindo o submarino, o aqualung, a televisão e as viagens espaciais. Tendo desfrutado em vida de enorme popularidade, Júlio Verne é considerado um dos maiores escritores franceses e um dos mais influentes da literatura universal. Em 1892, foi condecorado com a Legião de Honra.

OBRAS PRINCIPAIS: Viagem ao centro da Terra, 1864; Viagem ao redor da Lua, 1865; Vinte mil léguas submarinas, 1870; Volta ao mundo em 80 dias, 1873; A ilha misteriosa, 1874

JÚLIO VERNE por Luiz Paulo Faccioli

A França entrou no século XIX ainda sob o impacto da Revolução e guiada pela mão megalômana de Napoleão Bonaparte. Com a queda do imperador, sobreveio uma longa fase de turbulência política: ora restaurava-se a república, ora ressurgia a monarquia, ora voltava o império. Para as artes, contudo, foi um século fulgurante. E, especialmente para a literatura, basta dizer que nele encontramos Flaubert, Stendhal, Dumas – pai e filho –, Victor Hugo, Balzac, Maupassant, Rimbaud, Baudelaire, Verlaine. O romantismo que dominava no início cedeu lugar à estética do realismo e do naturalismo que sobreviveu ao nascer do século XX. Cinqüenta anos antes, o público começara a cansar daquela concepção romântica que punha o indivíduo no centro do mundo e se dedicava a extrair dele suas confidências e aflições. O progresso da ciência estimulava o homem a olhar para fora de si, e a arte não poderia deixar de absorver e retratar essa nova realidade. É nesse cenário que Júlio Verne aparece com seus relatos de viagens fantásticas, antecipando na ficção um futuro que viria a se confirmar nos detalhes de suas projeções tecnológicas, e logo se torna um dos mais populares escritores franceses de todos os tempos.

A narrativa de aventura não era nova e já havia produzido bons frutos pelas mãos de Jonathan Swift, em As viagens de Gulliver, e de Daniel Defoe, em Robinson Crusoé. Verne agregou a ela o conceito de verossimilhança científica inaugurado por Edgar Allan Poe e produziu uma obra original que ainda instiga e muito ainda irá instigar. Dono de um estilo fácil e envolvente, sem prescindir da elegância característica da escrita de sua época, foi um autor inventivo e meticuloso. Autodidata, passou a vida mergulhado em leituras, viajando pela Terra, por dentro dela e pelo espaço sem ter saído muitas vezes de casa. As inovações tecnológicas imaginadas por ele, mas que o mundo só viria a conhecer no século XX, formam uma lista longa que inclui o fax, a televisão, o helicóptero, os mísseis teleguiados, os arranha-céus, o cinema falado, o gravador e tantas outras.

Pai da moderna ficção científica, Júlio Verne ganhou a merecida fama de ter sido um visionário, mas não há nada de místico ou sobrenatural nesse atributo. Ele foi um intelectual profundamente identificado com o seu tempo, atento às mudanças que a evolução das ciências impuseram à humanidade e dedicado a exercitar o raciocínio lógico e científico. Não houve mágica, e sim sede de conhecimento e leitura, muita leitura.

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Autor de hoje: Daniel Defoe

Londres, Inglaterra, 1660 – † Londres, Inglaterra, 1731

Descendente de holandeses, estudou em uma escola para protestantes ingleses não-anglicanos. Mais tarde, alistou-se no exército do duque de Monmouth, que pretendia depor o rei Jaime II. Derrotado o duque, Defoe passou a servir-se da palavra escrita como arma de combate. Exerceu cargos no governo, viajou a Portugal e Espanha e dedicou-se a escrever e publicar ensaios políticos. A instabilidade dos governantes determinou mudanças na situação pessoal e profissional do escritor. Sempre contrário ao anglicanismo, sofreu reveses e benesses, alternando cargos lucrativos, humilhações públicas e prisão. Sua obra ficcional trata questões importantes à época, como a bondade natural do homem corrompida pela civilização, tema central de Robinson Crusoé, depois retomado em Moll Flanders. Essas duas obras continuam suscitando o interesse dos leitores e da crítica, servindo de argumento para o cinema norte-americano.

OBRAS PRINCIPAIS: Robinson Crusoé, 1719-1720; Moll Flanders, 1722; Um diário do ano da peste, 1722

DANIEL DEFOE por Maria Helena Martins

Não é preciso ser conhecedor de literatura para saber que o mais importante na leitura de um romance está no fato de ele prender nossa atenção, fazer com que se queira ler mais. O autor tem de criar suspense, despertar e manter nossa curiosidade, romper expectativas, deixando-nos presos à sua história. Qualquer contador de causos sabe disso intuitivamente. Imagine-se o que pode fazer quem também domine a palavra escrita, conheça meandros da alma humana, seus ditos e interditos, feitos e fantasias. Quem entre na pele de aventureiros e heróis, decentes e devassos… Pois Defoe literalmente tira de letra com facilidade camaleônica. Ora envolve o leitor com suas personagens e peripécias, ora escapa com elas por desvãos inusitados, deixando o leitor surpreso e desorientado, como quem é perseguido por trilhas ou ruelas estranhas.

Seu livro mais conhecido é Robinson Crusoé, porém Moll Flanders é emblemático de uma sociedade plena de falsidades, que encobre perversões e precariedades. Tratava da Inglaterra do século XVIII, mas percebia nela traços que persistem em nossos dias, em nossa realidade. Já no prefácio, ao antecipar seu relato da “vida amorosa” de sua protagonista, Defoe revela que toma “todo o cuidado” para sua história não provocar “idéias impudicas nem obscenas”, com “pormenores mais corruptos de sua vida”. Contudo, isso atiça a curiosidade para o oposto do que estaria propondo e, decididamente, fisga o leitor para a leitura do texto. Segundo ele:

(…) para contar uma vida de pecado e arrependimento é absolutamente necessário contar a parte pecaminosa com toda a verdade possível, para realçar e embelezar a parte do arrependimento, que é, sem dúvida, a melhor e a mais radiosa, se for contada com igual entusiasmo e realidade.

Insinua-se não ser possível relatar a parte do arrependimento com tanta realidade, tanto esplendor e tanta beleza como a pecaminosa. Se há alguma verdade nessa insinuação, seja-me permitido dizer que tal se verifica por não haver o mesmo gosto e satisfação na leitura e a diferença existir, deveras, mais no deleite e prazer do leitor que no valor real do assunto.

Mas, como este livro se destina, sobretudo, àqueles que o saibam ler e tirar dele o proveito que se recomenda ao longo da história, espera-se que tais leitores apreciem mais a pertinência que a narrativa, a moral que a ficção, o objetivo do escritor que a biografia da pessoa biografada.

Então, nada mais a recomendar do que uma boa leitura!

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Autor de hoje: Francis Scott Key Fitzgerald

 Saint Paul, EUA, 1896 – † Los Angeles, EUA, 1940

Oriundo de família católica irlandesa, chegou a cursar a Universidade de Princeton, alistando-se, a seguir, como voluntário na Primeira Guerra Mundial. Iniciou sua carreira literária em 1920, com o romance Este lado do paraíso, que lhe trouxe imediata popularidade. Publicou textos literários em periódicos de grande prestígio, além de trabalhar em Hollywood como roteirista cinematográfico. A inspiração romântica de Scott Fitzgerald consagrou-o como um dos mais importantes escritores da chamada “Geração Perdida” da literatura norte-americana. Além de buscar um estilo próprio para fixar, ficcionalmente, a história de seu tempo, procurou retratar o efêmero e o passageiro. Atraído e deslumbrado pelo modo de vida dos ricos, concentrou-se em pesquisar a maldição ligada às grandes fortunas. Seu livro O grande Gatsby, filmado na década de 1970, contribuiu para o reconhecimento de sua obra no mundo ocidental.

OBRAS PRINCIPAIS: Este lado do paraíso, 1920; Seis contos da era do jazz, 1922; O grande Gatsby, 1925; Suave é a noite, 1934; O último magnata, 1941

F. SCOTT FITZGERALD por Celito De Grandi

“– Quem é esse tal Gatsby, afinal de contas? – indagou, subitamente, Tom. – Algum grande contrabandista de bebidas?”

A pergunta, feita por um dos personagens de O grande Gatsby, faz todo sentido, já que F. Scott Fitzgerald criou uma inteligente atmosfera de mistério em torno da figura e da vida opulenta, glamorosa e instigante de Gatsby. E ele só a desvenda com parcimônia, em pinceladas significativas de um modo de vida característico dos anos 1920 nos Estados Unidos. Os atores do livro, em sua grande maioria, são homens e mulheres jovens, ricos, belos, envolvidos em histórias de amor e traição, vivenciadas em meio a uma festa permanente: a casa sempre iluminada de Gatsby reúne todas as noites dezenas de figuras, convidadas ou não, preocupadas em desfilar sua elegância, verdadeira ou construída. Tudo regado a muita bebida. Um mundo de champanhe.

A história de Jay Gatsby é considerada por muitos críticos uma espécie de parábola do sonho americano. Dono de uma grande fortuna, acumulada de uma forma não bem explicada, Gatsby é quem menos se diverte em suas noites de festa, sempre às voltas com a busca do amor perdido de uma bela mulher casada com outro milionário.

O mundo fantasioso da elite americana do início do século XX sempre exerceu um fascínio sobre F. Scott Fitzgerald. Filho de uma família de classe média e casado com uma bela mulher da alta sociedade, ele viu boa parte da sua vida transcorrer em festas e viagens continuadas na Europa e nos Estados Unidos. Com esse jeito de ser, de um lado, recolheu farto material para os livros; de outro, faltou-lhe tempo para produzir uma obra maior, o que não o impediu de se tornar um dos mais importantes escritores norte-americanos e o mais bem remunerado autor de sua época. Ele foi o intérprete perfeito do modo de ser dos ricos e dos aristocratas que se imaginam eternamente jovens.

Há um diálogo revelador entre as duas principais mulheres do enredo de O grande Gatsby:

“– Que é que faremos conosco esta tarde? – exclamou Daisy. – E amanhã? E nos trinta anos que se seguirão?”

“– Não seja mórbida – disse Jordan. – A vida recomeça de novo, ao chegar, revigorante, o outono.”

A vida, na realidade, não é assim, logo descobriu F. Scott Fitzgerald. Ele próprio soçobrou, junto com o declínio do sonho americano. Sua mulher viveu os últimos dias num hospício, e ele, consumido pelo álcool, enfrentou o ostracismo em Holllywood, com a rejeição de roteiros para filmes.

Sua produção literária, no entanto, embora reduzida, é da maior significação para a literatura ocidental, e O grande Gatsby, levado para o cinema em mais de uma versão – a mais conhecida é o roteiro de Francis F. Coppola, com Robert Redford no papel-título –, foi considerado, em uma enquete da Modern Library, como o segundo melhor romance de língua inglesa do século XX. Perde apenas para Ulisses, de James Joyce.

A L&PM publicará O Grande Gatsby em pocket e a previsão de lançamento é início de setembro.

* Guia de Leitura – 100 autores que você precisa ler é um livro organizado por Léa Masina que faz parte da Coleção L&PM POCKET. A partir de hoje, todo domingo,você conhecerá um desses 100 autores. Pra melhor configurar a proposta de apresentar uma leitura nova de textos clássicos, Léa convidou intelectuais para escreverem uma lauda sobre cada um dos autores.