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O grande show do “pop star” da arte moderna

Poucas pessoas imaginariam que, dentro daquele caminhão atolado na lama do Parque Ibirapuera, no chuvoso inverno de 1953, enrolado e acondicionado num enorme tubo de metal, estava o quadro que se tornaria um dos mais emblemáticos, populares e representativos da pintura universal em todos os tempos. O caminhão atolado transportava nada mais nada menos do que o imenso quadro Guernica de Pablo Picasso (1881 – 1973), que juntamente com mais cem quadros comporia a mostra especial sobre Picasso na 2ª Bienal de São Paulo. Através de uma conexão do legendário Ciccillo Matarazzo diretamente com Picasso e seus amigos, Alfred Barr Jr., o diretor do MoMA, a contragosto, concordara em emprestar o quadro à Bienal de S. Paulo. Na época, Picasso deixara a guarda do quadro com o MoMA de Nova York, do seu amigo Barr Jr., com a condição de que fosse entregue ao governo espanhol quando a Espanha tivesse retornado à plena democracia. Guernica foi pintada em plena Guerra Civil, para o estande espanhol na Exposição Internacional de Paris em 1937. Picasso revelava ao mundo o horror diante do bombardeio da aviação nazista que destruiu aldeia de Guernica, no país Basco.

Guernica em exposição na Bienal de Arte de São Paulo de 1953. Na foto, Ciccillo Matarazzo, responsável por trazer a obra de Picasso, em destaque ao lado de Juscelino Kubitschek

Guernica em exposição na Bienal de Arte de São Paulo de 1953. Na foto, Ciccillo Matarazzo, responsável por trazer a obra de Picasso, em destaque ao lado de Juscelino Kubitschek

Guernica  retornou à Espanha em 1981, depois do fim da ditadura do generalíssimo Franco, quando se consolidou a democracia espanhola seguindo à risca o desejo de Picasso. Hoje, o enorme quadro de 3,50 metros por 7,80 metros, além de mais de uma centena de estudos, gravuras e quadros a óleo, fazem parte do acervo do Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, um anexo do célebre Museu do Prado.

A exposição “Picasso e a modernidade espanhola”, que encerrou nesta segunda-feira no Centro Cultural Banco do Brasil no Rio de Janeiro foi justamente uma seleção do acervo do museu Reina Sofia.

A entrada da exposição

A entrada da exposição

Como em todos os eventos que expõe “Picassos” pelo mundo afora, as filas quilométricas e permanentes davam voltas na quadra do CCBB Rio. E para dar chance a todos de verem o grande acontecimento cultural do ano, a direção do Centro Cultural permitiu que a visitação no fim de semana começasse às 9 horas da manhã de sábado e só encerrasse no domingo às 21 horas. Turistas e cariocas tiveram o privilégio de ver Picasso por toda a noite e a madrugada de sábado para domingo.

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Os esboços de Guernica, duas dezenas de quadros da última fase de Picasso e dezenas de exemplares da maravilhosa série de gravuras conhecida como Suite Vollard procuram mostrar ao público a explosão criativa que cercou a concepção de Guernica. A curadoria da exposição buscou fazer um contraponto e situar Picasso em meio aos pintores que fizeram a importante escola espanhola da primeira quadra do século XX.

Além das telas de Picasso, os visitantes puderam passear virtualmente pela Guernica

Além das telas de Picasso, os visitantes puderam passear virtualmente pela Guernica

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“Cabeça de cavalo”, um dos destaques da exposição

Fomos brindados com três quadros do grande pintor cubista Juan Gris (1887-1927), um espetacular e imenso quadro de Juan Miró e mais duas dezenas de pintores espanhóis menos conhecidos do público brasileiro. A exceção é um quadro (modesto) do célebre Salvador Dali que, paradoxalmente, sempre apoiou o ditador Francisco Franco.

Está à venda na livraria do CCBB um belíssimo livro sobre a exposição, contextualizando as escolhas do curador, a história e um estudo biográfico de Picasso e pequenas biografias de todos os artistas expostos. A exposição esteve em São Paulo de 25 de março a 8 de junho de 2015 e no Rio de 24 de junho a 7 de setembro. Foram milhares de visitantes motivados pela entrada grátis e pela celebridade de Picasso, o grande “pop star” das artes. Tudo graças a um enorme esforço de dezenas de instituições públicas e privadas. Mas terá valido a pena, pois nada é mais civilizatório do que este contato direto com a grande arte. (Ivan Pinheiro Machado)

Há 77 anos, começava a Guerra Civil Espanhola

A Guerra Civil Espanhola começou com um golpe militar em 17 de julho de 1936. Mas quando as tropas lideradas pelo general Francisco Franco rebelaram-se contra o governo republicano, o impacto foi muito além de um choque entre diferentes ideologias. O conflito resultante influenciou o curso da política, da sociedade e da cultura, dentro e fora da Espanha. A ascensão do fotojornalismo na década de 30 permitiu que a guerra fosse a primeira a ser documentada através de imagens. Porém, mesmo com estes registros, várias questões sobre o conflito permanecem controversas. Em Guerra Civil Espanhola, o mais novo título da Série Encyclopaedia, a professora de História Espanhola na Universidade de Londres, Helen Graham, esclarece suas causas e consequências, examinando as cicatrizes que a guerra deixou na vida de centenas de pessoas e na história de toda a Europa.

A Guernica, de Picasso, é a imagem mais marcante da Guerra Civil Espanhola

A Guernica, de Picasso, é a imagem mais marcante da Guerra Civil Espanhola (clique para ampliar)

As mulheres tiveram intensa participação na Guerra Civil Espanhola

As mulheres tiveram intensa participação na Guerra Civil Espanhola

Foto de Robert Capa de 1939 mostra republicanos exilados marcha

Foto de Robert Capa de 1939 mostra republicanos exilados em marcha

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O golpe militar contra a República começou no dia 17 de julho de 1936 entre oficiais do exército colonial sediado no Marrocos, no Norte da África. Um dia depois, a rebelião espalhou-se para a Espanha continental na forma de sublevações de tropas das províncias. O golpe foi ao mesmo tempo um fracasso e um sucesso; fracassou na tentativa de tomar o país inteiro de maneira repentina e certeira, o que, aliás, era a intenção inicial dos rebeldes, mas foi bem-sucedido na paralisação do regime republicano e, fundamentalmente, privou-o dos meios para organizar uma resistência rápida e eficaz. A rebelião destroçou a estrutura de comando do exército, deixando o governo de Madri sem tropas e sem saber em quais oficiais podia confiar. O colapso simultâneo da polícia completou o quadro de graves problemas, criando um vácuo de autoridade na maioria das áreas republicanas que não teve paralelo na zona rebelde, onde os militares assumiram o controle desde o princípio. (Trecho de Guerra Civil Espanhola, de Helen Graham)

Como diria Humphrey Bogart…

Por Ivan Pinheiro Machado

Sempre teremos Paris – 1

Tanto o maravilhoso livro “Paris: biografia de uma cidade” de Colin Jones (L&PM, 2004), como “Paris: uma história”, da Série Encyclopaedia (Coleção L&PM Pocket) de Yvan Combeau, apontam as origens da cidade de Paris para mais de três séculos A.C. quando a tribo celta Parisii estabeleceu-se nas margens do Sena, próximo ao que hoje conhecemos com Ilê de la Cité. Onde, aliás, está a Polícia Judiciária, local de trabalho do nosso querido Comissário Maigret.  Passou a ser Lutécia, quando o imperador romano Julio César derrotou o gaulês Vercintorix. O nome Paris foi consagrado no século III, sob o Império Romano. Em 451, sofreu o assédio dos bárbaros, chefiados por Átila, que desorganizou a geopolítica da Europa.  Recuperou-se, seguiu sendo uma cidade romana, até que, em 481, Clóvis I assumiu o poder, depois de derrotar o último exército romano. De lá para cá, Paris criou uma mitologia apoiada numa longa e fascinante história. E entre centenas de odisseias, foi palco da Revolução Francesa de 1789. A revolução que mudou o mundo. A partir dela, o ocidente começou a sair das sombras do autoritarismo, do feudalismo e sob as divisas generosas de “liberdade, igualdade e fraternidade” contaminou os continentes com seu humanismo radical. Max Gallo, consagrado escritor e historiador francês escreveu o belo “Revolução Francesa” dividido em dois volumes (“O povo e o rei” e “ Às armas cidadãos!”). Lançado na França em 2006, este livro obteve enorme êxito de público, atingindo o topo das listas dos best-sellers, pois pela primeira vez a história da “Revolução” foi contada com agilidade de uma reportagem e a emoção de um romance. Em setembro, a L&PM  lançou a versão pocket deste extraordinário trabalho de Max Gallo.

Sempre teremos Paris – 2

A mitologia que envolve a cidade vem sendo cuidadosamente aquecida através dos séculos. Nem Henrique IV, protestante, ao assumir o trono de Paris, em 1593, resistiu aos encantos da cidade. Constrangido por motivos políticos em converter-se ao catolicismo, disse a célebre frase: “Paris vaut bien une messe” (Paris vale uma missa). Modernamente, a cidade foi beneficiada por duas leis fundamentais para sua imortalidade. A primeira fez 50 anos, a Lei Malraux de1962 que regula a conservação definitiva dos prédios antigos históricos ou não, fixando vantagens fiscais para a sua restauração. A segunda lei, de 1968, também de André Malraux, no tempo em que foi ministro de De Gaule, prioriza o pagamento do imposto de transmissão de herança – no caso de espólios de grandes artistas ou colecionadores – em obras de arte cedidas em uso fruto ao governo e aos “Museus Franceses”. Graças a esta lei é que existe o Museu Picasso, com centenas de obras do mestre e milhares de doações de telas dos maiores pintores da história para os grandes museus da França. Nesta mesma linha, de cultuar e preservar o seu passado, é uma tradição da cidade registrar com placas nas ruas o endereço de grandes homens ou de grandes feitos, assim como homenagear os seus heróis que “caíram em defesa da França” durante a  segunda Grande Guerra. Veja abaixo alguns exemplos, como o prédio em que Picasso pintou Guernica, uma das obras de arte mais célebres de todos os tempos e que por coincidência serviu também de cenário para uma das obras mais famosas de Balzac, publicadas na Coleção 64 Páginas”: “A obra-prima ignorada”.

 

Sempre teremos Paris – 3

Uma cidade como Paris, com uma história conhecida há bem mais de 2 mil anos, tem muitas e muitas tradições,  lendas e superstições que vão nascendo e se realimentando através do tempo. Há uma (que já registramos neste blog) que é muito recente, não tem 10 anos. A tela de arame que serve de murada na Pont des Arts (uma das pontes sobre o rio Sena, só para pedestres) está abarrotada de cadeados como você pode ver na foto abaixo. A outra foto é da década de 90, que mostra como era a ponte antes. Sabe-se lá de onde veio, mas esta é uma das (poucas) fórmulas do amor eterno; você compra um cadeado, escreve o seu nome e o do seu amor (de preferência dentro de um coração), fecha este cadeado na tela da Pont des Arts em Paris, joga a chave no Sena e… pronto. Este amor será para sempre.

A Pont des Arts hoje, repleta de cadeados

A Pont des Arts no início dos anos 90. À esquerda, Ivan Pinheiro Machado. No centro, Laís Pinheiro Machado. À direita, Eduardo Bueno

Sempre teremos Paris – 4

Talvez o dia 25 de agosto de 1944 seja a segunda maior data da França. Foi neste dia que as brigadas irregulares, as forças da Resistência Francesa, a guarnição França Livre mais as Forças Francesas do Interior, apoiadas pela 4ª. Divisão de Infantaria do Exército dos Estados Unidos, entraram definitivamente em Paris para expulsar as forças nazistas que ainda lá se mantinham. Há muitas histórias que cercam este dia mágico. Uma das mais saborosas está contada no livro de Dan Frank “Minuit – Les aventuriers de l’art moderne (1940-1944)” e revela bem o clima daquele dia. Algumas tropas de combatentes não alinhados tinham se antecipado aos exércitos regulares que invadiram Paris. O escritor Ernest Hemingway e o também escritor André Malraux eram veteranos da Guerra Civil Espanhola, onde tinham lutado nas brigadas internacionais ao lado dos republicanos contra o ditador fascista, o generalíssimo Francisco Franco. Ambos estiveram presentes na tomada de Paris. Esta é a história que encerra o livro:

“Malraux e seus “maquis” encontram Hemingway e seu grupo de “resistentes” armados no dia da libertação. Eles estão bebendo no bar do Hotel Ritz depois de expulsarem os últimos alemães, requisitarem suítes e colocar os “guerrilheiros” para descansar. Neste mesmo momento, o General De Gaule, as forças da França Livre mais os americanos recém cruzavam as fronteiras da cidade. Ambos estão bêbados. Malraux vê Hemingway e exclama:

– Ernest!
Eles não se vêem desde a Guerra da Espanha.
– De onde você vem?
– De longe. Strasburgo… E você?
– Eu estava em Rambouillet – responde Hemingway.
– Você está só?
– Não, eu tenho uma pequena tropa. E mostra três “maquis” que dormem nos sofás do bar.
Malraux sorri e pergunta:
– Quantos homens você comandou nesta guerra?
Hemingway pensa, faz um pequeno cálculo e diz:
– Às vezes dez, às vezes duzentos. E você?
– Eu? O coronel pensa e diz – dois mil homens.
– Pena que não nos encontramos antes, replica Hemingway, se levantando.
Ele boceja, se espreguiça e se volta para o chefe da legendária brigada Alsacia-Lorena:
– Se você estivesse conosco teríamos tomado esta cidadezinha há muito tempo…
– Que cidadezinha? Pergunta Malraux.
– Paris!

Hemingway em 1944

75 anos de Guernica

Há 75 anos, no amplo estúdio da rue des Grands-Augustins em Paris, Picasso pintava sua mais célebre obra, “Guernica”, que seria exibida no pavilhão espanhol da Exposição Universal de Paris de 1937. O quadro é uma violenta explosão de fúria e indignação diante da destruição da cidade basca de Guernica em 26 de abril de 1937 pela aviação nazista que apoiava o general fascista Francisco Franco. A enorme tela de 7,80 metros  x 3,50 metros ainda produz em que o vê um choque devastador. A cena de horror e sofrimento transmitida através de uma grandiosidade monocrômica é um violento libelo contra a guerra e a morte. Mas até chegar ao museu Reina Sofia em Madrid, este quadro rodou muito. Reza a lenda que, inclusive, ele esteve na caçamba de um caminhão completamente atolado na lama nos arredores do pavilhão do Ibirapuera em São Paulo, onde foi a grande estrela da 2ª Bienal de São Paulo em 1953. Na época, o quadro foi cedido pelo MoMA, o Museu de Arte Moderna de Nova York, que era o seu fiel depositário.

A história das andanças de “Guernica” começa em 1939 quando Picasso, convidado por Alfred Barr Jr., o fundador e diretor do MoMA, faz sua primeira grande exposição em Nova York. “Guernica” e mais 300 quadros causaram um verdadeiro rebuliço nos meios culturais novaiorquinos. O sucesso foi enorme e Picasso e Alfred Barr se tornaram grandes amigos a ponto do pintor deixar o grande quadro emprestado para o MoMA “até o dia em que Francisco Franco morresse e fosse restaurada a democracia na Espanha”. Sob estas condições, “Guernica” deveria ser entregue para o museu do Prado que seria sua morada definitiva. Franco morreu em 1973, em junho, coincidentemente 3 meses depois de Pablo Picasso. O processo de redemocratização ainda demorou alguns anos e, depois de muita diplomacia, idas e vindas, com enorme má vontade, o MoMA cumpriu o acordo e devolveu “Guernica” à Espanha. Tão expressivo e tão famoso, o gigantesco painel monocrômico pintado praticamente em preto e branco acabou ganhando seu próprio museu, o Reina Sofia, um anexo do Museu do Prado no centro de Madrid. (Ivan Pinheiro Machado)

Guernica em exposição na Bienal de Arte de São Paulo de 1953. Na foto, Ciccillo Matarazzo, responsável por trazer a obra de Picasso, em destaque ao lado de Juscelino Kubitschek

Picasso é um dos títulos da Série Biografias L&PM.

“Guernica” por Carlos Saura

Guernica é preto, (…) como as manchetes dos jornais da época que dizem ao homem da rua, preto no branco, sua terrível verdade. É preto, cinza e branco como os filmes de atualidades e as fotos do front de Biscaia (…), de trama tão contrastada que ferem o olhar antes mesmo que se tenha identificado a imagem.

A composição, muito plástica, ordenada, harmoniosa, é forte, monumental, como convinha a uma decoração mural numa tal circunstância. É claramente figurativa, violentamente expressiva, com uma intensidade dramática que vai além do fato da atualidade, mostrando o que há nele de universal e de atemporal. A cidade é apenas simbolizada numa arquitetura elementar de fundo de cenário. Nada mostra uma Guernica real. Não se vêem aviões, nem bombas. A única arma é uma espada quebrada, na mão de um homem caído no chão em primeiro plano, de olho ainda aberto. À esquerda, uma mãe segura um filho morto (a julgar pela maneira como sua cabeça cai pra trás), berra de dor diante de um touro majestoso, tranquilo. Do outro lado, o duplo dessa mãe ergue os braços ao céu. Diante dela, uma terceira mulher, parcialmente ajoelhada, de rosto menos atormentado, estende-se em direção à dupla luz de uma lâmpada elétrica no teto e de uma lamparina nas mãos de uma quarta figura feminina, da qual somente aparece a cabeça, enorme. No centro, um cavalo parte em direção ao fundo do quadro e se volta, relinchando. Muitos serão os que tentarão decifrar esse conjunto de sinais, como se cada um devesse receber uma significação precisa; mas Picasso se contentará sempre em dizer que o cavalo é um cavalo, o touro é um touro, e que a força e a riqueza dos símbolos é que se pode interpretá-los amplamente.

O texto acima é uma releitura da Guernica, de Pablo Picasso, feita pelo biógrafo Gilles Plazy para a Série Biografias. Um dos quadros mais célebres do pintor espanhol também já ganhou diversas versões em murais e telas mundo afora e até em 3D. E agora chegou a vez do cinema se apropriar de uma das obras mais emblemáticas da história ocidental moderna.

Carlos Saura (o mesmo diretor de “Carmen” e “Tango”) está preparando um longa de ficção chamado “33 dias”, em referência ao tempo que Picasso levou para pintar a Guernica. Em entrevista ao jornal O Globo, o diretor disse que pretende “mostrar como o governo espanhol, em plena Guerra Civil, encomendou a Picasso um quadro de 8 m x 4 m para o pavilhão da Espanha na Feira Internacional de Paris, em 1937, para o qual colaboraram artistas como Miró, Dalí, Calder, Henry Moore e Luis Buñuel”. Em abril daquele mesmo ano, a cidade de Guernica, na Espanha, foi bombardeada por aviões italianos e alemães. Aquele foi um ensaio para os extermínios de civis realizados ao longo da Segunda Guerra Mundial e a fonte maior de “inspiração” para Picasso.

Saura quer retratar também aspectos da vida afetiva de Picasso que, segundo ele, se confundem com o processo de criação da Guernica. Dora Maar, pintora e fotógrafa francesa, amante de Picasso, registrou dia a dia a evolução do quadro. “As fotos feitas por Dora estão no Reina Sofía, assim como os esboços usados por Picasso para fazer uma pintura que pode ser encarada como um dos testemunhos mais impressionantes da inutilidade da guerra”, diz.

Saura ainda não definiu quem será o ator que interpretará Picasso no filme e, por enquanto, se ocupa com a escolha das locações na Espanha e em Paris. O filme “33 dias” ainda não tem data de estreia, mas é certo que sai em 2012, ano em que o diretor espanhol completa 80 anos de vida e 55 anos de carreira.

Muerto cayó Federico

Em 19 de agosto de 1936, em pleno verão andaluz, o poeta Federico Garcia Lorca, que afrontava as normas do regime com sua poesia, foi friamente assassinado pelo exército nacionalista. Sem julgamento ou misericórdia, deram-lhe um tiro de fuzil na nuca e se livraram de seu corpo num lugar qualquer da província de Granada.

A morte de Lorca foi um soco no estômago de poetas e artistas de todo o mundo, que reagiram à triste notícia usando o que tinham de melhor para expressar sua tristeza: a arte. No ano seguinte ao assassinado de Lorca, Picasso fez um de seus quadros mais famosos, a Guernica. Ao ser questionado por um oficial alemão se ele teria pintado o quadro, Picasso respondeu: “não, os senhores é que o fizeram”.

Profundamente abalado com a barbárie da Guerra Civil Espanhola e tocado pela morte do amigo, Pablo Neruda escreveu os poemas reunidos no livro Terceira residência, um verdadeiro libelo contra a guerra com versos sobre política e liberdade.

No Brasil, Lorca foi homenageado por Vinicius de Moraes, que compôs o belíssimo poema “A morte de madrugada”. A seguir, os versos de Vinicius na voz do ator português Mario Viégas e abaixo, a última estrofe do poema:

Atiraram-lhe na cara
Os vendilhões de sua pátria
Nos seus olhos andaluzes
Em sua boca de palavras.
Muerto cayó Federico
Sobre a terra de Granada
La tierra del inocente
No la tierra del culpable.
Nos olhos que tinha abertos
Numa infinita mirada
Em meio a flores de sangue
A expressão se conservava
Como a segredar-me: – A morte
É simples, de madrugada…

Parte da obra poética de Federico Garcia Lorca está no livro Antologia Poética – Garcia Lorca, da Coleção L&PM Pocket.

Picasso, o imortal

Picasso se achava imortal. E não era para menos. Morreu numa madrugada quente em seu castelo de Notre Damme de La Vie, na Cote d’Azur em 8 de abril de 1973, depois de trabalhar a noite inteira. Tinha 92 anos. Faria 93 exatamente no dia 25 de outubro, quando nasceu no longínquo ano de 1881 em Málaga na Espanha.

Na verdade, ele tinha razão. Pablo Diego José Francisco de Paula Juan Nepomuceno María de los Remedios Cipriano de la Santísima Trinidad Ruiz y Picasso, dito Pablo Ruiz Picasso, é imortal.

Numa época em que as pessoas acordam célebres e dormem anônimas tal é a ferocidade da máquina de moer da mídia, Picasso conseguiu a proeza de ser uma celebridade internacional absoluta durante 60 anos, enquanto viveu, e uma lenda depois de sua morte. Nenhum pintor pintou tanto (cerca de 40 mil obras entre desenhos, litografias, esculturas, cerâmicas, telas, aquarelas e móbiles) e nenhum pintor teve um influência tão imensa e decisiva sobre a história da arte. O cubismo, criado por ele em 1907, é o marco fundador da arte contemporânea e completa a revolução iniciada pelo impressionismo no final do século XIX. Anarquista, comunista, depois liberal, Picasso deixou atrás de si quilômetros de lendas. Combateu o franquismo, resistiu ao nazismo em Paris, pintou Guernica (que junto com a Monalisa e a Santa Ceia, ambas de Da Vinci são as obras de arte mais famosas da história) e atravessou o século se renovando, inventando, indo sempre além das convenções, surpreendendo, subvertendo. O século XX foi o século de Picasso. E o século XXI segue a reverenciá-lo. (Ivan Pinheiro Machado)

A L&PM publica “Picassona série Biografias.

Há 129 anos, nascia o imortal Picasso

Picasso achava-se imortal. E não era para menos. Morreu numa madrugada quente em seu castelo de Notre Dame de La Vie na Cote d’Azur, em 8 de abril de 1973, depois de trabalhar a noite inteira. Tinha 92 anos. Faria 93 exatamente em 25 de outubro, dia em que nasceu no longínquo ano de 1881 em Málaga na Espanha. Na verdade, ele tinha razão. Pablo Diego José Francisco de Paula Juan Nepomuceno María de los Remedios Cipriano de la Santísima Trinidad Ruiz y Picasso, dito Pablo Ruiz Picasso, é imortal. Numa época em que as pessoas acordam célebres e dormem anônimas tal é a ferocidade da máquina de moer da mídia, Picasso conseguiu a proeza de ser uma celebridade internacional absoluta durante 60 anos, enquanto viveu, e uma lenda depois de sua morte. Nenhum artista produziu tanto (cerca de 40 mil obras entre desenhos, litografias, esculturas, cerâmicas, telas, aquarelas e móbiles) e nenhum pintor teve uma influência tão imensa e decisiva sobre a história da arte. O cubismo, criado por ele em 1907, é o marco fundador da arte contemporânea e completa a revolução iniciada pelo impressionismo no final do século XIX. Anarquista, comunista, depois liberal, Picasso deixou atrás de si quilômetros de lendas. Combateu o franquismo, resistiu ao nazismo em Paris, pintou Guernica (que junto com a Monalisa e a Santa Ceia, ambas de Da Vinci são as obras de arte mais famosas da história) e atravessou o século se renovando, inventando, indo sempre além das convenções, surpreendendo, subvertendo. O século XX foi o século de Picasso. E o século XXI segue a reverenciá-lo. (IPM)

 

A L&PM publica “Picasso“, de Gilles Plazy, na Série Biografias.