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Verbete de hoje: Clifford McBride

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, este Blog publicará, nos domingos, um verbete deste livro. O de hoje é  o norte-americano Clifford McBride (1902-1959).

Em 1929, Clifford McBride desenhava uma série de publicação irregular, onde o personagem principal era um tipo simpático, de meia-idade, chamado Uncle Elby. O autor resolveu colocar um cachorro na história, Napoleon, e foi o que bastou para alcançar sucesso. Grande, meio desengonçado, Napoleon conquistou os leitores e transformou o trabalho de McBride numa das melhores man-dog strip. Os mais relembrados momentos da série (páginas dominicais, já que as tiras diárias eram dedicadas ao humor) apresentaram Napoleon e Uncle Elby acompanhando um marujo muito pitoresco chamado Singapore Sam. Mesmo antes da morte do criador, Napoleon e Uncle Elby já tinham ganhado várias reedições em formato de livros e álbuns.

Quem dá mais por um gibi?

O californiano Michael Rorrer, de 31 anos, bisbilhotava no porão da casa da sua falecida tia-avó quando deparou com uma grande caixa. Ao abri-la, encontrou nada menos do que 345 antigas HQ que pertenceram ao seu tio. Bem guardadas e bem conservadas, ali estavam raridades como as edições de estreia do Superman e do Batman. Rorrer logo percebeu que tinha algo valioso nas mãos. Só não sabia que o valor era tão alto.

Das revistas encontradas, 44 estavam entre as 100 principais da Era do Ouro dos quadrinhos americanos, que durou de 1938 ao início da década de 1950. O segundo número do Capitão América, em que ele enfrenta Hitler, também fazia parte do acervo. Estimada inicialmente em 2 milhões de dólares (R$ 3,4 milhões), a coleção foi arrematada nesta quarta-feira, 22 de fevereiro, por 3,5 milhões de dólares (R$ 6 milhões) numa casa de leilões de Nova York. O lance mais alto foi para a HQ número 1 do Batman, a Detective Comics 27, que rendeu um total de 523 mil dólares (R$ 893 mil).

E pensar que, originalmente, elas custavam apenas 10 cents…

Quem dá mais? A estreia do Batman na “Detective Comics” saiu por US$ 523 mil

O gibi da "Action Comics" com a primeira aparição do Super-Homem, de 1938, foi vendido por US$ 299 mil.

“Capitão América” contra os nazistas foi comprada por cerca de US$ 114 mil

Quem gosta de gibis, Graphic Novels e toda a espécie de HQ (raras ou não), tem que ler a Enciclopédia dos Quadrinhos. Aliás, Goida e André Kleinert, os autores, devem estar sonhando com uma caixa como a de Michael Rorrer.

Verbete de hoje: André Le Blanc

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, o Blog L&PM publicará, nos domingos, um verbete do livro. O de hoje é  André Le Blanc (1921-1998)

Antes de chegar ao Brasil (final da década de 40), André Le Blanc trabalhou em Nova York, ajudando Will Eisner nas páginas dominicais das histórias do The Spirit. Instalando-se no nosso país, Le Blanc deu um novo alento aos quadrinhos com o seu estilo perfeito, realista e detalhado, tanto em preto e branco como em aguada, sua técnica preferida. Foi Le Blanc que inaugurou na revista Edição Maravilhosa (Clássicos Ilustrados) a adaptação de obras brasileiras, com O Guarani, de José de Alencar. Uma quadrinização tão bela, dinâmica e limpa que mereceu várias reedições, considerando-se até hoje um dos clássicos dos quadrinhos produzidos por aqui. O Guarani abriu caminho para um rico filão, com o aproveitamento de outros artistas nacionais. Le Blac, entretanto, continuou como o melhor de todos eles, transpondo para a narrativa gráfica as obras Iracema, O tronco do ipê e Ubirajara. E igualmente quase todos os romances de José Lins do Rego (Cangaceiros, Menino do engenho, Doidinho, Banguê, Moleque Ricardo). Também obras avulsas de outros autores (Sinhá Moça, de Maria Dezonne Pacheco Fernandes; Amazônia misteriosa, de Gastão Cruls; Siá menina, de Emi Bulhões Carvalho da Fonseca; A muralha, de Dinah Silveira de Queiroz; e Cascalho, de Herberto Salles). André Le Blanc ainda desenhou uma tira diária para os jornais da época, Morena Flor, antes de estabelecer-se para sempre nos Estados Unidos. Lá se dedicou por completo à ilustração, mas ainda arranjou tempo para desenhar em quadrinhos The Picture Bible for All Ages, para David C. Cook Publishng Co. (mais de 800 páginas), publicada no Brasil, em 1975, pela Editora Betânia de Belo Horizonte. André Le Blanc, por algum tempo, foi também assistente de Sy Barry, desenhando as tiras diárias do Fantasma, mas sem assinatura.

Iracema desenhada por André Le Blanc

Verbete de hoje: Steve Dowling

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, o Blog L&PM publicará, nos domingos, um verbete do livro. O de hoje é  o inglês Steve Dowling (1904-1981)

Em 24 de julho de 1943, no Daily Mirror londrino, iniciava-se a publicação de Garth, uma tira diária de aventuras que se transformou na mais famosa e duradora produzida na Inglaterra nos últimos setenta anos. Seu desenhista era Stephen P. Dowling, que desde 1931 trabalhava para o Daily Mirror, junto com seu irmão Frank. Já tinha feito tiras de humor, como Tich e Ruggles. Com Garth, Steve Dowling conquistou por completo os leitores. O personagem, um homem loiro de grande força física, acompanhado quase sempre por um sábio franzino, chamado Lumière, vivia as suas aventuras em mundos que variavam do real (Oriente, Egito) até o sobrenatural. Com o passar do tempo, Garth foi adquirindo poderes de viajar tanto ao passado quanto ao futuro. A história foi continuada, depois da aposentadoria de Dowling, por John Allard, Frank Bellamy e, mais recentemente, Martin Ashbury.

O mais famoso personagem de Dowling em uma edição comemorativa do The Daily Mirror

Dia do Quadrinho Nacional

Em 1984, a Associação dos Quadrinhistas e Cartunistas de São Paulo elegeu o dia 30 de janeiro como o Dia do Quadrinho Nacional. A data não foi escolhida por acaso. Ela marca a publicação da primeira história em quadrinhos publicada no Brasil, desenhada pelo ítalo/italiano Angelo Agostini*.

Para muitos pesquisadores, este artista italiano, radicado no Brasil desde 1861, foi o criador do que se poderia chamar de os primeiros “quadrinhos” brasileiros. Em 1869, na revista Vida Fluminense, foram desenhados os primeiros capítulos de As aventuras de Nhô-Quim. Essas histórias, de longa duração, lembravam o padrão europeu da “narrativa figurada”, sem balões e com textos ao pé de cada quadrinho. A data inicial da publicação de Nhô-Quim, 30 de janeiro, é hoje comemorada como o Dia do Quadrinho Nacional, e “Angelo Agostini” passou a ser o nome de um troféu concedido anualmente aos destaques das HQs.  (…) (Enciclopédia dos Quadrinhos, de Goida e André Kleinert, verbete “Angelo Agostini” p. 23)

Para comemorar esta data, há encontros agendados para hoje, ambos de graça:

– Em Porto Alegre, às 19h30min na Livraria Saraiva do Praia de Belas Shopping, os desenhistas Edgar Vasques Iotti, acompanhados de André Kleinert, o co-autor de A Enciclopédia dos Quadrinhos, conversam sobre HQs com o público.

– No Rio de Janeiro, das 18h às 20h30min, haverá um bate-papo com Mestre Shima (Julio Shimamoto) na sede carioca da Escola/Estúdio de quadrinhos que fica na Rua General Polidoro, 10 em Botafogo. Como às vagas são limitadas, é bom telefonar antes: (21) 2471.9547

* É possível conhecer um pouco mais do trabalho de Angelo Agostini ao visitar a Casa de Cultura Laura Alvim no Rio de Janeiro. Laura era neta de Agostini que, além de cartunista, também era pintor e desenhista. Alguns de seus trabalhos estão em exposição permanente no terceiro andar da Casa de Cultura que fica  na Av. Vieira Souto 176 em Ipanema

Verbete de hoje: Joseph Pinchon

 

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, o Blog L&PM publicará, nos domingos, um verbete do livro. O de hoje é  o francês Joseph Pinchon (1871-1953)

O ilustrador Joseph-Porphyre Pinchon entrou para a História dos quadrinhos franceses quando, em fevereiro de 1905, desenhou para a revista La Semaine de Suzette a primeira página de uma personagem chamada Bécassine. Não era ainda uma história em quadrinhos, mas narrativa figurada, com textos ao pé de cada imagem e sem as separações convencionais dos comics. Bécassine, uma jovem bretã, empregada doméstica em Paris, ingênua e servil, alcançou inesperado sucesso. Por muitos e muitos anos, Pinchon continuou desenhando a série, que a partir de 1913 ganhou roteiros de Maurice Languereau, com o pseudônimo de Caumery. “Bécassine” representou para os quadrinhos franceses o que The Yellow Kid (veja em Outcault, Richard) trouxe para a nascente indústria dos comics norte-americanos, em 1895. Sem dúvida, uma obra pioneira, que eclipsou os outros trabalhos que Pinchon ilustrou até 1950. Ainda hoje circulam vários álbuns com seleções das melhores páginas de Bécassine, alegrando novas gerações marcadas por super-heróis e a comunicação televisionada.

Bécassine em ação em uma página assinada por Pinchon

Verbete de hoje: Carlos Zéfiro

 

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, o Blog L&PM publicará, nos domingos, um verbete do livro. O de hoje é  o brasileiro Carlos Zéfiro (1921-1992)

Quando terminamos a redação da primeira Enciclopédia dos Quadrinhos (agosto de 1990), ninguém conhecia a verdadeira identidade desse famoso quadrinista, que sempre se assinou como “Carlos Zéfiro”. Dois livros, inclusive, já tinham sido publicados com histórias e muitos textos sobre a obra desse nosso pornógrafo oficial: A arte sacana de Carlos Zéfiro (Editora Marco Zero, 1983), com organização de Joaquim Marinho e textos de Roberto da Matta, Sergio Augusto e Domingos Demasi, e O quadrinho erótico de Carlos Zéfiro (Record, 1984), de Otacílio d’Assunção (Ota). Quem descobriu a verdadeira identidade de Zéfiro foi o jornalista Juca Kfouri em uma extensa matéria publicada na Playboy nacional, em novembro de 1991. Tratava‑se de um ex-funcionário público (do Serviço de Imigração do Ministério do Trabalho), Alcides Aguiar Caminha, que na ocasião já completara 70 anos. Caminha sempre recusou identificar‑se como Zéfiro porque poderia não só perder seu emprego, como também o direito à aposentadoria. Em julho de 1992, Caminha recebeu uma suprema homenagem: o troféu HQ Mix. Dois dias depois faleceu, vítima de um derrame. As histórias que Caminha desenhou – mais de 600, em geral com 32 páginas, em formato 1/4 de papel ofício – eram vendidas clandestinamente em bancas de jornais e revistas e se chamavam “catecismos”. O editor era um livreiro, Hélio Brandão, que ousava imprimir e distribuir os “catecismos”. Dizem que algumas edições chegaram até a Argentina, com sucesso de vendas. O estilo de Caminha era fraco, mas muito erótico e sensual para a época (anos 50 e 60), já que praticamente não havia nada nas bancas com “as artes” do Carlos Zéfiro. Paralelamente as suas atividades em HQ, Caminha foi também compositor, parceiro de Nelson Cavaquinho. Em 1991, saiu mais um livro organizado por Joaquim Marinho, Os alunos sacanas de Carlos Zéfiro (Editora Marco Zero), com textos de Regina Echeverria e Maria José Silveira.

 

Verbete de hoje: Alex Varenne

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, o Blog L&PM publicará, nos domingos, um verbete do livro. O de hoje é  o francês Alex Varenne (1939)

A rigor, Alex Varenne sempre deve ser associado à figura de seu irmão, Daniel (nascido em 1937). O primeiro é ilustrador, o segundo, óbvio, roteirista. Juntos, os Varenne, segundo um crítico francês, “vêm fazendo nos quadrinhos o que Balzac fez com sua Comédia humana”. Divulgadíssimos fora da França, quer pelo estilo gráfico de grande originalidade utilizado por Alex e as narrativas cínico-eróticas de Daniel, os álbuns e as histórias dos Varenne estão até no Brasil. Os primeiros trabalhos deles foram publicados nas páginas de Charlie (1979), no ciclo Ardeur. Mais tarde se transferindo para o L’Echo des Savanes, os Varenne criaram a série “Carré Noir Sur Dames Blanches”. Mais tarde, para a mesma revista, vieram as aventuras (noturnas e eróticas) de Erma Jaguar, onde, em certo momento, participava uma figura muito parecida com a “deputada” Cicciolina. Alex é um ilustrador notável. Seus desenhos, impressos em preto e branco, quando recebem tratamento de cor, ganham nuances plásticas da melhor categoria. No Brasil, depois de algumas histórias avulsas publicadas pela Circo, os trabalhos dos Varenne foram para a coleção “Opera Erótica” da Martins Fontes, em álbuns de luxo: A visita, Mulheres de sonhos em quadros sonhados, Corpo a corpo e Erma Jaguar. A personagem que ganhou maior continuação foi a de Erma Jaguar, publicada na Argentina pela revista Super Sex. Nessa mesma publicação, saiu a série “Velada de Escombros”, material inédito em Portugal e no Brasil.

No final de fevereiro, a L&PM publicará "Erma Jaguar" álbum com todas as histórias da personagem de Alex Varenne

Verbete de hoje: Hayao Miyazaki

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, o Blog L&PM publicará, nos domingos, um verbete do livro. O de hoje é  o japonês Hayao Miyazaki (1941)

O grande público brasileiro conhecia Hayao Miyazaki pelos desenhos animados de longa-metragem A viagem de Chihiro (Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2003) e O castelo animado. Antes desses, ele já havia trabalhado em Heidi, Dos Apeninos aos Andes, Ana dos cabelos ruivos e Conan – O garoto do futuro, onde debutou como diretor, Lupin III e Sherlock Holmes. Paralela a essa carreira, cultivou o mangá, a partir de 1969, com O povo do deserto e O gato de botas. Sua consagração nas HQs veio com Nausicäa, que foi publicada pela Conrad (em sete volumes). A ação se passa num futuro distante, mil anos depois de um cataclismo chamado Sete Dias de Fogo. O desenhista francês Jean Giraud (veja em G) afirmou que Nausicäa é o seu mangá preferido.

O Sherlock Holmes de Hayao Miyazaki

Verbete de hoje: Dave McKean

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, o Blog L&PM publicará, nos domingos, um verbete do livro. O de hoje é  o britânico Dave McKean (1963)

O estilo gráfico de Dave McKean é composto por uma instigante combinação de técnicas de desenho, pintura, fotografia e colagem. Sua estreia deu-se em edição da série “Mister X”. Logo depois, fez parceria com o escritor Neil Gaiman na graphic novel Violent Cases (1987). Gaiman foi seu colaborador mais constante, tanto em HQs (Orquídea negra, Sinal e Ruído, Mr. Punch, Hellblazer) como em livros ilustrados (Coraline, Os lobos dentro das paredes, O dia em que troquei meu pai por dois peixinhos vermelhos, The Graveyard Book). O trabalho mais notório de McKean foi o conjunto de capas que elaborou para as 75 edições de Sandman (DC), a grande obra-prima de Gaiman, e também de edições especiais relacionadas à série (Orpheus, Noites sem fim, Tudo o que você sempre quis saber sobre sonhos… mas tinha medo de perguntar). As capas de McKean para Sandman foram reunidas na coletânea “Capas na Areia” (1997). Ainda como capista, assinou as primeiras 21 edições do título Hellblazer (Vertigo). Outro grande momento de McKean ocorreu em Asilo Arkham (DC, 1989), álbum escrito por Grant Morrison. Notabilizou‑se também por HQs próprias de caráter autoral e experimental, como Cages (Kitchen Sink Press, 1990-1996) e Pictures That Tick (2001). Parte do material acima descrito recebeu lançamento no Brasil pelas editoras Globo, Abril, Opera Graphica, Metal Pesado, Conrad, Brainstore, HQManiacs e Panini. Em 2005, foi lançado nos cinemas Máscara da ilusão, obra dirigida por McKean e roteirizada por Neil Gaiman.