Arquivo da tag: Eduardo Bueno

Meio século da morte de um beat hippie

NEAL CASSADY CERVEJA E CIGARRO

Há 50 anos, em 4 de fevereiro de 1968, morria Neal Cassady. Escritor que, em 1947, acompanhou Jack Kerouac em sua viagem estrada aforaAbaixo, um texto homenagem a Neal escrito por Eduardo Bueno, tradutor de On the Roadpublicado originalmente no jornal Zero Hora em 2 de fevereiro:

Clique para ampliar.

Clique para ampliar.

O dia do marinheiro na literatura

13 de dezembro é, desde 1925, o Dia do Marinheiro no Brasil. A data foi escolhida por marcar o nascimento do Almirante Joaquim Marques Lisboa, o Marquês de Tamandaré, Patrono da Marinha no Brasil. Em homenagem aos homens do mar, aqui vão alguns trechos de livros que falam de marinheiros, comandantes e capitães – reais ou ficcionais – que enfrentaram tempestades, correntezas, marés e calmarias para viver aventuras que os colocaram na “crista da onda” da história e da literatura.

E o que poderia Billy saber sobre o homem, a não ser sobre o homem como um mero marinheiro? E o marinheiro à moda antiga, o verdadeiro lobo-do-mar, o marujo que navega desde a infância, embora seja da mesma espécie do homem da terra, em alguns aspectos é singularmente distinto dele. O marinheiro é a franqueza, o homem da terra é a esperteza. A vida para o marinheiro não é um jogo que exija astúcia; não é um complicado jogo de xadrez em que poucos movimentos são francos e cujos fins são obtidos indiretamente (…)BILLY BUDD, MARINHEIRO, Herman Melville

Três janelas altas davam para o porto. Nelas não se via nada além do cintilante mar azul-escuro e de um luminoso azul pálido no céu. Meus olhos captaram, na profundidade e nas distâncias das tonalidades azuis, o ponto branco de algum grande navio recém-chegado prestes a fundear no ancoradouro. Um navio de casa – depois de uns noventa dias no mar. Existe algo de comovente em um navio que chega do mar e fecha as asas em repouso. A LINHA DE SOMBRA, Joseph Conrad

Ele obedeceu com rapidez, e me vi sozinho no convés do Ghost. Do modo mais silencioso possível, recolhi as velas de joanete, baixei a giba e a vela de estai, puxei a bujarrona para trás e retesei a vela mestra. Então desci para encontrar Maud. Pus um dedo sobre seus lábios pedindo silêncio, e entrei no quarto de Wolf Larsen. Ele estava na mesma posição em que eu o havia deixado, e sua cabeça se balançava – quase em convulsão – de um lado para outro. O LOBO DO MAR, Jack London

O cheiro de alcatrão e sal era novo para mim. Eu via as figuras de proa mais maravilhosas, que tinham estado em oceanos muito distantes. E via, além disso, muitos marinheiros velhos, com argolas nas orelhas e barbas que se enrolavam em cachos, e tranças alcatradas, e sua maneira desajeitada e balouçante de caminhar, como se ainda estivessem no mar. Ora, se eu tivesse visto o mesmo número de reis ou arcebispos, não teria ficado mais encantado! A ILHA DO TESOURO, Robert Louis Stevenson

“No decorrer da nossa expedição, desembarcamos em inúmeras ilhas e nelas vendemos ou trocamos mercadorias. Um dia em que estávamos navegando, o mar calmo nos colocou frente a frente com uma pequena ilha, tão verde como uma campina, quase no nível da água. O capitão fez baixar as velas e permitiu que desembarcassem aqueles que quisessem. Eu estava entre os que desceram. Nos divertíamos bebendo e comendo e descansávamos das fadigas do mar, quando, de repente, a ilha tremeu, sacudindo-nos rudemente…” AS AVENTURAS DE SIMBAD O MARUJO, Histórias das 1001 Noites

Foi como uma miragem bailando sobre as águas salgadas. Após uma sequência infindável de dias iguais, o horizonte já não era uma linha longínqua e vazia. No último ponto que os olhos podiam vislumbrar, surgiam, agora, estranhas silhuetas. Pareciam montanhas flutuantes singrando o oceano. Os homens acotovelavam-se à beira mar, com os olhos postos de encontro ao céu matinal para vislumbrar a mais espantosa novidade de suas vidas. Que tipo de canoas seriam aquelas, que pareciam ter asas tão brancas e tão amplas e que avançavam junto com o sol? BRASIL: TERRA À VISTA!, Eduardo Bueno

Capa_mar_irmao_LPM.inddNo convés superior, grupos de quietos marinheiros mantinham-se ao lado de seus botes, um conjunto grotesco em salva-vidas, macacões, quepes de cozinheiro, aventais, quepes de lubrificador, quepes de proa, calças cáqui e dezenas de outras combinações variadas de vestimentas. Bill correu até seu próprio bote salva-vidas e parou ao lado de um grupo. Ninguém falava. O vento uivava na chaminé fumacenta, vibrava ao longo do convés, agitando a roupa dos marinheiros e corria por sobre a popa e ao longo do rastro verde e brilhante do navio. O oceano suspirava uma quietude suavizadora e sonolenta, um som que trespassava todos os cantos (…) O MAR É MEU IRMÃO & Outros escritos, Jack Kerouac

Flávio Tavares, Pedro Bial, Eduardo Bueno e Che Guevara

Todos eles estiveram juntos no “Conversa com Bial” que foi ao ar no dia 22 de novembro. Vale a pena assistir a entrevista sobre o livro “As três mortes de Che Guevara”, de Flávio Tavares. Em outubro deste ano completou-se 50 anos da morte de Che:

Walden, o jogo

Em julho de 1845, desgostoso com o crescente comercialismo e industrialismo da sociedade americana, Henry David Thoreau deixou Concord, Massachusetts, sua cidade natal, para instalar-se à beira do Lago Walden. Essa experiência deu origem ao seu livro mais famoso. Publicado primeiramente em 1854 com o título Walden ou A vida nos bosques, é o relato de dois anos, dois meses e dois dias em que o autor viveu apartado da sociedade dos homens, suprindo as próprias necessidades, estudando, contemplando a natureza e conhecendo-se a si mesmo.

Pois eis que agora a obra mais famosa de Thoreau virou um game. Calma, nada a ver com aqueles jogos eletrônicos em que você tem que correr, pular, caçar e essas coisas enervantes que alguns. Como escreveu o colunista da Folha de S. Paulo, João Pereira Coutinho, em uma matéria publicada no Caderno Ilustrada da Folha, “Um jogo é competitivo, Walden é contemplativo. Thoreau iria gostar.”

Coutinho contou que baixou o jogo com o pé atrás, mas foi surpreendido:

“Quando soube da bizarria, ri alto: como transformar as meditações solitárias de Thoreau em videogame? (…) A desconfiança foi recuando quando soube que o jogo era patrocinado pela National Endowment for the Humanities, instituição que tudo tem feito para ressuscitar, com a dignidade inerente, a obra completa do autor. Comprei o jogo e iniciei a experiência” porque somos convidados a ser Thoreau, a ver o mundo pelos seus olhos, a tocar nos objetos com as suas mãos. (…) Então aceitei ser Thoreau. Caminhei pelo bosque. Fui recolhendo objetos, contemplando as árvores e reconhecendo a cabana incompleta que esperava por mim.”

WALDEN, A GAME custa U$ 18,45 (R$ 58). O download pode ser feito em www.waldengame.com e ele roda em PC e Macintosh.

Para sentir este clima, que tal dar uma olhada no trailer:

A L&PM publica Walden com apresentação de Eduardo Bueno e tradução de Denise Bottmann.

A história do Brasil que não vai cair no Enem

Você curte história do Brasil? Então não pode deixar de assistir ao primeiro episódio da série Não vai cair no Enem, apresentada pelo escritor Eduardo Bueno (que, além de autor da casa, já foi editor aqui da L&PM e tradutor de várias obras que publicamos, em especial On The Road).

A partir de hoje, toda quarta-feira, um novo vídeo da série irá ao ar pelo canal Buenas Ideias, do YouTube, onde Eduardo contará, de forma descontraída, algo sobre momentos marcantes dos nossos primórdios.

O vídeo de estreia tem como tema o descobrimento do Brasil e se baseia em dois livros que estão na coleção L&PM Pocket: Brasil: terra à vista A carta de Pero Vaz de Caminha.

Vale assistir:

Quando todo dia era dia de índio

Calcula-se que eles eram cerca de quatro milhões, espalhados pela Terra Brasilis. Hoje, segundo o site da FUNAI, não passam de 460 mil. Os índios das Américas – assim chamados porque, em um primeiro momento, Colombo acreditou ter chegado às Índias – ganharam um dia só para eles em 19 de abril de 1940, durante o Primeiro Congresso Indigenista Interamericano realizado na cidade de Patzcuaro no México.

No Brasil, o 19 de abril só virou Dia do Índio três anos depois, quando Getúlio Vargas colocou a data no calendário oficial do país. Para marcar o dia, separamos alguns trechos de livros que trazem o índio como personagem principal ou como tema central. Vale a pena ler e descobrir uma época em que, como diria Baby do Brasil (ex Baby Consuelo), “todo dia era dia de índio”.

Com as cores do amanhecer tingindo a cena de dourado, os seis ou sete homens  que estavam na praia juntaram seus arcos e flechas e se prepararam para um encontro com os desconhecidos. De onde viriam os recém-chegados? De alguma ilha ou de alguma terra além-mar? Vinham provavelmente da Terra Sem Males, julgaram os mais experientes: o lugar onde todos eram felizes e ninguém morria, e que ficava para lá da imensidão das águas salgadas (Brasil: Terra à Vista! , de Eduardo Bueno)

Nesse mesmo instante, dois segundos talvez depois que a última flecha caíra no aposento, a folhagem do óleo que ficava fronteiro à janela de Cecília agitou-se e um vulto embalançando-se sobre o abismo, suspenso por um frágil galho de árvore, veio cair sobre o peitoril. Aí agarrando-se à ombreira saltou dentro do aposento com uma agilidade extraordinária; a luz dando em cheio sobre ele desenhou o seu corpo flexível e as suas formas esbeltas. Era Peri. (O Guarani, de José de Alencar)

Toda essa gente é guerreira e possui tanta astúcia para proteger-se de seus inimigos como se fossem criados na Itália e em contínua guerra. Quando estão em guerra costumam assentar suas casas nas encostas dos morros, fazendo cavernas nestes, que é onde costumam dormir. As mulheres e as crianças são levadas par as partes mais altas, através de estreitas trilhas que abrem. Os homens andam com o corpo totalmente pintado, como forma de camuflagem. (Naufrágios & Comentários, de Álvaro Núñes Cabeza de Vaca)

Certa vez, os índios vinham ao nosso encontro para nos receber, à distância de dez léguas de uma grande vila, com víveres e viandas delicadas e toda espécie de outras demonstrações de carinho. E tendo chegado ao lugar, deram-nos grande quantidade de peixe, de pão e de outras viandas, assim como tudo quanto puderam dar. Mas es incontinenti que o Diabo se apoderara dos espanhóis e que passam a fio de espada, na minha presença e sem causa alguma… (O paraíso destruído, de Frei Bartolomé de Las Casas)

Devíamos tomar cuidados especiais com os Tupinambás duas vezes por ano, quando entravam com violência nas terras dos Tupiniquins. Uma dessas épocas é novembro, quando o milho, que eles chamam de abati, fica maduro, e com o qual preparam uma bebida que chamam de cauim. Para tanto também usam raízes de mandioca, de que empregam um pouco na mistura. (Duas viagens ao Brasil, de Hans Staden)

Capa_menino_levado_ceu.indd

Do céu a banda de dentro, / o menininho mostra a Terra, / e de dentro desse céu ele descobre / que a terra dos caxinauás não é grande / e que os rios também não são largos. / Por exemplo, diz ele, apontando para baixo, / aquele rio ali é só uma sucuri gigante / estendida no meio da relva! / E da Terra, quer dizer, do céu da Terra, / quer dizer, do céu aqui onde estou, / os narizes também não são assim tão grandes, / nem o meu corpo tão doente quanto era, / porque do céu da banda de dentro / tudo fica muito bonito, lindo de morrer, / e sabe disso até quem morre, / diz o menino levado ao céu pela andorinha. (O menino levado ao céu pela andorinha – Poemas e cantos indígenas, seleção e tradução de Sérgio Capparelli) 

20 anos sem o Blá, Blá, Blá dos Mamonas Assassinas

Foi um acidente aéreo que pôs fim à meteórica carreira do grupo Mamonas Assassinas. O primeiro álbum da banda vendeu incríveis 2 milhões de cópias e se tornou o maior fenômeno comercial da história da indústria fonográfica brasileira até então. Na noite do dia 2 de março de 1996, quando retornavam de um dos shows da turnê que correu o Brasil, o jatinho da banda se chocou contra a Serra da Cantareira, há poucos minutos do pouso em Guarulhos. Os cinco integrantes, os dois empresários, o piloto e o co-piloto do avião morreram na hora. De forma trágica e inesperada, chegava ao fim a história dos Mamonas Assassinas.

Menos de três meses depois do acidente que comoveu o país, a L&PM lançou o livro Blá, Blá, Blá – biografia autorizada, em que o jornalista e escritor Eduardo Bueno resgata a história do grupo por meio de longos depoimentos de pais, mães, irmãos, amigos, namoradas, companheiros de estrada, empresários, enfim, todas as pessoas que foram importantes na vida dos Mamonas Assassinas.

No primeiro capítulo intitulado “O feitiço da Lua Nua”, Eduardo escreve:

Quando João Augusto de Macedo Soares, 39 anos, vice-presidente da gravadora EMI Odeon, seu filho Rafael, 16, e o produtor independente Arnaldo Saccomani enfim chegaram, a boate Lua Nua estava quase vazia. Eram dez e trinta da noite meio fria de 7 de abril de 1995. (…) Era uma visita anunciada e João Augusto foi logo conduzido ao mezanino e instalado na melhor mesa, próximo a uma garrafa de uísque cujo lacre permaneceria intocado até tarde da noite. (…)

No instante em que cinco Chapolins Colorados saltaram no palco, loucos furiosos, anteninhas balouçantes e tudo, e detonaram um rock ensandecido que levantou a massa – era Cabeça de Bagre II -, João Augusto ouviu o som que estava aguardando não há 3 horas, mas há quase um mês. E ao vivo era ainda melhor do que ele imaginava. Em seguida, um forrock também arrasador, sobre a vida seca e a sina tragicômica de um baiano e seu jumento com toca-fitas, fez os muitos espiões estrategicamente espalhados pela casa terem certeza de que o executivo da multinacional, recém-chegado do Rio, estava no papo: ninguém riria tanto se não estivesse mesmo gostando. Os olheiros se estressavam à toa: João Augusto já não tinha a menor dúvida sobre o resultado final daquele jogo.

Quando o Chapolin-cantor colocou um enorme bigode postiço e os Chapolins-instrumentistas detonaram um fado turbinado, cuja letra a plateia amestrada sabia de cor, a casa quase veio a baixo. João Augusto só não parou o show naquela hora para apertar a mão dos rapazes porque seria linchado pela massa – e porque também queria mais.

Infelizmente, o livro Blá, Blá, Blá – biografia autorizada está esgotado, mas quem quiser saber mais sobre esta história, vale conferir a entrevista (áudio) que fizemos com o Eduardo Bueno sobre o fenômeno Mamonas Assassinas no dia dos 15 anos da morte do grupo.

Uma viagem à Noite Beat

A Noite Beat, que aconteceu no dia 7 de novembro no Cemitério dos Automóveis em São Paulo,  teve a participação de Eduardo Bueno e Claudio Willer, tradutores e autores de obras beats. Confira abaixo o vídeo do evento, produzido pelo Portal Cronópios:

Eduardo Bueno é tradutor de On the road e Claudio Willer do recém lançado Livro de Haicais . Ambas são obras de Jack Kerouac.

Uma incrível e imperdível Noite Beat em SP

O espírito de Jack Kerouac e Allen Ginsberg vai baixar nesta quinta-feira, 7 de novembro, no Teatro Cemitério de Automóveis em São Paulo. É lá que acontecerá uma noite dedicada aos beats com a participação de Eduardo Bueno e Claudio Willer.

“Enorme. Trepidante. Resultado do ímpeto visionário de Ivone Fs, Guilherme Ziggy e João Pinheiro. Quem assistir à programação sairá do teatro com sensações alucinógenas.” Assim Willer descreveu o evento em seu blog.

Exposições, pocket show, lançamentos de livros, leituras e um debate com especialistas em literatura beat fazem parte da programação que começa às 18h. Tudo com entrada franca.

Clique na imagem abaixo para ver a programação completa:

NoiteBeat_cartaz

Veja aqui os títulos beats publicados pela L&PM Editores.

Brasil: terra à vista!

Foi como uma miragem em um deserto de águas salgadas. Após 44 dias entre o mar e o céu, o horizonte deixou de ser uma linha longínqua na qual o azul-celeste imaculado encontrava o azul revolto de um oceano sem fim. No último ponto que os olhos podiam vislumbrar, erguia-se, agora, a silhueta verdejante de uma pequena serra, pontilhada pelo cume de um monte “mui alto e redondo”. Em breve o aroma das flores e dos frutos não precisaria mais ser imaginado: seria sentido. Os homens acotovelaram-se na amurada das naus, com os olhos postos de encontro ao céu crepuscular. A terra, enfim, estava à vista, como uma visão do paraíso. Parecia miragem – mas era real.

Com as cores do entardecer tingindo a cena de dourado, os 12 navios da frota comandada por Pedro Álvares Cabral prosseguiram seu avanço. Era 22 de abril de 1500, e a maior esquadra já enviada para singrar o Atlântico encontrava-se a cerca de 60 quilômetros de uma costa desconhecida. Seria ilha ou terra firme? Provavelmente ilha, julgaram os marujos mais experientes – uma das tantas, reais ou lendárias, que povoavam as imensidões do chamado Mar Tenebroso. A frota avançou cautelosamente a uma média de cinco quilômetros por hora e lançou âncoras. Elas mergulharam 34 metros antes de se acomodarem nas claras areias do fundo. Estava descoberto o Brasil. Um novo mundo amanhecia.

(Assim começou a nossa história, assim tem início o livro Brasil: Terra à Vista, de Eduardo Bueno, uma aventura sobre o descobrimento (Coleção L&PM Pocket).

brasil_terraavista