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A primeira entrevista de Fidel a um jornalista brasileiro foi publicada pela L&PM

Com a reaproximação de EUA e Cuba, lembramos de um livro publicado pela L&PM na primavera de 1986. “Fidel em Pessoa” traz na íntegra a primeira entrevista do presidente cubano à televisão brasileira, concedida ao jornalista Roberto D’Ávila em dezembro de 1985 para o programa “Conexão Nacional”, da Rede Manchete.

Fidel_em_pessoa

Abaixo, o texto da orelha do livro:

Fidel em Pessoa

No começo de dezembro, “La Habana” tem um clima mais ameno que no resto do ano. A temperatura é geralmente inferior a 30 graus, chove mais do que de costume e ao entardecer os ventos do Caribe empurram ondas enormes sobre o belo Malecón, a avenida beira-mar. Nesta época, no ano de 1985, realizaram-se dois importantes eventos: o “Encontro dos Intelectuais pela Soberania dos Povos da América Latina” e o importante “Festival de Cinema Latino-americano”. Estava em Havana um grande grupo de intelectuais, artistas, jornalistas e cineastas brasileiros, entre os quais Antonio Cândido, Hélio Pelegrino, Chico Buarque, Nélida Piñon, Chico Caruso, Joaquim Pedro de Andrade, Roberto D´Ávila e muitos outros. A este grupo juntavam-se inúmeras personalidades da cultura latino americana, como Gabriel García Márquez e o lendário padre nicaraguense Ernesto Cardenal. Enquanto este grupo dividia seu tempo entre as sessões de planetário do “Encontro dos Intelectuais”, o Festival de Cinema, as festas com rumba e o impecável rum “Havana Club” no Hotel Nacional, os cruzeiros no mar profundamente azul do Caribe, lagostas frescas, o Floridita, bar frequentado por Ernest Hemingway, o jornalista brasileiro Roberto D’Ávila, dedicava-se à difícil e obstinada tarefa de conseguir uma entrevista com “el Comandante” Fidel.

Na festa de encerramento do “Encontro de Intelectuais” no Palácio Presidencial, Roberto D’Ávila abordou diretamente Fidel, com o apoio logístico de Gabriel García Márquez, Chico Buarque e Frei Betto. Depois de um rápido e difícil diálogo, onde o “Comandante” ouviu o convite e a insistência dos seus amigos, Fidel concordou em falar pela primeira vez a um repórter da televisão brasileira. A entrevista ocorreu nos dias subsequentes e dos projetados quarenta e cinco minutos, resultaram quase seis horas de precioso material jornalístico. A entrevista foi ao ar pela TV Manchete editada em quase duas horas.

Esta primeira aproximação de Fidel, numa grande entrevista nacional para todo o país, certamente colaborou para o reatamento das relações diplomáticas entre Brasil e Cuba, o que ocorreria poucos meses depois.

Aqui em FIDEL EM PESSOA está a íntegra da conversa entre Roberto D’Ávila e Fidel. Um espetacular furo jornalístico, onde, questionado com habilidade por Roberto, Fidel conta a história da sua vida, sua infância, suas ideias e dá preciosos detalhes a respeito da revolução cubana.

Clique sobre a imagem para assistir a entrevista

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Uma calorosa leitura sobre a Guerra Fria

A Guerra Fria durou de 1945 a 1990. Uma vida. Ou melhor, muitas vidas, se pensarmos na quantidade de gente que pereceu em meio ao conflito, vítima da instransigência e da incoerência presente no messianismo político. Como nasci em 1969, o assunto fez parte  dos jornais, das revistas e dos noticiosos televisivos da minha infância. Sempre anunciando nas entrelinhas o perigo de uma guerra nuclear e a ameaça dos comunistas “comedores de criancinha”. Para mim, soava como filme de ficção. Até que, em 1987, eu entrei na faculdade e, como toda universitária que se prezasse, coloquei um poster do Che Guevara na parede para orgulho do meu pai esquerdista. Mas fiz isso muito mais por simpatia do que ideologia, simplesmente porque os comunistas pareciam mais aguerridos e defensores dos fracos e oprimidos. Foi só quando o Muro de Berlim veio abaixo é que as minhas fichas também começaram a cair. E percebi que ninguém era realmente bonzinho nessa história. Como um filme que tivesse chegado ao fim, não pensei mais nesse assunto. Até que agora me vejo diante de Guerra Fria, o mais recente lançamento da Série Encyclopaedia. No livro, Robert J. McMahon explica de forma clara e deliciosamente literária como tudo começou e como se desenrolou o embate que quase culminou na Terceira Guerra Mundial. A tradução de Rosaura Eichenberg também está primorosa, cheia de ritmo e palavras que fluem com sonoridade impecável. Para completar, há fotos, mapas e um índice remissivo. Ainda não cheguei à página final, mas já recomendo como leitura obrigatória a todos aqueles que querem entender esse mundo em que vivemos, onde cada um quer puxar a brasa para o seu assado e impor suas próprias certezas. (Paula Taitelbaum)

Foto que está na pg 106 do livro: Evidência fotográfica de um sítio de lançamento de Mísseis Balísticos de Alcance Médio em San Cristobal, Cuba, outubro de 1962

Foto da pg 189: O Muro de Berlim vem abaixo, novembro de 1989

Um casamento clássico de conveniência, a aliança, estabelecida durante a guerra, entre a principal potência capitalista do globo e o principal advogado da revolução proletária internacional foi desde o início crivada de tensão, desconfiança e suspeita. Além do objetivo comum de derrotar a Alemanha nazista, pouco havia para cimentar uma parceria nascida de uma necessidade crítica, além de onerada por um passado repleto de conflitos. Afinal, os Estados Unidos haviam demonstrado uma hostilidade implacável ao Estado soviético desde a revolução bolchevique que lhe deu origem. Os governantes do Kremlin, por sua parte, viam os Estados Unidos como o cabeça das potências capitalistas que tinham procurado acabar com o regime comunista ainda nos primeiros tempos. (Trecho de Guerra Fria, de Robert J. McMahon)

Galeano e a vitamina “D”

Segunda-feira, 16 de janeiro, na capital de Cuba, Eduardo Galeano realizou a abertura do Prêmio Casa de las Américas deste ano.  Em seu poético discurso, ele disse “Obrigado, mil obrigados por este alimento de vitamina D, ‘D’ de dignidade, que tanto nos ajuda a acreditar que o dever de obediência, imposto pelos poderosos deste mundo é, pode ser, nossa penitência, mas não é, nem pode ser, nosso destino”.

No evento, o autor de “As veias abertas da América Latina” reafirmou sua amizade com a Casa de las Américas, fundada em abril de 1959 na cidade de Havana.  Abaixo, seu discurso:

E vem livro novo de Eduardo Galeano em 2012. “Los hijos de los días” já está sendo traduzido por Eric Nepomuceno.