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O grande show do “pop star” da arte moderna

Poucas pessoas imaginariam que, dentro daquele caminhão atolado na lama do Parque Ibirapuera, no chuvoso inverno de 1953, enrolado e acondicionado num enorme tubo de metal, estava o quadro que se tornaria um dos mais emblemáticos, populares e representativos da pintura universal em todos os tempos. O caminhão atolado transportava nada mais nada menos do que o imenso quadro Guernica de Pablo Picasso (1881 – 1973), que juntamente com mais cem quadros comporia a mostra especial sobre Picasso na 2ª Bienal de São Paulo. Através de uma conexão do legendário Ciccillo Matarazzo diretamente com Picasso e seus amigos, Alfred Barr Jr., o diretor do MoMA, a contragosto, concordara em emprestar o quadro à Bienal de S. Paulo. Na época, Picasso deixara a guarda do quadro com o MoMA de Nova York, do seu amigo Barr Jr., com a condição de que fosse entregue ao governo espanhol quando a Espanha tivesse retornado à plena democracia. Guernica foi pintada em plena Guerra Civil, para o estande espanhol na Exposição Internacional de Paris em 1937. Picasso revelava ao mundo o horror diante do bombardeio da aviação nazista que destruiu aldeia de Guernica, no país Basco.

Guernica em exposição na Bienal de Arte de São Paulo de 1953. Na foto, Ciccillo Matarazzo, responsável por trazer a obra de Picasso, em destaque ao lado de Juscelino Kubitschek

Guernica em exposição na Bienal de Arte de São Paulo de 1953. Na foto, Ciccillo Matarazzo, responsável por trazer a obra de Picasso, em destaque ao lado de Juscelino Kubitschek

Guernica  retornou à Espanha em 1981, depois do fim da ditadura do generalíssimo Franco, quando se consolidou a democracia espanhola seguindo à risca o desejo de Picasso. Hoje, o enorme quadro de 3,50 metros por 7,80 metros, além de mais de uma centena de estudos, gravuras e quadros a óleo, fazem parte do acervo do Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, um anexo do célebre Museu do Prado.

A exposição “Picasso e a modernidade espanhola”, que encerrou nesta segunda-feira no Centro Cultural Banco do Brasil no Rio de Janeiro foi justamente uma seleção do acervo do museu Reina Sofia.

A entrada da exposição

A entrada da exposição

Como em todos os eventos que expõe “Picassos” pelo mundo afora, as filas quilométricas e permanentes davam voltas na quadra do CCBB Rio. E para dar chance a todos de verem o grande acontecimento cultural do ano, a direção do Centro Cultural permitiu que a visitação no fim de semana começasse às 9 horas da manhã de sábado e só encerrasse no domingo às 21 horas. Turistas e cariocas tiveram o privilégio de ver Picasso por toda a noite e a madrugada de sábado para domingo.

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Os esboços de Guernica, duas dezenas de quadros da última fase de Picasso e dezenas de exemplares da maravilhosa série de gravuras conhecida como Suite Vollard procuram mostrar ao público a explosão criativa que cercou a concepção de Guernica. A curadoria da exposição buscou fazer um contraponto e situar Picasso em meio aos pintores que fizeram a importante escola espanhola da primeira quadra do século XX.

Além das telas de Picasso, os visitantes puderam passear virtualmente pela Guernica

Além das telas de Picasso, os visitantes puderam passear virtualmente pela Guernica

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“Cabeça de cavalo”, um dos destaques da exposição

Fomos brindados com três quadros do grande pintor cubista Juan Gris (1887-1927), um espetacular e imenso quadro de Juan Miró e mais duas dezenas de pintores espanhóis menos conhecidos do público brasileiro. A exceção é um quadro (modesto) do célebre Salvador Dali que, paradoxalmente, sempre apoiou o ditador Francisco Franco.

Está à venda na livraria do CCBB um belíssimo livro sobre a exposição, contextualizando as escolhas do curador, a história e um estudo biográfico de Picasso e pequenas biografias de todos os artistas expostos. A exposição esteve em São Paulo de 25 de março a 8 de junho de 2015 e no Rio de 24 de junho a 7 de setembro. Foram milhares de visitantes motivados pela entrada grátis e pela celebridade de Picasso, o grande “pop star” das artes. Tudo graças a um enorme esforço de dezenas de instituições públicas e privadas. Mas terá valido a pena, pois nada é mais civilizatório do que este contato direto com a grande arte. (Ivan Pinheiro Machado)

Os impressionistas chegam ao Rio

Quando minha filha Clara ainda era um toquinho de gente, com menos de 3 anos, ganhou dos avós o livro “M de Monet”. Foi amor à primeira imagem. Ela sentava no colo do avô e ficava literalmente impressionada com a ponte, com o lago, com as pequenas flores das Ninfeias. Daí pra frente, todos os livros para criança com Monet que meus pais encontravam, no Brasil ou em viagens no exterior, traziam para ela. Perdi as contas de quantas vezes a pequena Clara assistiu ao DVD “Lineia no jardim de Monet”.

Mês passado, estivemos em São Paulo e, como não poderia deixar de ser fomos na exposição “Impressionismo: Paris e a Modernidade”. São 85 obras vindas direto do Museu d’Orsay, de Paris. Bem montada, bem organizada, bem iluminada, a mostra é imperdível.

Mas o melhor de tudo foi presenciar o deslumbramento da minha filha, agora com 11 anos, diante da verdadeira ponte pintada por Monet. A real, a pincelada por ele, pelo mestre. “Uau” foi o que ela conseguiu dizer. E ficou ali, diante de “O lago da Ninfeias – Harmonia verde” por uns bons minutos, emocionada, fundindo seu olhar com o conjunto de manchas esverdeadas.

"O lago das Ninfeias - Harmonia Verde", de Claude Monet, está no Rio de Janeiro

Agora, depois de sair de São Paulo, a exposição chegou ao CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) do Rio de Janeiro, na minha opinião um espaço até melhor do que o paulista, pois é mais amplo, mais horizontal. Logo nos primeiros dias, as filas já foram enormes e, assim como em SP, no final de semana de estreia da mostra aconteceu a chamada virada impressionista, com a exposição gratuita aberta ininterruptamente das 9h de sábado (27) às 21h de domingo (28). Além de Monet, Cézanne, Manet, Gauguin, Renoir e Van Gogh são alguns dos pintores que sobem pelas paredes.

“Impressionismo: Paris e a Modernidade” fica no Rio até 13 de janeiro. Vale muito a pena conferir. Você vai ter a impressão de que para ir do Brasil até Paris basta atravessar uma ponte. (Paula Taitelbaum)