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Fernanda Montenegro e Millôr Fernandes

Fernanda Montenegro e Millôr Fernandes eram amigos. Ela encenou peças escritas por ele. Ele escreveu um texto sobre ela da Série Retratos em 3 x 4 de alguns amigos 6 x 9 que está no verbete “Fernanda Montenegro” do livro Millôr definitivo – A Bíblia do Caos:

Sua vida é um palco iluminado. À direita, as gambiarras do perfeccionismo. À esquerda, os praticáveis do impossível. Em cima, o urdimento geral de uma tentativa de enredo a ser refeito todas as noites, toda a vida. Atrás, os bastidores, o mistério essencial. Embaixo, o portão, que torna viáveis os mágicos, inspiração do teatro, que é uma fé, e comove montanhas. (…) Incansável operária, pisa na ribalta nua e mostra todas as noites que o teatro e a vida são apenas duas tábuas e uma paixão. (…) E após o final, na solidão da glória, poder escutar, no silêncio e no escuro, o último espectador que se afasta das aleias desertas.

A amizade entre Millôr e Fernanda Montenegro atravessou décadas

A amizade entre Millôr e Fernanda Montenegro atravessou décadas

Fernanda Montenegro e Millôr Fernandes nos anos 1990

Fernanda Montenegro e Millôr Fernandes nos anos 1990

Saudades do amigo: Fernanda participou da inauguração do Largo do Millôr e depois do banquinho do Millôr que aconteceu em 27 de maio de 2013

Saudades do amigo: Fernanda participou da inauguração do Largo do Millôr e depois do banquinho do Millôr que aconteceu em 27 de maio de 2013 na Praia do Arpoador no Rio de Janeiro

Instituto Moreira Salles negocia acervo de Millôr Fernandes

A Revista Veja desta semana informa que o Instituto Moreira Salles está negociando a compra do extenso acervo deixado por Millôr Fernandes. Originais, manuscritos e a biblioteca do “filósofo do Méier”, que faleceu no ano passado, estão sendo avaliados.

Pensamento final, de todo mundo: “Mas já? E por que eu? Por que tão cedo? Por que assim? Por que pra sempre? (Millôr Fernandes em Millôr definitivo – A Bíblia do Caos)

“Verão” por Millôr Fernandes

É hoje à noite: o sol se aproximará o máximo que pode da Terra, indicando que o verão está oficialmente entre nós. Se você anda um pouco esquecido de como é a estação mais festiva, sensual e quente do ano, vale a pena ler o texto escrito por Millôr Fernandes em 1971 (e que está em Millôr Definitivo, a Bíblia do caos). Apesar de passados quase 40 anos desde que ele foi escrito, está claro que, pelo menos no que se refere à chegada do verão, nada mudou:

Crestam-se os seres. Acende-se vermelho o alto dos morros, reverbera o mar, para-brisas dão reflexos de cegar. Um cego, de tanta luz em volta, enxerga alguma coisa. O céu aprofunda-se em azul, a areia frige nossos pés, raios a pino estorricam. A calçada arde, suor escorre nas costas dos que estão vestidos, o chão gruda em seus sapatos de discriminados. O sol parece um som. É verão. Rebrilha, refulge, freme, tremeluz – em tudo e em todos. Uma cigarra canta, chia, chichia, chiria, cicia, fretene, zine, zizia, zangarreia, estridula, garrita, rechia, rechina, retrine, cegarrega: é só escutar no dicionário. Na arrebentação a gata cumpre o gesto perpetual do seu destino na biossociologia carioca  – é bela e cai n´água. Estamos todos em Byakabunda, na época do plantio das bananas.