Quando os dias eram assim de verdade

Muita gente que está assistindo a minissérie “Os dias era assim” não chegou a viver a ditadura militar na pele. Mas antes de ser ficção, a repressão foi uma dura realidade. Para os que saber mais sobre este período triste da história brasileira ou mesmo sobre as demais ditaduras da América Latina, recomendamos a leitura dos seguintes livros:

capa_memorias_do_esquecimento.inddMemórias do esquecimento – Cheio de lirismo e emoção, Memórias do esquecimento, de Flávio Tavares, é um relato descarnado e cru sobre a prisão e a tortura após o golpe militar de 1964 no Brasil. Formado em Direito e professor da UnB, o jornalista Flávio Tavares participou da resistência à ditadura e foi preso. Libertado com outros catorze presos políticos em troca do embaixador dos Estados Unidos, em 1969, iniciou longo exílio no qual foi vítima (e sobrevivente) da chamada Operação Condor. Este livro é um testemunho sobre os labirintos de uma época sombria e tortuosa. Da repressão à resistência, da dor à esperança, está tudo aqui, para jamais esquecer. Vencedor do Prêmio Jabuti 2000 na categoria Reportagem.

capa_1964_golpe_flavio_tavares.indd1964: o golpe – Neste livro, também de Flávio Tavares, estão as tramas secretas, os conluios e as tramoias com que a esquerda e a direita disputavam o controle do poder político e econômico, à sombra das pressões de Washington sobre o Brasil e a América Latina, em plena Guerra Fria. Como jornalista político em Brasília nos anos 1960, Flávio acompanhou passo a passo os acertos ou desacertos do governo João Goulart. No dia 1º de abril de 1964, no Palácio do Planalto, testemunhou os derradeiros momentos do presidente Jango já em fuga e, agora, revela segredos guardados durante meio século.

liberdade_liberdadeLiberdade, liberdade – 21 de abril de 1965, em plena ditadura militar brasileira, estreava, no Rio de Janeiro, a peça Liberdade, liberdade. Escrita por Millôr Fernandes e Flávio Rangel, a partir de textos históricos, o espetáculo que mesclava protesto, humor e música tinha no elenco Paulo Autran, Nara Leão, Oduvaldo Vianna Filho e Tereza Rachel. Sucesso total de públicol, a peça foi proibida pela censura poucos meses depois de sua estreia. Publicado na Coleção L&PM Pocket, este livro traz, além do texto integral da peça, a crítica publicada pelo The New York Times em 25 de abril de 1965, mais as introduções “A liberdade de Millôr Fernandes”, “A liberdade de Flávio Rangel” e “A liberdade de Paulo Autran”.

operacao_condorOperação Condor – Em 1978, os uruguaios Lílian Celiberti e Universindo Díaz foram sequestrados pela operação Condor, uma organização terrorista de Estado, fundada no Chile de Pinochet, que atropelava fronteiras nacionais e afrontava direitos humanos, forçando o desaparecimento de quem ousasse contestar os regimes de força dos generais. Naquele mesmo ano, alertados por um telefonema anônimo, o repórter Luiz Cláudio Cunha e o fotógrafo J.B. Scalco foram conduzidos até um apartamento, onde surpreenderam militares uruguaios e policiais brasileiros na fase final do sequestro de Lílian e Universindo. A denúncia dos repórteres frustrou o sequestro. A pressão da imprensa e a repercussão na opinião pública constrangeram Montevidéu e Brasília e os sequestrados escaparam vivos para contar a história de uma multinacional do terror que não costumava deixar sobreviventes. Trinta anos depois, o repórter Luiz Cláudio Cunha contou, neste livro, detalhes inéditos desta arriscada e impressionante aventura jornalística.

memorias_a_verdade_de_um_revolMemórias: a verdade de um revolucionário – Olympio Mourão Filho – Livro editado a partir dos arquivos do grande historiador brasileiro Hélio Silva. Uma obra que, literalmente, “desmancha” a elite militar da época (1977). Quando a L&PM publicou o livro, tal foi o nível das críticas e até de ofensas vindas dos chefes militares da ditadura que nenhum editor em Rio e São Paulo ousou publicá-lo. É um brado contra a ditadura e a repressão dado justamente pelo militar que chefiou as tropas em 31 de março. Disponível somente em e-book.
Capa - Golpe ou contragolpe.indd1964: Golpe ou contragolpe? –  O historiador Hélio Silva recupera com isenção e fidelidade as minúcias da preparação, da eclosão e os primeiros movimentos de uma ditadura que mergulharia o país em um longo período de obscurantismo, perseguições, desprezo às liberdades individuais e aos direitos dos cidadãos. Rigoroso na exposição dos fatos, isento no tratamento das personalidades que fizeram a história, o autor se eleva acima dos vencedores e vencidos para descrever os fatos como eles se passaram, sustentado por copiosa documentação. Como destaque deste livro, há também preciosos depoimentos de personagens diretamente envolvidos nos acontecimentos. Somente em e-book.

JangoJango, a vida e a morte no exílio – A partir de uma tese de que o presidente João Goulart teria sido morto no exílio pelos militares, Juremir Machado da Silva reconstrói os últimos momentos da vida do ex-presidente no Uruguai. O autor entrevistou dezenas de pessoas que conviveram com Jango, leu mais de dez mil páginas de documentos, processos, investigações, relatórios de CPIs, sentenças das justiças brasileira, argentina e uruguaia envolvendo o caso Goulart, relatórios do SNI, informes dos serviços de espionagem dos países onde Jango viveu, dossiês secretos e papéis do STF. Teve acesso a cartas inéditas de Jango, foi às prisões de segurança máxima do Rio Grande do Sul conversar com supostos protagonistas dos fatos e pôde vasculhar o livro inédito e os arquivos de Neira Barreiro, figura decisiva da trama em foco.

rango_35_anosRango – O primeiro livro publicado pela L&PM era um libelo contra a ditadura. O personagem criado por Edgar Vasques estava nos quadrinhos, mas também pelas ruas. Este que foi um dos mais célebres anti-heróis das tiras brasileiras, resumia na época da ditadura – e ainda resume – a miséria do nosso povo. Rango surgiu em 1970, quando o desenhista Edgar Vasques se propôs a criar um personagem que tivesse a cara do Brasil: miserável, esfomeado, marginalizado, pobre e desempregado, que vivia dentro de uma lata de lixo. Fez parte do boom de humor da década de 70, simbolizou a resistência à ditadura militar. Foi publicado em 6 volumes.

e_tarde_para_saberÉ tarde para saber – Romance de Josué Guimarães lançado pela primeira vez em 1976 e que, em muito, se parece com o enredo de “Quando os dias eram assim”. No Rio de Janeiro do década de 1970, Mariana e Cássio vivem uma grande paixão. Mas ela é filha de um rico empresário simpatizante da ditadura militar, e ele, um rapaz de origem humilde. No período mais repressivo do regime, quando todas as manifestações intelectuais e artísticas eram duramente censuradas, quando informantes do governo infiltravam-se entre os jovens nas salas de aula do país e a vida política nada mais era do que um jogo de cartas marcadas, a triste realidade faz divergir o caminho dos dois jovens. Mariana prossegue com a sua protegida existência pequeno-burguesa, enquanto Cássio envolve-se cada vez mais numa aura de mistério.

as_veias_abertas_baixaVeias abertas da América Latina – Clássico de Eduardo Galeano. As veias abertas da América Latina vendeu milhões de exemplares em todo o mundo. Com seu texto lírico e amargo a um só tempo, Galeano sabe ser suave e duro, e invariavelmente transmite, com sua consagrada maestria, uma mensagem que transborda humanismo, solidariedade e amor pela liberdade e pelos desvalidos. Esta edição foi relançada pela L&PM em 2010 com nova capa, índice analítico e nova tradução de Sergio Faraco, um dos mais importantes contistas do Brasil.

 
Dias_e_noites_novacapaDias e noites de amor e guerra – Histórias vividas em épocas de  violência e intolerância. Relatos de Eduardo Galeano que resgatam a memória do terror étnico e político pelo mundo, com ênfase nos “anos de chumbo” da América Latina. A rotina daqueles que, por motivos políticos, se viam obrigados a abandonar suas casas, seus países, seus parentes, formando uma enorme diáspora de uruguaios, argentinos, brasileiros, paraguaios, chilenos etc. As pequenas e as grandes tragédias de uma época em que as ditaduras militares, com enorme violência, ocupavam quase a totalidade dos países latino-americanos.

Além destes, a L&PM ainda publicou muitas outras obras a respeito deste período e que agora encontram-se esgotados: “1964, visto e comentado pela casa Branca” de Marcos Sá Correa, “Nunca mais” de Ernesto Sábato, “Opinião x censura” de J. A. Pinheiro Machado, “Antologia brasileira de humor” com 82 humoristas brasileiros protestando contra a ditadura em 1976, “Astronauta sem regime” de Jô Soares, “A pregação da Liberdade” de Teotônio Vilela, “Chega de arbítrio!”, “É hora demudar” e “O Ballet proibido” de Paulo Brossard, “Pedaços de morte no coração” de Flávio Koutzii, “1964: 20 anos de golpe militar”, “O Poder Militar” e “O poder civil” de Hélio Silva, “Jango” de Sílvio Tendler, “Ensaios insólitos” de Darcy Ribeiro, “O amor de Pedro por João” de Tabajara Ruas e “Bons tempos, Hein ?” de Millôr Fernandes.

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