Cartas inéditas revelam um pouco mais da personalidade de J. P. Salinger

Um jovem escritor americano em ascensão troca cartas com uma garota canadense aspirante a escritora. Ele se torna muito famoso e ela acaba virando uma dona de casa que nunca publicou nenhum livro. Em 2012, ele morre aos 91 anos. Em 2013, ela, então com 95 anos, permite que sua família venda essa correspondência para pagar as despesas da clínica em que mora. Se fosse o enredo de um livro, essa história poderia não ser muito empolgante. Mas como o personagem principal é o escritor J. P. Salinger, autor de O apanhador no campo de centeio, tudo torna-se emocionante.

Salinger nunca compartilhou sua vida pessoal com os fãs e é considerado um mistério para a maior parte de seus leitores. As cartas que ele trocou, entre 1941 e 1943, com Marjorie Sheard – e que agora foram adquiridas pela Morgan Library & Museum de Nova York – ajudam a revelar a personalidade do escritor nos seus primeiros anos como escritor.

A relação “virtual” entre os dois começou porque Marjorie tinha sonhos de se tornar escritora e costumava ler as histórias que Salinger publicava nas revistas “Esquire” e “Collier’s”. Em 1941, ela mandou a primeira carta para o autor pedindo conselhos. “Me parece que você tem instintos para evitar ser o tipo de garota que frequenta a universidade de Vassar”, encorajou Salinger em uma carta de 4 de setembro de 1941.

Nos anos seguintes, Salinger enviou à moça nove cartas. Galante, em uma delas, datada de 9 de outubro de 1941, ele pergunta: “Como você é?”. E pede que ela mande uma fotografia. Um mês depois, ele se desculpou pelo pedido. Mas a moça enviou a resposta junto com uma foto. “Sneaky girl. You’re pretty.” escreveu Sallinger para ela ao ver que era bonita.

Em outra, Salinger, então com 22 anos, pede a Marjorie que opine sobre uma história que estava escrevendo, que tinha como personagem um certo Holden Caulfield, que ele iria publicar na revista “The New Yorker”. “É a história de um estudante indo viajar no feriado de Natal”, escreveu.

Mais tarde, ele pede a Sheard que não mencione a ninguém a história de Holden Caulfield, pois havia a possibilidade de que os capítulos fossem, no futuro, reunidos em um livro. Publicado primeiro em revista, o personagem seria modificado por Salinger e ganharia as livrarias em 1951, em “O Apanhador no Campo de Centeio”, o romance mais conhecido do escritor.

Por mais de 50 anos, Marjorie Sheard guardou as cartas dentro de uma caixa de sapatos no armário. Há seis anos, ela foi morar em um asilo e deu as cartas a um parente, que também as guardou. Recentemente, ela e sua família decidiram vender as cartas ao museu Morgan que se negou a dizer quanto pagou. A sobrinha da agora senhora Sheard, Liza, declarou ao “The New York Times” que as cartas tinham um imenso valor sentimental, pois sua tia nunca se tornou uma escritora publicada. “É como se fosse fantasia, porque aquela não era a vida dela. É uma mulher jovem escrevendo a uma estrela como se eles estivessem no mesmo patamar”, afirmou.

As cartas que Salinger enviou a uma aspirante a escritora agora pertence à Morgan Library

A correspondência trocada entre Salinger e uma aspirante a escritora agora pertence à Morgan Library

O trecho da carta em que Salinger diz que a moça era bonita

O trecho da carta em que Salinger diz que a moça era bonita (clique para ampliar)

A foto de Marjorie Sheard

A foto de Marjorie Sheard

De J. P. Salinger, a Coleção L&PM Pocket publica Carpinteiros, levantem bem alto a Cumeeira & Seymour, uma apresentação.

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