A caverna dos sonhos esquecidos

Por Paula Taitelbaum

Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Questionamentos tão clichês que às vezes soam como piada. Mesmo assim, essas perguntas parecem estar impregnadas em cada uma de nossas células. Somos o fruto da evolução do homem. Isso é fato. Mas também somos a soma das dúvidas que nos invadem cada vez que nos confrontamos com as evidências da vida nas cavernas. O que sentiam, afinal, nossos antepassados pré-históricos?

Na infância, eu adorava passar as tardes vendo O elo perdido na TV e sonhava em ser a amiga loira do Chaka. Na adolescência, eu li Antes de Adão, de Jack London, e tive a certeza de que talvez pudesse acessar as lembranças de meus distantes parentes das cavernas. Depois vieram mais filmes, livros e museus. Nenhum deles, no entanto, me impactou tanto quanto o documentário em 3D que assisti ontem: A caverna dos sonhos esquecidos, de Werner Herzog.

Herzog teve permissão para entrar na Caverna Chauvet, descoberta em 1994 no sul da França. Algo que só é permitido a poucos cientistas. A caverna, que teve sua entrada lacrada por um desmoronamento, apresenta as mais incríveis pinturas rupestres já encontradas, algumas com mais de 30 mil anos. E por terem ficado isoladas por tanto tempo, essas verdadeiras obras de arte parecem ter sido feitas recentemente. Na parte escura da caverna, alguns dos animais foram desenhados com várias patas e supõe-se que, quando as tochas pré-históricas iluminavam estas pinturas, elas permitiam uma sensação de movimento. Puro cinema!

Há belíssimos cavalos com um incrível jogo de luz e sombra e um salão só dedicado a leões. Há rinocerontes, bizões, aves e as pernas abertas de uma mulher… Há ossadas e marcas perfeitas no chão intocado: a pegada de um menino de oito anos ao lado da pegada de um lobo. E o cientista se pergunta: haverá o lobo encurralado o menino? Seriam eles amigos e andavam juntos? Ou as pegadas foram feitas em épocas diferentes? Respostas que, assim como muitas outras, nunca teremos.

A caverna dos sonhos esquecidos é um filme de 2010 que só agora chegou aos cinemas do Brasil. E provavelmente não ficará muito tempo em cartaz. Por isso, se você tiver a chance de assistir em 3D, sugiro que faça isso. E quem sabe, assim como eu, você descubra a gente não evoluiu tanto assim. Ao contrário: em certos aspectos, acho que andamos para trás.

Para completar a viagem no tempo, você também pode ler Pré-história, da Coleção Encyclopaedia.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *