Arquivo mensais:dezembro 2017

O dia do marinheiro na literatura

13 de dezembro é, desde 1925, o Dia do Marinheiro no Brasil. A data foi escolhida por marcar o nascimento do Almirante Joaquim Marques Lisboa, o Marquês de Tamandaré, Patrono da Marinha no Brasil. Em homenagem aos homens do mar, aqui vão alguns trechos de livros que falam de marinheiros, comandantes e capitães – reais ou ficcionais – que enfrentaram tempestades, correntezas, marés e calmarias para viver aventuras que os colocaram na “crista da onda” da história e da literatura.

E o que poderia Billy saber sobre o homem, a não ser sobre o homem como um mero marinheiro? E o marinheiro à moda antiga, o verdadeiro lobo-do-mar, o marujo que navega desde a infância, embora seja da mesma espécie do homem da terra, em alguns aspectos é singularmente distinto dele. O marinheiro é a franqueza, o homem da terra é a esperteza. A vida para o marinheiro não é um jogo que exija astúcia; não é um complicado jogo de xadrez em que poucos movimentos são francos e cujos fins são obtidos indiretamente (…)BILLY BUDD, MARINHEIRO, Herman Melville

Três janelas altas davam para o porto. Nelas não se via nada além do cintilante mar azul-escuro e de um luminoso azul pálido no céu. Meus olhos captaram, na profundidade e nas distâncias das tonalidades azuis, o ponto branco de algum grande navio recém-chegado prestes a fundear no ancoradouro. Um navio de casa – depois de uns noventa dias no mar. Existe algo de comovente em um navio que chega do mar e fecha as asas em repouso. A LINHA DE SOMBRA, Joseph Conrad

Ele obedeceu com rapidez, e me vi sozinho no convés do Ghost. Do modo mais silencioso possível, recolhi as velas de joanete, baixei a giba e a vela de estai, puxei a bujarrona para trás e retesei a vela mestra. Então desci para encontrar Maud. Pus um dedo sobre seus lábios pedindo silêncio, e entrei no quarto de Wolf Larsen. Ele estava na mesma posição em que eu o havia deixado, e sua cabeça se balançava – quase em convulsão – de um lado para outro. O LOBO DO MAR, Jack London

O cheiro de alcatrão e sal era novo para mim. Eu via as figuras de proa mais maravilhosas, que tinham estado em oceanos muito distantes. E via, além disso, muitos marinheiros velhos, com argolas nas orelhas e barbas que se enrolavam em cachos, e tranças alcatradas, e sua maneira desajeitada e balouçante de caminhar, como se ainda estivessem no mar. Ora, se eu tivesse visto o mesmo número de reis ou arcebispos, não teria ficado mais encantado! A ILHA DO TESOURO, Robert Louis Stevenson

“No decorrer da nossa expedição, desembarcamos em inúmeras ilhas e nelas vendemos ou trocamos mercadorias. Um dia em que estávamos navegando, o mar calmo nos colocou frente a frente com uma pequena ilha, tão verde como uma campina, quase no nível da água. O capitão fez baixar as velas e permitiu que desembarcassem aqueles que quisessem. Eu estava entre os que desceram. Nos divertíamos bebendo e comendo e descansávamos das fadigas do mar, quando, de repente, a ilha tremeu, sacudindo-nos rudemente…” AS AVENTURAS DE SIMBAD O MARUJO, Histórias das 1001 Noites

Foi como uma miragem bailando sobre as águas salgadas. Após uma sequência infindável de dias iguais, o horizonte já não era uma linha longínqua e vazia. No último ponto que os olhos podiam vislumbrar, surgiam, agora, estranhas silhuetas. Pareciam montanhas flutuantes singrando o oceano. Os homens acotovelavam-se à beira mar, com os olhos postos de encontro ao céu matinal para vislumbrar a mais espantosa novidade de suas vidas. Que tipo de canoas seriam aquelas, que pareciam ter asas tão brancas e tão amplas e que avançavam junto com o sol? BRASIL: TERRA À VISTA!, Eduardo Bueno

Capa_mar_irmao_LPM.inddNo convés superior, grupos de quietos marinheiros mantinham-se ao lado de seus botes, um conjunto grotesco em salva-vidas, macacões, quepes de cozinheiro, aventais, quepes de lubrificador, quepes de proa, calças cáqui e dezenas de outras combinações variadas de vestimentas. Bill correu até seu próprio bote salva-vidas e parou ao lado de um grupo. Ninguém falava. O vento uivava na chaminé fumacenta, vibrava ao longo do convés, agitando a roupa dos marinheiros e corria por sobre a popa e ao longo do rastro verde e brilhante do navio. O oceano suspirava uma quietude suavizadora e sonolenta, um som que trespassava todos os cantos (…) O MAR É MEU IRMÃO & Outros escritos, Jack Kerouac

Você sabia que o poeta Rainer Maria Rilke…

– Ao nascer, em 4 de dezembro de 1875, recebeu o enorme nome de René Karls Wilhelm Johann Josef Maria Rilke?

– Foi vestido de menina até os cinco anos por sua mãe, numa tentativa dela compensar a morte de uma filha recém nascida?

– Foi amante da intelectual e escritora russa Lou Andréas-Salomé e que foi por sugestão dela que mudou o nome de “René” para “Rainer”?

– Aprendeu russo com a namorada russa para que pudesse ler Dostoievski e Tolstói no idioma original?

– Visitou Tolstói em sua casa e, ao ser questionado pelo escritor russo sobre sua ocupação, disse timidamente que se ocupava “com a lírica”.  E que depois disso Tolstói fez chover sobre o poeta um vivo e humilhante discurso contra toda a lírica?

– Casou-se, em 1901, com uma estudante de artes chamada Clara Westhoff e que ela estava grávida dele ao se casarem?

– Em 1902, mesmo separado de Clara foi com ela e a filha Ruth para Paris, pois a ex-mulher tinha sido aceita como aluna no estúdio de Auguste Rodin?

– A fim de escrever um ensaio sobre Rodin, Rilke virou secretário particular do grande escultor francês, encarregado inicialmente de sua correspondência estrangeira?

– Foi demitido por Rodin e impedido de entrar no ateliê do escultor por ter respondido algumas cartas sem a aprovação do patrão?

– No Brasil, teve poemas traduzido por Manuel Bandeira e Cecília Meireles?

Rilke criança, vestido pela mãe com roupas de menina

Rilke criança, vestido pela mãe com roupas de menina

Da esquerda para direita: Professor Andreas (marido de Lou Andreas-Salomé), August Endele, Rilke e Lou Andreas-Salomé

Da esquerda para direita: Professor Andreas (marido de Lou Andreas-Salomé), August Endele, Rilke e Lou Andreas-Salomé em 1897

Rilke com Lou Adreas-Salomé e o poeta Spiridon Drozin em 1900

Rilke com Lou Adreas-Salomé e o poeta Spiridon Drozin em 1900

Rilke e Rodin

Rilke e Rodin

No estúdio de Rodin, Clara modela um busto de Rilke

No estúdio de Rodin, Clara modela um busto de Rilke

De Rilke, a Coleção L&PM Pocket publica Cartas a um jovem poeta e Os cadernos de Malte Laurids Brigge.