Arquivo mensais:novembro 2016

Em 30 de novembro de 1835, começava a aventura de Mark Twain

Samuel Langhorne Clemens veio ao mundo em  30 de novembro de 1835 na Flórida, mas mudou-se ainda jovem, junto com a família, para uma pequena cidade às margens do Mississipi. Virou timoneiro de barco à vapor e inspirou-se nas viagens pelas águas do grande rio para começar a escrever suas histórias. Em 1863, adotou o pseudônimo de Mark Twain, nome de origem controversa. Alguns dizem que significa “dois fantasmas”, outros que é a expressão que os timoneiros usavam para marcar a profundidade das embarcações e ainda há os que defendem que está ligada ao som do motor dos barcos (“twain, twain, twain”) ou ainda a forma de se pedir uma bebida dupla nos bares do velho oeste. Independente disso, foi com esse nome que ele entrou para a história. Twain chegou a ser a celebridade mais conhecida de sua época e é tido como o primeiro autor verdadeiramente norte-americano. Entre seus livros mais conhecidos estão O príncipe e o mendigo, As aventuras de Tom Sawyer e aquele que é considerado sua obra prima: As aventuras de Huckleberry Finn. Para comemorar o aniversário de Mark Twain, separamos aqui algumas fotos de quando ele ainda era Samuel.

Samuel Clemens aos quinze anos

Belo, jovem e apaixonado pelo Mississipi

Aos 24 anos, já timoneiro

E agora como Mark Twain, ainda jovem, mas já exibindo seu famoso bigode:

Mark_Twain_jovem

E com os cabelos brancos, sua imagem mais conhecida:

marktwain_maisvelho

Com a cruz no nome e a noite na epiderme

cruz-e-sousa-aos-22bJoão Cruz e Sousa nasceu a 24 de novembro de 1861, na cidade de Nossa Senhora do Desterro (atual Florianópolis), capital da então Província de Santa Catarina. Filho de escravos alforriados, trazia nas artérias sangue sem mescla da África e, talvez, como escreveu Tasso da Silveira “no profundo psiquismo, milenárias forças adormecidas de angústia e sonho”.

Depois de uma vida de misérias, doenças e humilhações, morreu a 19 de março de 1898, na cidade de Sítio, em Minas, para onde fora transportado às pressas, vencido pela tuberculose e em busca de melhores ares. Em sua rápida vida de somente trinta e seis anos, percorreu todo um ciclo de experiências de grande sofrimento: preconceito racial, miséria, loucura da mulher, morte dos filhos, morte dos pais, indiferença da crítica e de outros escritores e poetas. Mas houve a conjunção de circunstâncias que resultaram no seu canto imortal. E é esse canto que importa, contrariando aqueles críticos que anunciavam que ele era um “negrinho mau rimador” e que não alcançaria o sucesso porque “tinha a cruz no nome e a noite na epiderme”.

Cruz e Sousa escreveu poesias a vida toda. Só uma parte foi organizada por ele mesmo para publicação: Missal, Broquéis, Últimos Sonetos, Evocações. Mas destas quatro, apenas duas foram publicadas enquanto ele estava vivo. Como colocou a professora e pesquisadora Zahidé Lipinaccci Muzart na introdução da edição de Broquéis da L&PM:

“Cruz e Sousa foi o verdadeiro poeta canibal, antecipando e muito Oswald de Andrade, os manifestos modernistas e as inquietações e estranhamentos da poesia do século XX. Leu, converteu, transformou diferenças e variedades, abrasileirou franceses, influenciou latino-americanos e continua até hoje a nos surpreender. Assimilou o que quis dos poetas que leu, deglutiu-os e vomitou-os em poemas fantásticos revirginados de seus precursores, reencontrando toda uma família de espíritos, uma verdadeira confraria, a dos criadores de fantasia! Foi um verdadeiro poeta moderno com todas as conotações da palavra em cada época. Como Baudelaire, na França, Cruz e Sousa, no Brasil, foi o introdutor da modernidade.”

Tulipa real

Carne opulenta, majestosa, fina,
Do sol gerada nos febris carinhos,
Há música, há cânticos, há vinhos
Na tua estranha boca sulferina.

A forma delicada e alabastrina
Do teu corpo de límpidos arminhos
Tens a frescura virginal dos linhos
E da neve polar e cristalina.

Deslumbramento de luxúria e gozo,
Vem dessa carne o travo aciduloso
De um fruto aberto aos tropicais mormaços.

Teu coração lembra a orgia dos triclínios…
E os reis dormem bizarros e sanguíneos
Na seda branca e pulcra dos teus braços.

 

Uma visita a Jack London no centenário de sua morte

Por Paula Taitelbaum*

O escritor Jack London morreu em 22 de novembro de 1916. Há exatos cem anos. E para mim, que em maio deste ano, visitei seu rancho e pude ver de perto o exato lugar onde ele morreu e o túmulo em que está enterrado, esta efeméride adquiriu um significado ao mesmo tempo especial e estranho. Parece que só agora, hoje, eu me dei conta de que eu estive mesmo lá, no lugar em que London escreveu, amou, recebeu seus amigos, sonhou com uma fazenda auto-sustentável, ergueu uma casa gigantesca — a Wolf House — e viu, com o coração aos frangalhos, essa mesma casa ser consumida pelo fogo antes mesmo dele morar nela.

Um século depois de ter partido, Jack ainda está muito vivo neste lugar, que foi comprado por ele e sua companheira Charmian em 1905. Ambos parecem que ainda passeiam por lá (acho que com certeza fazem isso), pois além do que sobrou da Wolf House, a outra casa, menor, em que o casal viveu por muitos anos, ainda permanece igualzinha a quando era habitada por eles. Há também uma outra construção, erguida por Charmian após a morte de Jack que virou o museu e a lojinha. Nesta casa, de pedra, estão muitas das lembranças da viagem que os dois fizeram a bordo do Snark.

O Jack London Ranch é, na verdade, o Jack London State Historic Park, um parque que não recebe muito dinheiro do estado e que por isso precisa da ajuda da comunidade para seguir aberto. A maioria das pessoas que trabalha no local não ganha salário por isso. São fãs ardorosos que doam seu tempo para compartilhar o amor por Jack e sua obra. É por isso que, se você for a São Francisco, tente dar uma esticada até Glen Ellen, que fica a apenas uma hora de carro. E vá conhecer uma das maiores paixões de Jack London, pois ele afirmou que, juntamente com sua esposa, o rancho era a coisa que ele mais prezava no mundo. Aliás, muitos dos livros que escreveu foram com o único propósito de conseguir dinheiro para investir em sua propriedade.

Aqui algumas fotos que fiz, mas que com certeza são só um pequeno pedacinho da emoção que é estar lá, no lugar dos sonhos de Jack London.

IMG_6142

O marco de entrada do parque

IMG_6264

Foi exatamente neste lugar que Jack London morreu

IMG_6257

Aqui era onde ele dormia

IMG_6243

Aqui era onde ele escrevia

IMG_6242

Outra escrivaninha e outra máquina de Jack London

IMG_6235

London adorava receber os amigos na sua propriedade

IMG_6221

Jack London tinha sonho: ter uma fazenda auto-sustentável. Mas não deu muito certo…

 

IMG_6231

Os baús de viagem de Jack London e sua esposa

IMG_6225

Fotos do casal na propriedade

Jack e Charmian

Jack London e sua amada Charmian na varanda da casa em Glen Ellen

IMG_6185

O projeto da Wolf House

IMG_6184

O que sobrou da Wolf House depois do incêndio que a consumiu (e que consumiu também a saúde e boa parte da alegria de Jack)

IMG_6195

Não é permitido entrar nas ruínas da Wolf House, mas é possível fotografar

IMG_6172

Jack London foi enterrado aqui, na terra que tanto amava

IMG_6151

Lembranças da viagem no Snark que foi até a Austrália

IMG_6150

O kit médico do Snark

*Paula Taitelbaum é escritora e coordenadora do Núcleo de Comunicação da L&PM Editores. Conheceu o rancho de Jack London em maio de 2016.

A L&PM publica cinco títulos de Jack London. Veja aqui.

Desenhos desconhecidos de Van Gogh são publicados em livro (mas será que são verdadeiros?)

Nesta terça-feira, 15 de novembro, uma notícia deixou o mercado de artes de orelhas em pé. Em uma coletiva de imprensa que aconteceu em Paris, foi anunciado que uma série de desenhos nunca antes vistos de Vincent Van Gogh serão publicados em um livro, no dia 17 de novembro, simultaneamente na França, Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Holanda e Japão.

O livro “Vincent Van Gogh – Le brouillard d’Arles” (Vincent Van Gogh – A névoa de Arles) mostra, em meio às suas 288 páginas, “um número significativo de desenhos” desconhecidos. Entre eles, o que está na capa do livro: um retrato com chapéu de palha. O atestado de que os desenhos são mesmo de Van Gogh foi dado por uma das maiores especialistas na obra do pintor holandês, a canadense Bogomila Welsh-Ovcharov, uma das curadoras da exposição “Van Gogh em Paris”, que aconteceu em 1988 no Museu d’Orsay. Ela disse que foi chamada na França por Franck Baille, que administra uma casa de leilões de Paris, para verificar se um antigo caderno de desenhos encontrado em um depósito em Arles poderia ser de Van Gogh. Ela contou que olhou para o caderno e viu todos os elementos possíveis de Van Gogh e que tem certeza de que são mesmo dele.

Nevoeiro de Arles

 Já em Amsterdã, os especialistas do museu Van Gogh torceram o nariz. Isso porque eles acham muito estranho que um caderno com 65 desenhos tenha sido “encontrado” por acaso. Também consideram suspeito o fato de que, no lugar de serem reunidos em uma exposição, estes desenhos tenham sido fotografados para virar livro. E desconfiam do fato de que os originais só tenham sido vistos pelo leiloeiro, o proprietário misterioso (que ninguém sabe quem é), a especialista canadense e o editor. Segundo o museu holandês, eles receberam 56 fotografias de alta qualidade do total dos 65 desenhos e, após serem avaliadas, chegaram à conclusão de que são imitações e não Van Goghs verdadeiros.

E agora, Van Gogh? É ou não é?

Conheça os livros sobre Van Gogh publicados pela L&PM.

 

A inesquecível queda do Muro de Berlim

Em 9 de novembro de 1989, o Muro de Berlim finalmente vinha abaixo. Um fato histórico emocionante que sempre merecerá ser lembrado.

O acontecimento que simbolizou com mais força o desmoronamento da antiga ordem foi a abertura do Muro de Berlim em 9 de novembro. Aquela infame bareira de concreto de 45 quilômetros de extensão passara a significar não apenas a divisão da antiga capital da Alemanha, mas a divisão da Europa em geral. Quando o muro se desintegrou, desapareceu também a linha divisória Leste-Oeste da Europa. (Trecho de Guerra Fria, de Robert J. McMahon, Série Encyclopaedia, Coleção L&PM Pocket)

Foto da pg 189: O Muro de Berlim vem abaixo, novembro de 1989

Foto da pg 189: O Muro de Berlim vem abaixo, novembro de 1989

28 anos haviam se passado. Praticamente uma geração. Foi em 13 de agosto de 1961 que a cidade de Berlim acordou dividida. Cercas de arame farpado tinham sido esticadas, delimitado que não existia mais uma única nação alemã, mas duas. O muro – que se tornaria o maior símbolo da Guerra Fria – também começaria a ser erguido durante aquela madrugada. E enquanto os moradores da Alemanha Ocidental tinham liberdade, os da Oriental logo perceberam que se encontravam em uma espécie de cárcere privado.

Da noite para o dia, o muro de Berlim começou a ser erguido

A Guerra Fria opôs União Soviética e Estados Unidos num tenso conflito que atravessou décadas. Para entender melhor como como tudo começou, por que ele durou tanto tempo e que impacto teve no estabelecimento de uma nova ordem mundial, a sugestão é  Guerra Fria, de Robert J. McMahon, Série Encyclopaedia. Lançando mão de arquivos secretos divulgados recentemente e dos últimos estudos sobre o assunto, o autor oferece ao leitor um relato atualíssimo e eletrizante.

“Guerra Fria” é o próximo título da Série Encyclopaedia

O homem que deu vida a Drácula

Abraham “Bram” Stoker nasceu no dia 8 de novembro de 1847 em Dublin, na Irlanda, e foi uma criança bastante debilitada. Tanto que praticamente não saiu de casa nos primeiros sete anos de vida. E foi justamente essa clausura que fez com que o pequeno Bram conhecesse muitas histórias, já que sua mãe lia o tempo inteiro para ele.

Recuperado, o jovem Bram Stoker quis conhecer o mundo e logo dedicou-se às letras. Mas engana-se quem pensa que o autor de Drácula foi uma super celebridade em sua época. Na verdade, durante seus 64 anos de vida, ele ficou mais conhecido por ser o assistente pessoal do famoso ator Henry Irving e gerente de negócios do Lyceum Theatre em Londres (que pertencia a Irving) do que como escritor. Antes de lançar Drácula, em 1897, Bram Stoker passou anos pesquisando o folclore europeu e as histórias mitológicas de vampiros. Romance epistolar, escrito de forma realista, o livro possui formato de diário com telegramas, cartas, registros de navio e recortes de jornais. Um estilo que provavelmente Stoker desenvolveu na época em que trabalhou como jornalista. Ao ser publicada, a história do Conde Drácula foi considerada um “romance de horror simples”. Que ganharia força e fortuna apenas após a morte de seu criador.

BBC revela a primeira imagem de “Testemunha de Acusação”

Depois de levar ao ar E não sobrou nenhum, o canal BBC está adaptando mais uma história famosa de Agatha Christie: o conto Testemunha de Acusação. E a primeira imagem da série que será exibida em dois episódios acaba de ser revelada:

TWFTP-final-first-look-photo-website-news

Ela mostra a atriz Kim Cattrall (a Samantha de Sex and the City) como Emily French, uma viúva rica e glamourosa que é a vítima do assassinato da história. Em Testemunha de Acusação, Leonard Vole está sendo julgado pela brutal morte de Emily, que deixou para ele toda a sua fortuna sem saber que o cara era casado. O acusado alega inocência, mas o julgamento toma um rumo inesperado quando a mulher de Leonard se apresenta como testemunha de acusação.

Publicado originalmente em 1925, Testemunha de Acusação tornou-se um dos contos mais conhecidos da Rainha do Crime por ter sido adaptado para o cinema em 1957, pelas mãos do genial diretor Billy Wilder e tendo Tyrone Power como Leonard Vole e Marlene Dietrich como sua esposa.

A adaptação para a BBC foi feita pela roteirista Sarah Phelps, a direção é de Julian Jarrold e a produção de Colin Wratten. Só não nos pergunte quando poderemos assistir. Porque isso ainda é um mistério para nós. Por enquanto, você pode ler o livro que, além de Testemunha de Acusação, traz mais dez histórias de mistério.

 

 

 

Oscar, born to be Wilde

06/11/2016 – Por Fernando Eichenberg* – fernandoeichenberg.wordpress.com

oscar-wilde1

Oscar Wilde fotografado por Napoleon Sarony, em 1882. © Biblioteca do Congresso dos EUA

 “A melhor maneira de livrar-se de uma tentação é ceder a ela”. “Viver é a coisa mais rara do mundo; a maioria das pessoas se contenta em existir”. “Há duas tragédias na vida: uma é satisfazer seus desejos, e a outra é não satisfazê-los”. “Dizer que um livro é moral ou imoral não tem sentido; um livro é bem ou mal escrito”. “Democracia: a opressão do povo, pelo povo e para o povo”. “Quando os deuses querem nos punir, eles atendem as nossas preces”.

Quem já não leu ou ouviu uma destas máximas? As espirituosas sentenças e aforismos se reproduzem às dezenas pela pena do escritor irlandêsoscar-wilde4 Oscar Wilde (1854-1900), de quem se diz que hoje seria um incansável fraseador do twitter de 140 caracteres. O dândi provocador, esteta, crítico de arte, dramaturgo e autor de poemas, contos, ensaios e de um romance é atualmente tema de uma inédita exposição no Petit Palais, em Paris. Desde sempre admirado na França, Wilde até hoje nunca havia sido celebrado por meio de uma mostra no país. Seu bisneto, Merlin Holland, deu sua versão, em uma entrevista, para esta lacuna: “Enquanto em 1900, a Inglaterra vilipendiava meu bisavô, que O Retrato de Dorian Gray era condenado ao desprezo por apologia da homossexualidade, e que Salomé era acusado de encorajar o incesto e a necrofilia, Wilde era adulado na França e em toda a Europa. Para os franceses, em particular, ele foi rapidamente incluído no panteão das grandes figuras literárias. O que explica, aliás, que tenha levado tanto tempo para se montar esta exposição em Paris! Não parecia necessário”.

O Petit Palais levou dois anos para organizar o aguardado evento, batizado de “Oscar Wilde, o impertinente absoluto”. O percurso coloca em perspectiva a escrita do personagem e seus objetos pessoais com obras que o influenciaram, num total de cerca de duzentas peças coletadas em todo o mundo. A visita debuta com o artista do barroco italiano Guido Reni (1575-1642) e sua obra-prima “São Sebastião”(1615), tela que raramente deixa o Palazzo Rosso de Gênova e é exposta pela primeira vez em Paris. Em 1877, Wilde se extasiou com o “ideal de beleza” da pintura, e em seus últimos anos na capital francesa adotou o pseudônimo Sebastian Melmoth, em homenagem ao padroeiro.

oscar-wilde2

“São Sebastião”, de Guido Reni / Reprodução

Há também a célebre série de retratos feita pelo fotógrafo Napoleon Sarony, quando Wilde desembarcou em 1882 em Nova York, para uma turnê de conferências no país sobre o Renascimento inglês nas artes. Paris acolheu Oscar Wilde após ele ter cumprido uma pena de dois anos de cárcere com trabalhos forçados na Inglaterra vitoriana, acusado de imoralidade. Morreu na manhã de 30 de novembro de 1900, aos 46 anos, doente e arruinado, em seu quarto no L’Hotel, no número 13 da rua des Beaux-Arts (onde também se hospedaram Jorge Luis Borges, Jim Morrison ou Serge Gainsbourg), e hoje descansa em seu visitado túmulo no cemitério Père-Lachaise. A exposição permanecerá aberta até 15 de janeiro de 2017.

A suíte Oscar Wilde, no L’Hotel. © L’Hotel

A suíte Oscar Wilde, no L’Hotel. © L’Hotel

*Fernando Eichenberg é jornalista e escritor e mora em Paris, onde trabalha como correspondente internacional para diversos veículos. Pela L&PM publica os livros Entre Aspas volume 1 e Entre Aspas volume 2.

Antigo presídio em que Oscar Wilde escreveu “De Profundis” vira centro cultural

Em 20 de novembro de 1895, seis meses depois de ter sido condenado por atentado ao pudor e homossexualismo – e de ter passado pelos presídios de Pentonville e  Wandsworth -, o escritor Oscar Wilde foi transferido para a prisão de Reading, onde recebeu o número de matrícula C.3.3. Foi lá que o autor de O retrato de Dorian Gray testemunhou o enforcamento do soldado Charles Thomas Woolridge pelo assassinato de sua esposa, o que o inspirou a escrever “A balada da prisão Reading”. No ano seguinte, iniciaria a obra De Profundis, seus escritos de cárcere.

Este ano, depois de permanecer fechada por um bom tempo, foi anunciada que a antiga prisão Reading seria transformada em espaço cultural. E assim, em setembro, uma exposição foi inaugurada com a participação de artistas, escritores e ex-prisioneiros, intitulada “Inside: Artist and Writers in Reading Prison“.

Oscar Wilde Reading Prison expo

A mostra tem como uma dos focos a obra de Wilde e a leitura de De Profundis por vários artistas, entre eles a cantora Patti Smith. Ela ficará aberta ao público até 4 de dezembro (para mais informações e localização clique aqui). No vídeo abaixo é possível ver um trecho da leitura de Patti Smith:

Uma das tragédias da vida em prisão é que ela transforma o coração de um homem em pedra. O afeto, como todos os outros sentimentos, necessita ser alimentado. Eles morrem facilmente de inanição. Uma carta breve, quatro vezes por ano, não é suficiente para manter vivos os sentimentos mais suaves e humanos através dos quais, em última análise, a natureza é mantida sensível às influências boas ou belas, as quais podem curar uma vida desgraçada e em ruínas. (Trecho de De profundis, Coleção L&PM Pocket, tradução de Júlia Tettamanzy)

O triste fim de Lima Barreto

Ele era neto de escravos e, coincidência ou não, a abolição da escravatura foi decretada no exato dia de seu aniversário de sete anos. O carioca Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu no dia 13 de maio de 1881, filho de um tipógrafo e de uma professora primária que escolheriam como seu padrinho o Visconde de Ouro Preto. Criança, morou na Ilha do Governador com o pai e, crescido, tornou-se jornalista e um escritores brilhante (e polêmico). Sua mais famosa obra, “Triste fim de Policarpo Quaresma”, começou a ser publicada em 1911 no formato de folhetim e, em 1915, virou livro.

Alcoólatra, Lima Barreto tinha delírios, foi perseguido várias vezes pela polícia e acabou internado em clínicas psiquiátricas do Rio de Janeiro. No Natal de 1919, por exemplo, ele foi levado ao Hospício Pedro II, onde permaneceu até 2 de fevereiro de 1920.

Lima Barreto fotografado em 1919, durante sua internação no Hospício Pedro II

Lima Barreto fotografado em 1919, durante sua internação no Hospício Pedro II

Lima Barreto, como seu mais célebre personagem, acabou tendo também um triste fim. Morreu em 1 de novembro de 1922, de ataque cardíaco causado pelo excesso de álcool. Ele não chegou a ver publicado seu livro Os Bruzundangas, escrito em 1917, mas que só veio à público postumamente.

Além de O triste fim de Policarpo Quaresma, a Coleção L&PM Pocket publica o texto integral de Os Bruzundangas com prefácio do próprio Lima Barreto.

E na L&PM WebTV, é possível assistir a um documentário sobre a vida de Lima Barreto. Clique aqui.