Arquivo mensais:agosto 2016

Baudelaire fecha os olhos

De agora em diante, Baudelaire está preso à cama, enquanto a Sra. Aupick, nada mais podendo fazer pelo filho, volta para sua casa normanda. Os amigos infalíveis, como Nadar Banville, Champfleury e Asselineau, sucedem-se em seu quarto e tentam alegrar seus tristes dias. Apollonie Sabatier, a Presidenta, também vai seguidamente vê-lo e fica longas horas a seu lado.

Quanto a Jeanne…

Ninguém sabe onde ela está, ninguém próximo ao poeta a vê nem de perto nem de longe, nem em Paris nem alhures, pelo menos há um ano.

O tempo passa, inexorável, impiedoso, feroz, sinistro, assustador, e agora Baudelaire só responde com duas ou três palavras, com pausas formuladas em voz trêmula, depois com monossílabos e imperceptíveis movimentos das pálpebras e dos lábios.

Sua mãe acorre da casinha de brinquedo. Ela não larga sua mão. Cerca o filho de cuidados, sentada lacrimosa em uma poltrona de acompanhante; fala com ele baixinho, balbucia, evoca vagas e longínquas lembranças. Espera em silêncio que os anjos passem.

Na sexta-feira, dia 30 de agosto de 1867, ela chama um padre e pede encarecidamente que administre a extrema-unção a seu filho. E ela reza. Ela reza a Deus e aos santos, com as mãos juntas, o olhar úmido.

Na manhã seguinte, por volta das onze horas, quando Baudelaire morre em seus braços e ela fecha os olhos dele para sempre, a Sra. Aupick ainda não sabe que colocou no mundo, 46 anos e quatro meses atrás, um dos grandes mágicos da literatura.

(Trecho final de Baudelaire, de Jean-Baptiste Baronian – Série Biografias L&PM Pocket – disponível também em e-book)

Baudelaire em 1863, quatro anos antes de morrer

Baudelaire em 1863, quatro anos antes de morrer

De Charles Baudelaire, a L&PM publica Paraísos Artificiais – O haxixe, o ópio e o vinho e O Spleen de Paris.

O vinho é como o homem: não se saberá nunca até que ponto podemos estimá-lo ou desprezá-lo, amá-lo ou odiá-lo, nem de quantos atos sublimes ou perversidades monstruosas ele é capaz. Portanto, não sejamos mais cruéis com ele do que com nós mesmos e tratemo-lo como um igual.

O triste fim de Friedrich Nietzsche

Melancólico e solitário, Nietzsche foi atormentado pelo fantasma da doença mental de seu pai e acabou acometido do mesmo mal.

Durante o verão de 1900, seu estado de saúde se agravou por causa de uma bronquite que evoluiu para doença pulmonar. Vítima de apoplexia, Friedrich Nietzsche morreu às onze e meia da manhã de um sábado, 25 de agosto, aos 54 anos.

Ainda que suas dores físicas tenham sido a origem e a causa de seu isolamento exterior, é no sofrimento psíquico que se deve buscar as raízes de seu individualismo exaltado: foi  ele que levou Nietzsche a ressaltar o caráter único de uma solidão como a sua. A história desse homem “único” é, do começo ao fim, uma biografia da dor e não tem nenhum ponto comum com qualquer individualismo geral, uma vez que seu conteúdo não provém do “contentamento de si mesmo”, mas da força com que Nietzsche consegue “suportar a si mesmo”. Acompanhar as alternâncias dolorosas de ascensão e declínio que demarcam seu desenvolvimento intelectual é reler toda a história dos ferimentos que ele se inflingiu. “Esse pensador não precisa de ninguém que o refute: para tanto ele se basta”. Essas palavras audaciosas que Nietzsche emprega acerca de sua própria filosofia escondem uma luta heroica, longa e dolorosa consigo mesmo. (Lou Andreas-Salomé sobre Nietzsche – Em Nietzsche, Dorian Astor, Série Biografias L&PM)

Este impressionante vídeo traz cenas de Nietzsche, captadas em 1900:

A L&PM tem uma série inteira dedicada a Nietzsche. Clique aqui para ver.

Pesquisa comprova: livros são uma fonte da juventude

Um estudo chamado “A Chapter a Day” (Um Capítulo por Dia), realizado pela Universidade de Michigan, parece ter comprovado que ler livros influencia na longevidade. Segundo a pesquisa, que entrevistou 3.635 pessoas acima de 50 anos, a leitura, aparentemente, reduziu em 20% os riscos de morte. Essas pessoas foram acompanhadas pelos pesquisadores durante 12 anos.A pesquisa utilizou dados do Health and Retirement Study e foi publicada na revista “Social Science & Medicine”.  Além de verificar se e quanto as pessoas liam, o estudo precisou “descontar” o efeito de alguns fatores que influenciam a longevidade, entre eles: câncer, doenças de pulmão, infarto, diabetes e hipertensão. Estado civil e situação e trabalho, histórico de depressão, idade, sexo, raça e condição econômica também foram considerados.

E realmente não há dúvida: a leitura de um bom livro ajuda na concentração, pensamento crítico, empatia, comportamentos mais saudáveis e menos estresse. E tudo isso, sem dúvida, mantém a saúde da mente e, consequentemente, do corpo.

E aí? Bora mergulhar num livro pra ter vida longa?

Tolstói foi um dos que mergulhou fundo nessa fonte da juventude

Tolstói foi um dos que mergulhou fundo nessa fonte da juventude

Julia da Rosa Simões comenta desafio ao traduzir Montaigne

Jornal Zero Hora – Segundo Caderno, 19/08/2016

Julia da Rosa Simões está vertendo para o português os “Ensaios” do autor. O primeiro volume já está nas livrarias

Julia Simões está traduzindo os Ensaios de Michel de Montaigne (1533 – 1592) para a L&PM Editores. Montaigne deixou três volumes da obra, sendo que o inicial foi dividido em dois tomos. O primeiro já está nas livrarias. O segundo deve ser lançado nos próximos meses. No novo volume, a tradutora deparou com o termo “chacunière”, a partir do qual escreveu o texto a seguir.

Julia Simões visitou no ano passado o castelo no qual Montaigne escreveu os "Ensaios", em Bordeaux, na França.   Ao lado, a capa do primeiro volume traduzido por Julia, já nas livrarias

Julia Simões visitou no ano passado o castelo no qual Montaigne escreveu os “Ensaios”, em Bordeaux, na França. Ao lado, a capa do primeiro volume traduzido por Julia, já nas livrarias

 No capítulo 34 de seus Ensaios, intitulado De um defeito de nossa administração, Montaigne aborda um hábito de seu pai, que reconhece como valoroso mas que teme não conseguir reproduzir: “Método que sei elogiar mas não seguir”. O pai de Montaigne contratava alguém para escrever um diário, como diz o ensaísta, para registrar “as memórias da história de sua casa”. Coisa útil para quando surgisse uma dúvida ou dificuldade, mas também agradável quando o tempo apagasse as lembranças.

Montaigne encerra o ensaio com uma frase que contém uma expressão que me encanta: “Usage ancien, que je trouve bon à rafraichir, chacun en sa chacunière: et me trouve un sot d¿y avoir failly”. Chacun en sa chacunière. Não consigo não sorrir. Fico fascinada com a palavra chacunière, que soa a neologismo e, ao mesmo tempo, a arcaísmo. Antes de dar uma conferida no dicionário, penso na expressão “cada um com seu cada qual”. Que é boa, me agrada em português. Mas não é a mesma coisa: lembra demais o batido “sempre tem um pé torto para um chinelo velho”. Comentei-a com um amigo, apreciador das sutilezas da língua, que sugeriu uma versão em carioquês: “cada um com seus pobrema”. Ok, vale descontrair, mas não é exatamente isso o que está em questão para Montaigne.

Ao ir atrás do significado e da etimologia de “chacunière”, não me surpreendi ao ver que um dicionário como o Le Petit Robert não a registra. O excelente Trésor de la Langue Française Informatisé, no entanto, sempre corresponde às expectativas. Segundo ele, a palavra diz respeito a um local para o qual o indivíduo se retira, como uma casa ou um apartamento. Um trecho de Théophile Gautier, de 1863, confirma o uso, que segundo o dicionário é informal. Outro uso, menos comum mas também possível, seria o de considerar a chacunière a mulher do chacun. Muito menos interessante. O Grand Robert, por sua vez, dá a palavra como alusão arcaica à “casa de cada um” (maison de chacun), algo como um mutante “individuário” (casa do indivíduo).

Para quem gosta de perder tempo com essas coisas, como eu (em vez de seguir em frente com a tradução), foi bacana descobrir, ainda no TLFi, agora na seção Etimologia e História da Palavra, que o primeiro uso da expressão data de 1532. Rabelais, em seu Pantagruel (capítulo 14), já dissera: “Ainsi chascun s¿en va à sa chascunière”.

Interessante… 1532! Estou trabalhando com a versão de 1595 do Montaigne. Pontas parecem se unir – na minha cabeça, pelo menos. Algo pisca para mim, não sei bem o quê. Rabelais, um dos criadores da prosa francesa, segundo Sainéan em La langue de Rabelais, de 1922-23. (O oráculo Google pode nos levar a maravilhas.) Para Sainéan, chascunière seria uma “formação ou derivado analógico” de chaumière (choupana, cabana). A palavra também pode ser encontrada, segundo esse autor, em De Périers e Montaigne, em Madame de Sévigné e Scarron – todos fascinados, informa uma nota da edição da Bibliothèque de la Pleiade, por essa “fantasia verbal de consonância jurídica”.

Fico devendo na consonância jurídica, mas já estou satisfeita. É isso mesmo. Também em Rabelais chacunière tem a ver com a casa, o lugar de cada um. Daí que minha tradução da frase fica: “Costume antigo, que considero bom reavivar, cada um em seu lar; e me considero um tolo por ter falhado nisso”. Perco a sonoridade, a alusão, mas consigo manter o sentido.

E não é que, de repente, me ocorre a tradução perfeita, ou o equivalente exato da expressão para o português coloquial atual? O infame “cada um no seu quadrado”.

E não é que, de repente, me ocorre a tradução perfeita, ou o equivalente exato da expressão para o português coloquial atual? O infame “cada um no seu quadrado”.

 

O dia em que morreu Cleópatra

Segundo a Wikipedia, a rainha Cleópatra morreu em 12 de agosto de 30 a.C..

No livro Cleópatra, de Christian-Georges Schwentzel, Série Encyclopaedia L&PM, o autor aborda as várias versões sobre o polêmico suicídio da ambiciosa e sedutora soberana (mas não se detém ao dia propriamente dito). Se foi na data de hoje, ou não, que Cleópatra morreu, na verdade não importa. Certo mesmo é que ela era e continua sendo uma das figuras mais célebres da Antiguidade.

CleopatraComo morreu Cleópatra? O meio empregado pela rainha para suicidar-se permanece, como sempre, coberto de mistério. A versão oficial adotada pelos romanos, segundo a qual a rainha teria sido picada por uma serpente, é discutível, mas não deve ser descartada definitivamente. (…) “Trouxeram a Cleópatra, dizem, uma serpente escondida sob figos cobertos de folhas: ela assim havia ordenado para que, ao pegar as frutas, a serpente a picasse sem ela perceber. Mas, ao abrir o cesto de frutas, ela teria visto o réptil. ‘Aí está!’ exclamou, e apersentou o braço nu à serpente. Outros afirmam que ela guardava essa serpente num vaso e que o animal, irritado ao ser provocado com um fuso de ouro, lançou-se contra ela e a picou no braço. Mas nada se sabe ao certo, em realidade, sobre o tipo de morte. Correu o boato de que ela sempre tivera veneno escondido numa agulha oca que trazia nos cabelos. Mas não se viu em seu corpo nem mancha, nem traços de veneno.

A rainha do Egito também foi eternizada por ninguém menos do que Shakespeare que escreveu a peça Antônio e Cleópatra. A morte dela, claro, também está na peça.

antonio e cleopatraVem cá, tu, criatura letal, com teus dentes afiados desata de uma vez este nó intrincado da vida. Bobinha! Minha pobre criatura venenosa, encoleriza-te e trata de me despachar. Ah, se pudesses falar, eu gostaria de te ouvir chamando o grande César de cretino, um marmanjo que foi feito de bobo.(…) Doce como um bálsamo, suave como uma brisa, acariciante… Ah, Antônio!… Sim, sim, eu te quero também. Por que ficar mais tempo… [morre]

Divulgado o primeiro trailer da série de Woody Allen

Na verdade, é mais um teaser do que um trailer. Mas não importa, ao assistir ao primeiro vídeo de divulgação de “Crisis in Sex Scenes”, série criada, dirigida e protagonizada por Woody Allen, a gente já sente que o clima não poderia ser mais… Woody Allen.

Dá só uma olhada:

Produzida para a plataforma de streaming da Amazon, “Crisis in Six Scenes” terá seis episódios de 30 minutos cada.  Como dá pra ver, o humor estará em cena o tempo inteiro e a série se passa na década de 1960 durante os tempos turbulentos dos Estados Unidos. Quando uma família de classe média suburbana é visitada por um hóspede, suas vidas viram completamente de cabeça para baixo.

No elenco, estão Miley Cyrus, Elaine May (“Trapaceiros”), Rachel Brosnahan (“House of Cards”), John Magaro ( “Orange Is the New Black”) e Sondra James (“Royal Pains”).

A estreia está marcada para 30 de setembro.

Já conhece os livros de Woody Allen publicados pela L&PM? Clique aqui e dê uma espiada.