Arquivo mensais:dezembro 2013

Brasileiros (entre outros) nos Diários de Andy Warhol

Por Antonio Bivar*

Num único volume de mais de mil páginas, editado por Pat Hackett, o Diários de Andy Warhol foi primeiro publicado em 1989, dois anos depois de sua morte. A tradução brasileira, por Celso Loureiro Chaves, saiu aqui no mesmo ano, pela L&PM. Daí que, 15 anos depois, passando por uma banca de revistas vi que os Diários estavam de volta, agora, para conforto do leitor, publicados em dois volumes pela L&PM Pocket (R$ 29 cada volume). Na banca só havia o primeiro volume e não resisti: comprei. Eu já tinha lido a edição americana assim que saiu e era novidade. Na releitura, 15 anos depois, sem o compromisso tipo obrigatório da novidade, o prazer é maior e com todo o L’Air du Temps de décadas já bem passadas. Ainda que grosso, esse primeiro volume (600 páginas, de 1976-1981) é um registro warholiano do turbilhão de festas, eventos, lugares e nomes coruscados na explosão do culto às celebridades, culto que teve seu primeiro surto naquela época. Todas as manhãs Andy Warhol ditava por telefone a Pat Hackett como fora o seu dia anterior, e Pat, exímia taquígrafa tudo anotava. Diário é uma espécie de sacola onde se joga tudo. De modo que, da sacola do Andy pesquei algumas pérolas, entre as quais algumas em que o diarista cita brasileiros com certa intimidade. E como estamos no ano da Copa no Brasil, vou começar pelo que Andy Warhol conta sobre Pelé. E outras pérolas, na sequência, para dar uma ideia dos gossips dos Diários de Andy. Camp as camp can.

Quarta-feira, 13 de junho de 1977. De táxi até a Rockefeller Plaza para ir ao escritório da Warner Communications ver Pelé, o jogador de futebol que está sendo fotografado para a Interview. Ele é adorável, lembrou que me encontrou uma vez no Regine’s. Ele tem uma cara engraçada, mas quando sorri fica lindo.

Terça-feira, 27 de setembro de 1977. Ahmet Ertegun telefonou convidando para o jantar em homenagem a Pelé. Meu retrato de Pelé seria apresentado, o pai e a mãe de Pelé estavam lá e eles são uma graça, e a mulher dele é branca, mas todo mundo é de uma cor diferente na América do Sul – os pais dele também são de cores diferentes.

Sexta-feira, 6 de janeiro de 1978. Richard Weisman telefonou e disse que Pelé estava indo à Coe Kerr Gallery e então tive que ir lá autografar (táxi $ 5). Pelé é gentil, me convidou para ir ao Rio como seu hóspede (táxi para casa $ 4).

Segunda-feira, 29 de maio de 1978. Caminhamos até o One Fifth para almoçar e no caminho vi Patti Smith de chapéu coco comprando comida para o gato dela. Convidei-a achando que recusaria, mas ela disse “Que bom!”. Patti não queria comer muito e por isso comeu metade do meu almoço. Não parecia feia – se se lavasse e vestisse melhor.

Segunda-feira, 5 de junho de 1978. Jerry Hall estava com o mesmo vestido verde Oscar de la Renta com o qual estava na última vez que saí com ela, e quando entramos no elevador notei que ela cheira no sovaco, que não tomou banho antes de se vestir. Portanto acho que Mick [Jagger] deve gostar do cheiro.

Sexta-feira, 1 de dezembro de 1978. Coquetel no escritório antes do jantar para Elizinha Gonçalves no 65 Irving. E fui convidado para a festa de Natal de Jackie O., mais uma vez.

Domingo, 4 de março de 1979. Fomos ao Laurent onde [Salvador] Dalí tinha nos convidado a jantar, havia umas quarenta pessoas lá. Então os garotos quiseram ir à festa da Xenon para Pelé. Nova York está tão cheia de brasileiros que parece que aqui é o carnaval.

Quarta-feira, 14 de março de 1979. Festa da Cartier que Ralph Destino estava oferecendo em comemoração ao aniversário do relógio de pulso de Santos Dumont. Bob ajudou a contatar celebridades (Paulette Goddard, Truman Capote…). E Monique Van Vooren estava lá, disse que Nureyev iria: “Se é para ganhar relógio de graça ele virá.” E naquele momento ele entrou. O relógio de pulso foi inventado a partir da ideia de Santos Dumont, que era piloto.

Quinta-feira, 5 de abril de 1979. Busquei Catherine [Guinness] e fomos para o Regine’s. Paloma Picasso estava lá com o marido e o namorado. Neil Sedaka chegou com a família. Paloma apaixonou-se perdidamente por Neil. Disse que quando tinha dez anos de idade, na Argentina, costumava cantar “Sweet Sixteen” em português e espanhol, e aí cantou para Neil nessas línguas e ele adorou, ficou muito impressionado com ela.

Quarta-feira, 31 de outubro de 1979. Fiquei uptown toda manhã e aí fui encontrar Elizinha Gonçalves e Bob [Colacello] na Mayfair House e caminhamos até o Maxwell’s Plum. Nosso atraso foi conveniente, porque todos estavam esperando para nos ver. Estava cheio, tivemos que fazer força para entrar.

Segunda-feira, 8 de setembro de 1980, Miami. Acho que lugares quentes enlouquecem as pessoas. Fritam o cérebro da gente. No avião, de volta a NY uma senhora sentada na poltrona à minha frente pediu um autógrafo e eu autografei um saquinho de enjoo para ela.

Sexta-feira, 5 de dezembro de 1980. E será que contei que Florinda Bolkan veio para ser retratada? Ela não queria fazer nada sem que Marina Cicogna dissesse ok – nem mexer a cabeça. E [a Condessa] Marina parece uma motorista de caminhão, empurra todo mundo, e se isso é amor, então acho que isso é que é amor.

Domingo, 26 de abril de 1981. Jantar no Da Silvano. E Anna Wintour estava lá. De início não consegui lembrar o nome dela, mas por fim lembrei. Acaba de ser contratada pela revista New York, para ser editora de moda. Queria trabalhar na Interview mas não a contratamos. Talvez devêssemos tê-la contratado. Mas não acho que ela sabe se vestir, na realidade se veste muito mal.

Quarta-feira, 10 de junho de 1981. Bem, minha filosofia de vida é: a vida não é digna de ser vivida sem saúde e saúde é riqueza – é melhor que dinheiro e amizade e amor e qualquer outra coisa.

* Texto escrito para a edição de janeiro de 2014 da revista Joyce Pascowitch, em breve nas bancas.

A “mulher feia” de Claudia Tajes vai ao teatro em janeiro

A peça A vida sexual da mulher feia, uma adaptação do livro homônimo de Claudia Tajes, estreia no Teatro Folha, em São Paulo, no dia 10 de janeiro de 2014. A história é uma saborosa crítica à ditadura da beleza e, nesta adaptação de Julia Spadaccini, virou um monólogo cômico dirigido e protagonizado pelo ator Otávio Müller. No palco, a protagonista do livro – a horrorosa Jucianara – virou Maricleide e, pela foto de divulgação, dá para perceber que Otávio pretende investir no lado engraçado e mais caricato da personagem.

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O Teatro Folha fica no Shopping Pátio Higienópolis e a temporada vai de 10 de janeiro a 2 de março, com sessões às sextas (às 21h30), sábados (duas apresentações, às 20h e 22h) e domingos (às 19h30), com ingressos entre R$ 50 e R$ 70.

Marilyn e o Chanel nº5

Esta é Marilyn Monroe num momento descontraído e natural instantes antes (ou depois, não se sabe) da foto que a marcou para sempre como garota propaganda do perfume Chanel nº5. Os registros são do fotógrafo Ed Feingersh, e foram feitos em 1955, no camarim da atriz.

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Depois de quase 50 anos, foi encontrado o áudio em que Marilyn faz a famosa declaração de que usa apenas Chanel nº 5 para dormir, o que a tornou, oficialmente, garota propaganda da marca. Leia mais sobre a nova campanha publicitária da Maison Chanel com Marilyn Monroe neste post.

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A famosa foto que funcionou como propaganda espontânea para o Chanel nº5 por mais de 50 anos

Marilyn Monroe é a nova garota propaganda do Chanel nº5

Uma gravação inédita, encontrada recentemente, foi o ponto de partida para a Maison Chanel escolher a nova garota propaganda de seu perfume mais célebre, o ‘Chanel nº5’. A musa em questão já era vinculada à marca há décadas, mas a descoberta desse áudio oficializou a declaração e possibilitou a criação de um filme publicitário que antes seria impossível.

O áudio foi gravado em abril de 1960, durante uma entrevista que Marilyn Monroe concedeu a Georges Belmont, então redator chefe da revista Marie Claire. Nela, a loira explica a declaração que fez para a Revista Life em 1952:

“Me fazem todo tipo de pergunta… Por exemplo: ‘O que usa para dormir? Blusa de pijama? Calças de pijama? Camisola?’ Então eu disse: ‘Chanel nº5’. Porque é verdade! Eu não quero dizer ‘nua’. Mas… é verdade”.

A inconfundível voz lânguida de gata manhosa de Marilyn está acompanhada de imagens da estrela, incluindo a imagem feita por Ed Feingersh, em que ela aparece em seu camarim com um vidro de Chanel nº5 junto ao decote.

Esta foto, como não poderia deixar de ser, está nos anúncios da mesma campanha que traz a frase “O mito torna-se realidade”. Segundo a Chanel, a campanha tem como objetivo revelar a veracidade de uma das frases que transformou Marilyn Monroe em uma lenda.

Na eleição de Miss América, pedem-lhe para pousar ao lado das candidatas. Nesse dia, o vestido branco de poá que ela está usando é tão justo, tão provocante que um oficial do exército pede aos jornalistas que censurem as fotografias. Marilyn afia as armas, fustiga a pudicícia hipócrita contra-atacando com este coquetel de falsa ingenuidade e humor que ela sabe tão bem dosar:

– O decote mais do que profundo do seu vestido foi criticado…

– Ah, é por isso que olhavam para mim. E eu que achei que estavam admirando a minha insígnia de sargento…

– Usou alguma coisa para a foto do calendário?

– O rádio ligado.

E o Chanel nº5 à noite. (…)

(Trecho de Marilyn Monroe, de Anne Plantagenet – Série Biografias L&PM)

 

U2 e sua música para Mandela

Bono Vox era amigo de Nelson Mandela, ativista de suas causas humanitárias e esteve presente em seu funeral. Não foi nenhuma surpresa, portanto, quando foi anunciado que o U2 era o grupo responsável por uma das faixas sonoras do filme “Mandela: A Long Walk to Freedom“, que estreia no Brasil em 2014.

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Feita especialmente para o filme, a canção “Ordinary Love” é a primeira música inédita do U2 em três anos.

“Mandela: Long Walk to Freedom” é uma cinebiografia do líder sul africano e provavelmente terá indicações para o Oscar 2014. Com direção de Justin Chadwick, o filme traz Idris Elba (de “Prometheus”) na pele do homem que desafiou o regime racista do apartheid na África do Sul.

Ouça a música:

Enquanto o filme não chega, você pode ler o elogiado Mandela – O homem, a história e o mito, de Elleke Boehmer que a L&PM Editores lançou recentemente.

The Marlton: de hotel beat a hotel boutique

O The Marlton Hotel, no coração do célebre bairro de Greenwich Village em Nova York, voltou à vida. Nele, Jack Kerouac escreveu Os subterrâneos e Tristessa. E a feminista e escritora Valerie Solanas planejou matar Andy Warhol quando estava hospedada no quarto 214 em 1968. Neal Cassady e Carolyn Cassady, além de Gregory Corso também passaram um tempo por lá. E o novo The Marlton aproveita tudo isso para se promover.

O atual site do hotel abre com uma foto de Jack Kerouac acompanhada da frase “Jack Kerouac penned The Subterraneans and Tristessa at The Marlton”. E se você clicar em um ícone de raio que aparece na página entram outras fotos de famosos. “Julie Andrews sang on Broadway while staying at Marlton in room 326”. Mais um clique no raio e quem surge é o ex-presidente do Equador que nasceu no hotel: “Galo Plaza, President of Ecuador, was born at the Marlton in 1906.” A perseguidora de Andy Warhol aparece com a legenda: “Valerie Solanas plotted the murder of Andy Warhl at the Marlton in room 214.” Finalmente surge Neal Cassady e podemos ler: “Neal Cassady made love to Carolyn Cassady at the Marlon in 1947.”

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O The Marlton, erguido no ano de 1900, atraiu os beat porque estava bem no centro da efervescência cultural novaiorquina, no bairro que Allen Ginsberg amou e cultuou por toda a vida. Fincado na 5 West 8th Street, ele voltou repaginado e agora é um Hotel Boutique idealizado pelo empresário do ramo hoteleiro, Sean MacPherson.

Mas ao olhar as fotos do luxuoso lobby e da requintada suíte, a pergunta que fica é: será que Jack e Neal poderiam se hospedar nele atualmente?

O lobby e uma das suítes do The Marlton Hotel

O lobby e uma das suítes do The Marlton Hotel

O terraço

O terraço

Jack Kerouac lê seus Haicais

Emocionante escutar Jack Kerouac recitando seus Haicais. Experimente:

O Livro de haicais de Jack Kerouac é publicado pela L&PM em edição bilíngue e com tradução de Claudio Willer. Uma obra que reúne mais de quinhentos poemas escritos entre 1956 e 1966 e que revela um lado quase desconhecido de um dos maiores autores da geração beat.

Desci da minha
torre de marfim
E não achei mundo nenhum

* * *

A chuva passou, martelo na madeira
– esta teia de aranha
Cavalga o raio de sol

* * *

Ao sol
asas de borboleta
Como uma janela de igreja.

* * *

Na cadeira
decidi chamar Haicai
Pelo nome de Pop

* * *

O telhado vermelho do celeiro
fatiado
Como carne familiar

 

O leão que devora livros

Apesar da crise financeira que toma conta da economia italiana, o governo surpreendeu com o anúncio de uma política fiscal de incentivo à leitura, que permite abater 19% do imposto de renda para compra de livros, com um limite anual de 2 mil euros. O desconto faz parte do programa “Destino Itália”, que visa fomentar o investimento doméstico e negócios estrangeiros no país. Bem que a moda podia pegar aqui no Brasil 😉

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via Publish News

 

Exposição de pop art em SP exibe quadros de Andy Warhol

A partir de janeiro de 2014, o Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo vai ser tomado por uma avalanche de arte pop, com obras dos americanos Andy Warhol, Jean-Michel Basquiat, Jasper Johns, Roy Lichtenstein e Robert Rauschenberg – os líderes do movimento que estourou nos anos 1960 – e estrelas contemporâneas, como o alemão Gerhard Richter.

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Tela sem título pintada em 1984 por Warhol e Basquiat

Nos Diários de Andy Warhol, o nome mais famoso da pop art revela a relação que tinha com os amigos artistas, fala das exposições que visitaram juntos, das festas e até dos affairs no grupo.

Domingo, 16 de outubro, 1977. David Whitney telefonou sobre irmos juntos ao vernissage de Jasper Johns esta noite no Whitney. (…) De táxi até o Whitney ($2). Bob Rauschenberg me atirou um beijo no elevador e mais tarde veio dizer que era ridículo atirar um beijo e aí me beijou. Jasper estava bebendo Jack Daniel’s. Era uma festa pequena, só para os que emprestaram obras, gente velha. Corru até o andar de baico para conseguir um catálogo e depois fiquei procurando Jasper para que desse um autógrafo, mas não consegui encontrá-lo e aí pedi que Rauschenberg autografasse, e depois encontrei Jasper e ele apagou a assinatura de Rauschenberg e autografou ‘A um emprestador’.”

A exposição reúne 74 obras da coleção do casal alemão Peter e Irene Ludwig, que juntos acumularam por volta de 20 mil peças hoje espalhadas por 12 museus mundo afora. Só a seleção que vem a São Paulo está avaliada em cerca de R$ 500 milhões, e a mostra, orçada em R$ 4 milhões, vai exigir malabarismo logístico semelhante às últimas megaexposições no CCBB. A exposição abre no dia 25 de janeiro e fica até dia 7 de abril, com visitação das 9h às 21h.

via Folha Ilustrada