Arquivo mensais:julho 2011

Quando uma atriz famosa caiu na teia de Agatha Christie

“A terceira peça que tive representada em Londres (todas ao mesmo tempo) foi ‘A Teia da Aranha’, escrita especialmente para Margaret Lockwood. Peter Saunders pedira-me para me encontrar com ela e para conversarmos sobre esse assunto. Margaret Lockwood disse-me que gostava da ideia de eu escrever uma peça para ela e perguntei-lhe, exatamente, de que gênero de peça gostaria. Disse-me imediatamente que não gostaria de continuar desempenhando papéis sinistros e melodramáticos, e que fizera filmes demais, ultimamente, em que fora a mulher má. Queria representar comédias. Acho que estava com a razão, porque tinha enorme talento para comédia, tanto quanto para papéis dramáticos. É ótima atriz e possui um ritmo perfeito, que a torna capaz de dar ao texto seu verdadeiro peso. Também gostei muito de escrever a parte de Clarissa em ‘A Teia da Aranha’. A princípio, houve certas hesitações quanto ao título; hesitamos entre ‘Clarissa Encontra um Cadáver’ e ‘A Teia da Aranha’; mas, por fim, o último título levou a melhor. Ficou em cena dois anos e eu me senti muito feliz com ela. Quando Margaret Lockwood conduzia o inspetor de polícia pelo caminho do jardim, era encantadora.” (Agatha Christie em trecho de sua Autobiografia

Agatha Christie e Margaret Lockwood

Encenada pela primeira vez em 1954 com Margaret Lockwood no papel de Clarissa, A Teia da Aranha  é uma peça de comédia e mistério escrita por Agatha Christie de grande sucesso nos palcos londrinos. Após a morte da autora, o texto foi adaptado pelo também escritor Charles Osborne e virou um romance. Osborne manteve tudo igual ao original – trama, personagens e diálogos – mas acrescentou algumas pequenas descrições para facilitar a leitura (ex.: “Explicou o inspetor”, “Miss Peak exclamou”, “Continuou ele, voltando-se para Clarissa”). 

Antes de chegar à Coleção L&PM POCKET, A Teia da Aranha era inédito no Brasil. Com um enredo bem-humorado, repleto de truques e reviravoltas, esta criação de Agatha Christie começa quando o corpo do desagradável Oliver Costello aparece misteriosamente na casa de campo do distinto casal Henry e Clarissa Hailsham-Brown. Acreditando tratar-se de um acidente, Clarissa decide esconder o cadáver. E é justamente isto o que ela está fazendo quando chega à casa o inspetor Lord, que acaba de receber um telefonema com a denúncia de um homicídio. O que vem depois, além de muitas surpresas, é uma boa dose de diversão.

Quer saber mais sobre a Rainha do Crime e seus livros? Visite o Hotsite Agatha Christie.

Autor de hoje: Machado de Assis

Rio de Janeiro, Brasil, 1839 – † Rio de Janeiro, Brasil, 1908

De origem humilde, era tímido, pobre, mulato e órfão de mãe. Trabalhou muito cedo como aprendiz de tipógrafo e estreou como poeta no jornal A Marmota, empregando-se, logo a seguir, na Imprensa Nacional. Convidado por Quintino Bocaiúva, passou a colaborar no Diário do Rio de Janeiro, no qual publicou contos e crônicas. Produziu ainda poemas, peças teatrais, ensaios e romances. O público e a crítica, desde cedo, consagraram o escritor, que foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras e o seu primeiro presidente. Suas obras são perpassadas por um fino humor e uma ironia amarga. Nelas a elegância do estilo se completa com a correção da linguagem. Em suas narrativas encontra-se a tendência à análise psicológica das personagens, aliada à visão dos costumes da época e à introspecção. Leitor dos grandes autores, sua obra documenta a presença do homem na sociedade brasileira do Segundo Império.

OBRAS PRINCIPAIS: Memórias póstumas de Brás Cubas, 1881; Papéis avulsos, 1882; Quincas Borba, 1891; Várias histórias, 1896; Dom Casmurro, 1900; Memorial de Aires, 1908

MACHADO DE ASSIS por Patrícia Lessa Flores da Cunha

A vida repleta de dificuldades e conquistas de Joaquim Maria Machado de Assis registra a trajetória, até certo ponto típica, do escritor do século XIX: autor de uma profusão de romances, novelas, contos, obras teatrais, ensaios, poesias, resenhas, crônicas políticas, que foi também tipógrafo, repórter, diretor de uma revista, candidato a cargo público, fundador e primeiro presidente da academia de letras de seu país. A atividade literária profissional de Machado de As sis estendeu-se de 1858 a 1906, distribuída entre os vários jornais e semanários da cidade do Rio de Janeiro em que teve atuação jornalística regular.

Em seus escritos, Machado foi um observador implacável e determinado das injustiças – sociais, econômicas, culturais – e, sobretudo, das misérias humanas que formavam o cotidiano da sua época. Um realista, engajado com a realidade, que mostrou por inteiro, utilizando-se, paradoxalmente, da ambiguidade e da dissimulação para produzir um texto surpreendente e marginal, revelando um mundo bifronte e enigmático, sob a aparente neutralidade das histórias convencionais, que todos podiam ler.

Fiel à disposição de não abusar da cor local, soube expressar um brasileirismo interior, discreto, di verso daquele que grassava, de modo ostensivo, em obras de artistas seus contemporâneos, mas, nem por isso, menos autêntico, e com certeza mais original. Sem desprezar o passado, olhou atentamente o presente, detendo-se e inspirando-se na realidade social e psicológica que o cercava para atingir a sensibilidade das gerações futuras, entre leitores e escritores que viessem a perceber, com maior acuidade, as nuances do seu projeto de literatura e pensamento nacional. Nesse sentido, cabia demonstrar, para si e para o seu caro leitor, transformado em peça-chave para a cabal realização desse empreendimento ficcional, qual era o sentimento íntimo que determinava a nacionalidade do fazer literário.

Lidando preferencialmente com situações e caracteres, fórmula genérica que buscou sempre aperfeiçoar a cada incursão sua na matéria ficcional, Machado de Assis compôs, através de sua escritura, um retrato progressivo, porém indefectível, da formação da sociedade brasileira, a partir do momento histórico da sua afirmação como entidade supostamente autônoma. Conseguiu, assim, fixar a cara cambiante do cidadão brasileiro, diante da virada do século, expondo-o nos instantes banais e corriqueiros do dia – e da noite – de um Rio de Janeiro que se metamorfoseava em capital dos trópicos, de modelo europeu, mas de face e fundo bem brasileiros. Optando pela sugestão irônica e sutilmente complacente como modo de escrever, revelou, na dubiedade da farsa, todas as mazelas, misérias, sonhos e esperanças próprias do indivíduo que precisava e queria, enfim, sobreviver intelectual, física e culturalmente, em meio a uma realidade desafiante, em processo de autoconstituição.

Entre suas obras, destacam-se o ensaio “Instinto de Nacionalidade – Notícia de Literatura Brasileira”, publicado inicialmente em Nova York em 1972, e as edições dos romances Ressurreição (1872), A mão e a luva (1874), Helena (1876), Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1891), Dom Casmurro (1899), Memorial de Aires (1908), e dos livros de contos Histórias da meia noite (1873), Papéis avulsos (1882), Várias histórias (1896), Páginas recolhidas (1899), Relíquias da casa velha (1906), entre outros.

Guia de Leitura – 100 autores que você precisa ler é um livro organizado por Léa Masina que faz parte da Coleção L&PM POCKET. Todo domingo,você conhecerá um desses 100 autores. Para melhor configurar a proposta de apresentar uma leitura nova de textos clássicos, Léa convidou intelectuais para escreverem uma lauda sobre cada um dos autores.

Taglierini al funghetto

Sílvio Lancellotti cozinha com personalidade, na primeira pessoa. Suas receitas possuem um inebriante sabor e um gosto que instiga o paladar. A receita de hoje, retirada do livro 100 receitas de macarrão, certamente deixará seu final de semana com um sabor especial.

TAGLIERINI AL FUNGHETTO

Ingredientes para quatro pessoas:

500g de taglierini ou, na sua ausência, fettuccine ou trenette, a massa cozida até um minuto antes do ponto al dente. 1 berinjela, sem as cascas, cortada em dadinhos. Sal. 8 colheres de sopa de azeite de olivas. 4 dentes de alho, micrometricamente picadinhos. 2 colheres de sopa de salsinha verde, bem batidinha. 1 abobrinha, cortada em rodelinhas finésimas, com as cascas. 200g de champignons frescos delicadamente laminados. Orégano, a gosto.

Como preparar:

Coloco os dadinhos de berinjela num escorredor de macarrão. Pulverizo com sal. Misturo e remisturo. Espero que os dadinhos da berinjela transpirem bastante, cerca de quinze minutos. Numa frigideira bem larga aqueço o azeite e, nele, levemente refogo os dentes de alho. Não permito que o alho se doure. Rebaixo o calor. Agrego a salsinha. Mexo e remexo. Incorporo os dadinhos de berinjela. Misturo e remisturo, até que eles comecem a transpirar. Pulverizo tudo com orégano, a gosto. Acerto o ponto do sal. Mexo e remexo. Incorporo o taglierini. Salteio e ressalteio a massa em seu molho. Sirvo, imediatamente, sem nenhum tipo de queijo.

Sábado tem sempre uma “Receita do dia” vinda diretamente dos livros da Série Gastronomia L&PM.

“Ferragus”: crimes e intrigas numa Paris assolada por tragédias e paixões

Desde que o remake da novela “O Astro” começou, o nome “Ferragus” caiu, digamos, na boca do povo. Mas talvez nem todos os telespectadores saibam que o misterioso mentor de Herculado Quintanilha, personagem agora vivido por Francisco Cuoco (e que não existia na versão original da novela), certamente foi inspirado em uma criação de Honoré de Balzac. E não só seu nome como também suas atitudes. Tanto é assim que, em uma das primeiras cenas de “O Astro”, Ferragus fala para Herculano: “Todos os seres humanos querem ser enganados, sobretudo as mulheres…”

Talvez esta frase pudesse estar em um dos livros de Balzac. Mas isso não significa que ele não amasse o sexo oposto. Amava muito, assim como amava Paris. Sobre a Comédia Humana, monumental conjunto de textos composto 89 romances (entre eles “Ferragus“), se disse que – caso tirassem as mulheres – desabaria o monumento. Tirassem os homens, mesmo assim seria uma obra-prima. Claro que é um exagero. Mas mostra que são as mulheres que dominam e dão força e sentido a este definitivo monumento da literatura ocidental. Boa parte da imensa obra de Balzac, escrita compulsivamente em menos de 20 anos, tem a presença impressionante da cidade de Paris. Ela paira sobre os livros com seu charme suntuoso, interagindo com os personagens através de suas sombras, suas ruelas sinistras, enlameadas, seus palácios e seus fiacres soturnos que cruzam as madrugadas.

Em “Ferragus” não é diferente. O personagem título – chamado de “O chefe dos devoradores” é o misterioso líder de uma sociedade secreta parisiense. Mas ele não é o único a se enredar nas tramas balzaquianas, como bem mostra o texto de apresentação da edição da L&PM: “Uma mulher, generosa e bela como um anjo, suspeita de adultério; um jovem oficial que se lança na mais vã e desastratada das investigações; um agente de câmbio perdido nos tormentos da paixão; uma soma de dinheiro que ninguém explica; uma sociedade secreta (Os Treze) na qual os membros se protegem para usufruir do poder ao seu bel prazer; duelos, assassinatos, suicídios; e como pano de fundo, como gigantesco e febril teatro de todas as paixões, a cidade de Paris nos incandescentes anos da Restauração da Monarquia. Todo Balzac já está aqui em Ferragus, que é considerado uma das etapas essenciais da grande obra balzaquiana, um dos romances fundadores da Comédia Humana.”

A grande Marilyn causa polêmica

Na rua, as pessoas correm às dezenas, em seguida às centenas; curiosos, admiradores, policiais, repórteres, fotógrafos; ouvem-se gritos, sirenes; uma agitação não habitual ocorre também no restaurante; os fregueses saem precipitadamente para ir olhar. (…) Milhares de anônimos se reúnem atrás das barreiras protegidas por guardas. O conjunto da polícia nova-iorquina está a postos. Apesar da hora tardia, há engarrafamentos monstruosos nas ruas adjacentes. Nas janelas, centenas de pessoas espiam com os olhos voltados, todos, para uma pequena silhueta branca e loura da qual um enorme ventilador elétrico colocado sob o respiradouro do metrô faz voar o vestido. Todos estão conscientes, possivelmente, de estar vivendo um momento histórico – do cinema e da América. Todos sob a saia de Marilyn, em êxtase barulhento, diante das pernas afastadas de Marilyn, das coxas de Marilyn, da calcinha de Marilyn.

Este trecho da biografia de Marilyn Monroe (Coleção L&PM POCKET) remonta o clima da gravação da célebre cena do filme O pecado mora ao lado (1955), em que Marilyn e seu vestido branco esvoaçante marcaram a história do cinema para sempre. Pois agora, uma estátua recém inaugurada em Chicago, com mais de 8 metros de altura, que congela a cena no exato momento em que o vestido branco de Marilyn levanta, está causando polêmica. Enquanto alguns visitantes admiram a visão, digamos, privilegiada da estrela em uma de suas poses mais famosas, outros acham a obra “Forever Marilyn”, do artista Seward Johnson, uma aberração rude, vulgar e de mau gosto.

Crédito: John Picken no Flickr

O fato é que as opiniões são as mais diversas. Observando isso, o fotógrafo Mike Yen resolveu registrar as reações das pessoas que visitam o monumento e classificá-las de acordo com uma escala que vai de “Coy” (tímido, recatado) a “Crude” (bruto, grosseiro). O resultado está no álbum “Causing a Scene” no Flickr. Veja algumas:

Foto do álbum "Causing a Scene", de Mike Yen no Flickr

Foto do álbum "Causing a Scene", de Mike Yen no Flickr

Foto do álbum "Causing a Scene", de Mike Yen no Flickr

Veja todas as fotos do álbum “Causing a Scene” no Flickr de Mike Yen.

As canções inspiradas em Billy the Kid

“O encontro estava marcado para a hora do nascer da lua. Quando o cavalo deslizou pela ribanceira, derrubando moitas e arbustos retorcidos, os primeiros raios de um luar amarelado refletiam-se na correnteza serena do rio Pecos como os pedaços de um espelho partido. O homem que usava a estrela desmontou, caminhou pela areia branca da margem e olhou ao redor. Cactos lançavam uma estranha sombra ao solo. O vento cálido do verão soprava de montanhas distantes. O homem tinha as espáduas largas e vestia um traje negro. Era alto, quase 1,95m. Dois revólveres Colt 44 lhe pendiam da cintura. O rifle Winchester estava na bainha da sela. Seus olhos brilhavam insondáveis acima do bigode de “matador” (…)”

Assim começa a introdução de Eduardo Bueno para Billy the Kid, livro narrado por Pat Garrett. Pat, antigo companheiro de Billy, virou xerife e, com uma estrela no peito e dois revólveres em punho, caçou e duelou com o ex-amigo, considerado o “mais temido e sanguinário desperado do sudoeste dos Estados Unidos, cuja cabeça estava a prêmio há mais de dois anos”. O duelo mortal (e real) entre Pat Garret e Billy the Kid é, sem dúvida, a mais célebre história de um bandido do velho Oeste. Além de livro, Billy the Kid virou lenda, transformou-se em cult e foi filmado por grandes diretores. Em 1973,  Sam Peckinpah dirigiu “Pat Garret & Billy the Kid” que tem trilha sonora e participação especial de Bob Dylan no elenco (veja aqui o trailer). Mas Bob Dylan não foi o único a se inspirar nesta incrível história. Antes e depois dele, outros músicos narraram Billy the Kid em suas canções. Separamos aqui algumas delas.

Woody Guthrie, cantor e compositor folk, é um dos ídolos de Bob Dylan. Nos anos 1940, Woody foi o primeiro a cantar Billy the Kid em uma guitarra onde estava escrita a frase “essa máquina mata fascistas”:

Em 2009, o rapper holandês Keizer fez a sua versão de Billy the Kid. Imagine se o pessoal do velho Oeste ouvisse isso:

Tom Petty (que já tocou com Bob Dylan) não resistiu à tentação e também escreveu e cantou o seu Billy the Kid que está no álbum Echo, de 1999:

Para terminar, aqui está a música tema que Bob Dylan compôs para o filme “Pat Garret & Billy the Kid”. Esta é faixa instrumental, mas a trilha do filme traz outras canções com letras que contam toda história da dupla, entre elas, as chamadas Billy 1, Billy 2, Billy 3 e Billy 4:

Amigos para sempre

Já contamos esta história aqui no blog, mas ela é tão boa que vale repetir:  em 20 de julho de 1969, Neil Armstrong deu o pequeno passo que seria “um gigantesco salto para a humanidade”. O que o astronauta não sabia era que sua chegada à lua também seria responsável pela criação do Dia Internacional do Amigo. Isso porque, a partir de então, o argentino Enrique Ernesto Febbraro passou a divulgar exaustivamente que o feito era uma “grande oportunidade de fazer amigos em outras partes do universo” e lançou a campanha Meu amigo é meu mestre, meu discípulo é meu companheiro. Tanto ele insistiu que, em 1979, através de um decreto, Buenos Aires adotou oficialmente o dia 20 de julho como aquele dedicado a todos os amigos. Da capital argentina, a data espalhou-se pelo mundo e, hoje, em quase todas as partes do planeta (ou será do universo?) é comemorado o Dia Internacional do Amigo.

Amigos, aliás, não faltam na literatura. Sherlock Holmes e Dr. Watson, Dom Quixote e Sancho Pança, Huckleberry Finn e Jimmy… Sem contar as clássicas amizades dos quadrinhos como estas que seguem logo abaixo e que mostram os amigos Snoopy e Woodstock, Garfield e John e Mônica, Magali, Cascão e Cebolinha. É pra se divertir e compartilhar com seus amigos (e pra ler melhor, clique em cima da imagem):

Manuscritos inacabados de Jane Austen vão a leilão

Manuscritos de uma obra inacabada da escritora Jane Austen foram vendidos num leilão da Sotheby, em Londres, pela “bagatela” de 1.2 milhões de euros – mais ou menos 3 vezes a expectativa prévia de venda. A ótima notícia que vem junto com esta é a de que os originais, que faziam parte de um acervo particular até então, foram adquiridos pela Bodleian Library, a biblioteca mais pretigiada da Universidade de Oxford.

Parte dos manuscritos inacabados de "The Watsons" só pra nos deixar na vontade!

Jane Austen começou a escrever “The Watsons” no início em 1804, mas o abandonou em seguida. O romance conta a história de uma jovem que retorna à casa da família depois de ter sido criado por uma tia rica. Segundo especialistas, os originais de “The Watsons” fornecem informações valiosas sobre o trabalho da autora de Orgulho e preconceitoPersuasão.

Além deste, há vários outros textos de Jane Austen que ficaram inacabados, inclusive o romance “Sanditon” que foi interrompido pela morte precoce da autora em, 1817, aos 41 anos.

Crônicas das Crônicas

O Segundo Caderno do Jornal Zero Hora de hoje, 20 de julho, traz duas crônicas que falam de livros de crônicas: David Coimbra escreve sobre “Feliz por Nada” de Martha Medeiros e Fabrício Carpinejar sobre “A massagista japonesa” de Moacyr Scliar. A seguir, os textos na íntegra:

MARTHA MEDEIROS: SINCERA E RETA
Por David Coimbra*

Martha Medeiros escreve para as mulheres. Os leitores em geral dizem isso, e é compreensível que digam. Porque o texto da Martha Medeiros é um texto suave, direto, sincero, livre de intenções subjacentes, um texto que pode ser lido sem sobressaltos ao se trinchar uma fatia de pão com manteiga no café da manhã, ou entre um telefonema e outro na mesa do escritório. Não há perigo de você se indignar, ao ler um texto da Martha Medeiros. Você não vai atirar o jornal na lata de lixo, nem ligar para cancelar a assinatura. Também não vai ter de repisar uma frase para compreendê-la. Os sentimentos e ressentimentos da vida urbana, as vicissitudes comezinhas e pequenas glórias da existência moderna, isso tudo está cintilando nos textos da Martha Medeiros, mas cintilando sem agressividade e com objetividade. Como são as mulheres. Pegue o livro que a Martha Medeiros vai lançar sexta-feira na Saraiva do Shopping Moinhos, “Feliz por Nada“, da L&PM. O livro já anuncia suas intenções no título. Desde que foi “descoberta” por Zero Hora, há 18 anos, Martha Medeiros escreve sobre a felicidade corriqueira e suas possibilidades. Pegue agora, aleatoriamente, a abertura de algumas crônicas:

“Onde é que você gostaria de estar agora, nesse exato momento?”
“Tenho amigas de fé. Muitas.”
“Estou lendo ‘O quebra-cabeça da sexualidade’, do professor espanhol José Antônio Marina.”
“Eu estava quieta, só ouvindo. Éramos eu e mais duas amigas numa mesa de restaurante e uma delas se queixando, pela trigésima vez, do seu namoro caótico, dizendo que não sabia por que ainda estava com aquele sequelado etcetera, etcetera.”
“Quando eu era guria, adorava novela, mas aos poucos fui abandonando o vício e hoje assisto apenas uma ou outra, sem fissura.”
“Você gostaria de ter um amor que fosse estável, divertido e fácil.”
“Tem se falado muito na falta de limites das crianças de hoje.”

Basta correr os olhos pelas primeiras frases de um texto da Martha Medeiros para perceber que ela está se colocando inteira entre a capitular e o ponto final. Martha Medeiros não se esconde, abre-se para o leitor. Ela é sincera e reta, não há dissimulações entre vírgulas, não há o que ler nas entrelinhas. E é precisamente, justamente, exatamente essa precisa, justa e exata sinceridade que faz da Martha Medeiros um sucesso. As pessoas bebem dessa exposição de sentimentos comuns e se saciam com sua límpida simplicidade. O resultado disso é a bem-aventurança da carreira literária de Martha Medeiros num país de desventuras literárias. Martha Medeiros já teve obras adaptadas para o cinema, para a TV e para o teatro, e é admirada no Brasil inteiro. Apenas um dado, em números precisos, justos e exatos como o texto da Martha Medeiros: Doidas e Santas, outro livro lançado pela L&PM, está na quinta reimpressão de 20 mil exemplares cada. Ou seja: já vendeu 100 mil exemplares. Uma façanha. O que demonstra que os leitores estão errados. Martha Medeiros não escreve para as mulheres. Martha Medeiros escreve para as pessoas.

* Esta crônica foi publicada originalmente no Segundo Caderno do Jornal Zero Hora em 20 de julho de 2011. David Coimbra é escritor, jornalista e editor de esportes de ZH.

Martha Medeiros autografa sexta-feira em Porto Alegre a coletânea de crônicas “Feliz por Nada”

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MOACYR SCLIAR: CONTOS DISFARÇADOS DE CRÔNICAS
Por Fabrício Carpinejar*

Moacyr Scliar (1937 – 2011) foi um atleta de triatlo da literatura brasileira. Nadava, pedalava, corria. Escreveu mais de 80 livros em praticamente todos os gêneros. Só não publicou em poesia para não humilhar seus colegas. Romancista que renovou o imaginário judaico, autor de clássicos como O Centauro no Jardim, quatro vezes premiado com Jabuti, Scliar mantinha seu condicionamento literário pelas crônicas, publicadas quase que diariamente nos jornais Zero Hora e Folha de S. Paulo. Os relatos afetivos e coloquiais formavam uma espécie de diário de seu conhecimento enciclopédico, em que ele comentava sobre qualquer assunto e nome, desde medicina até sociologia, de Antonio Vieira a J. K. Rowling. O escritor gaúcho, falecido em fevereiro, não era um generalista, mas um sábio à moda antiga, com cultura geral sólida, pronto para qualquer discussão e cafezinho.

Não se intimidava diante da complexidade das questões. Ao contrário de intelectuais que se tornaram referência, tal Paulo Francis na década de 1980, jamais escorregou em perfil conservador, mantendo-se sempre curioso e ávido pelas mudanças tecnológicas e de comportamento e aberto a diferentes pontos de vista.

A coletânea de 1984 A Massagista Japonesa, relançada agora pela L&PM, por vias tortas acena para o lado contista de Scliar, possibilitando o reencontro com sua capacidade de mimetizar dilemas do cotidiano e propor um suspense de pensamento. São 35 textos de natureza híbrida entre a narrativa curta e o ensaio. Poderiam constar facilmente em seus livros de contos as tramas de “Muitos e Muitos Graus Abaixo de Zero”, “A Massagista Japonesa”, “O Ocaso da Delação” e “O Homem que Corria”. O núcleo contístico traduz o ponto alto da obra, pelas histórias visível e invisível, concisão da ação e exagero da caracterização, além do final imprevisível.

Scliar maneja a arte de criar lógica da incoerência. Ele nos convence do absurdo a ponto de parecer normal. Como a trama do advogado que se apaixona pela maratona a ponto de transformar o casamento, o escritório e os filhos em meras linhas de chegada de uma corrida interminável pelo melhor tempo. E não é uma metáfora, o sujeito pretende fazer tudo mesmo correndo por Porto Alegre. Uma das virtudes da trajetória do ficcionista, demonstrada com astúcia em “A Orelha de Van Gogh” e “O Carnaval dos Animais”, é justamente exumar metáforas: converter parábolas em situações literais, objetivar o figurado. Na contramão bíblica, transforma o vinho em água, leva a sério a chuva de rãs, traz à tona os efeitos colaterais dos milagres.

Magistral contador de causos, flaubertiano assumido, não deixa nenhum ponto sem nó, nunca desperdiça migalha jogada ao chão (é caminho de volta), não despreza informação abordada antes. Se uma personagem tricota um pulôver é que a roupa vai fazer a maior diferença no desfecho. Nada é avulso. Sua competência é desviar atenção a um contexto de maior movimentação, para que outra zona exploda secretamente e surpreenda o leitor. Exemplo é a antipatia que ajuda a alimentar pelo delator da escola. Afinal, não existe motivo para admirar o guri que dedura por prazer. Toda hora alerta o professor para colegas colando na prova, trocando bilhetes de amor, conversando no fundo. Nem o professor suporta tamanha alcaguetagem e pede que ele procure se concentrar no conteúdo. Ao cabo, o fofoqueiro é pego fumando no banheiro e sumariamente expulso da instituição. O alívio dá lugar a um mal-estar, já que se descobre que o próprio delator se denunciou por bilhete anônimo e tudo aquilo que o movia era uma absoluta carência.

Scliar é cruel sendo emotivo. Um engano supor que A Massagista Japonesa servirá para matar saudade do seu trabalho. De modo nenhum: apenas aumenta sua falta.

* Esta crônica foi publicada originalmente no Segundo Caderno do Jornal Zero Hora em 20 de julho de 2011. Fabrício Carpinejar é jornalista, escritor, poeta, cronista e colaborador do Jornal Zero Hora.

37. Um livro de etiqueta nas paradas de sucesso

Por Ivan Pinheiro Machado*

Celia Ribeiro é uma das grandes jornalistas do país. Há pelo menos quatro décadas, sua opinião e seus comentários sobre moda e comportamento influenciam gerações.

A capa da primeira edição de "Etiqueta na prática" em formato convencional

Pois foi em 1991 que nós decidimos pedir à Celia aquele que seria o primeiro livro brasileiro “moderno” sobre etiqueta. Ela trabalhou no projeto durante quase um ano e nós publicamos uma pequena edição de 1.000 exemplares do livro ”Etiqueta na Prática”, um guia completo para um comportamento “socialmente correto”. Incluía instruções detalhadas de como se comportar à mesa, no trabalho, em festas, o tipo de vestimenta adequada a cada evento, enfim, tudo o que alguém precisa saber para circular em sociedade sem ser notado. Partindo do princípio, é claro, de que as gafes e as maneiras inadequadas, paradoxalmente, são o que realmente chamam a atenção.

Mas o livro “Etiqueta na prática”, lançado no final do ano de 1991, para surpresa geral, acabou vendendo sua edição de 1.000 exemplares em apenas um dia. Reeditamos imediatamente e depois de sucessivas reimpressões, o livro “estourou” no Brasil inteiro, a ponto de a revista Veja, na sua edição de 3 de março de 1992, registrar numa matéria de quatro páginas, o novo “fenômeno editorial”.

Na época, foram muitas as teses que tentavam explicar o enorme sucesso do livro. Em poucos meses alcançamos a cifra de 35 mil exemplares e, 10 anos após o lançamento, já em versão pocket, “Etiqueta na Prática” atingia a extraordinária cifra de 200 mil exemplares vendidos. Surpresos com o sucesso, encomendamos uma pesquisa para descobrir qual era o público leitor do livro. A conclusão foi de que ele era composto, em sua maioria, por mulheres entre 18 e 35 anos. Ou seja, os clientes eram preferencialmente os filhos da geração dos anos 70, cujos pais não davam nenhuma bola à formalidade. E ao chegar na idade em que se entra na convivência social propriamente dita, no trabalho e no lazer, estes filhos da geração hippie, sentiam falta de uma orientação para enfrentar as formalidades do dia a dia. Seja a garota que recebia o seu primeiro convite para jantar com o namorado, seja o rapaz que havia sido convidado para uma recepção à noite ou tinha uma entrevista para emprego, todos encontraram no livro de Celia Ribeiro o roteiro exato de comportamento e traje. Inclusive há no livro tabelas em que ela traduz na prática as indicações de vestimentas (para homem e mulher) que sempre vêm nos convites; “alto esporte”, “tenue de ville”, “tenue de soirée”, “passeio completo”, “recepção”, “Black tie” e por aí vai.

Nos anos 1980, Celia Ribeiro ao lado de Clodovil

Foi então que o mercado imediatamente respondeu e “inspirou-se” no sucesso de Celia. Começaram a surgir dezenas de livros de etiqueta e boas maneiras, sendo que o mais destacado foi “Na sala com Danuza”, de Danuza Leão, que fazia uma muito sutil “resposta” a Celia Ribeiro, como quem diz que a vida poderia ser mais informal. Mas a verdade é que, quando havia uma formalidade, a bíblia a ser seguida sempre era o livro da Célia. E tal foi o sucesso que, 5 anos depois, em 1997, atendendo a centenas de pedidos, Celia Ribeiro escreveu e nós publicamos “Etiqueta na prática para crianças”, com ilustrações do cartunista Miguel Mendes; outro sucesso avassalador, pois hoje, passados 14 anos, este livro é leitura obrigatória em centenas de colégios de primeiro e segundo grau em todo o país.

Célia escreveu ainda “Boas maneiras e sucesso nos negócios”, “Boas maneiras à mesa”, “Casamento e etiqueta” e “Etiqueta Século XXI”. No momento, ela prepara um “Dicionário de etiqueta”, que será lançado diretamente na coleção L&PM Pocket.

*Toda terça-feira, o editor Ivan Pinheiro Machado resgata histórias que aconteceram em mais de três décadas de L&PM. Este é o trigésimo-sétimo post da Série “Era uma vez… uma editora“.