Arquivo mensais:junho 2011

Baker Street, 221b

Por Paula Taitelbaum

Se você sabe um pouco sobre Sherlock Holmes, já deve ter ouvido falar no endereço Baker Street, 221b em Londres. Criado por Sir Arhur Conan Doyle, o número da morada do grande detetive e de seu fiel amigo Dr. Watson era, em princípio, fictício. A rua Baker era real, mas o 221b tinha sido inteiramente criado por ele. No entanto, tudo mudou em 27 de março de 1990 quando então o número passou a existir de verdade. Neste dia, o endereço mundialmente conhecido foi inaugurado em uma casa construida em 1815 para abrigar um museu que quer mostrar a casa de Sherlock Holmes exatamente como ela é descrita nos livros de Conan Doyle. Até os 17 degraus que levam ao piso superior estão lá.

Segundo manda a cartilha de Sherlock Holmes, ele e Watson viveram entre 1881 e 1904 no andar de cima da residência vitoriana que pertencia à Sra. Hudson. Hoje, os dois continuam lá em forma de esculturas, bonecos, souvenires e até de um ator que representa Holmes – e que concede a cada visitante uma conversa de cinco minutos. Pena que o ator, no caso, não é o Robert Downey Jr., mas nem tudo é perfeito, meu caro…

Vale dizer ainda que Sherlock Holmes não está apenas na sua casa, mas subindo pelas paredes da estação de metrô Baker Street (os azulejos têm a silhueta dele!), em uma estátua de bronze em frente à estação e também nos corações de seus tantos fãs, é claro. E por falar em fãs, no museu, você recebe um panfleto onde está escrito “antes de entrar na casa, pergunte-se em qual dessas categorias de visitante você se enquadra: a) Você já ouviu falar sobre Sherlock Holmes e já asssitiu um ou dois filmes sobre suas façanhas, mas ainda sabe muito pouco sobre o grande detetive. Você está visitando a casa por curiosidade. b) Você sabe muito sobre Sherlock Holmes! Você leu a maioria das histórias, viu todos os seus filmes na TV e é um admirador do famoso detetive. Você gostaria de visitar os aposentos para ver se eles são como você imaginou. c) Você é um perito – uma autoridade sherlockiana absoluta! Você pode discutir e debater sobre ele, pois leu e releu todas as sessenta histórias originais escritas por Sir Arthur Conan Doyle e aquelas escritas por outras pessoas – você inclusive pode ter escrito uma história de Sherlock.

Em qual destas categoria você se encaixa? Independente dela, o museu avisa que a visita será memorável e que é permitido tirar fotografias. A seguir, portanto, um álbum com as fotos que fizemos por lá. Entre nele e fique à vontade (e o melhor é que você nem precisará pagar os 6 pounds do museu por esta visita).

A L&PM publica quinze livros com a histórias do detetive Sherlock Holmes.

“Matadouro 5”: a trágica comédia da guerra sem glamour

Matadouro 5” de Kurt Vonnegut é um clássico. Antes de ser um livro “pacifista”, ele é um livro engraçado e sobretudo dolorido, muito longe da glamourização da guerra feita por Hollywood. O centro de tudo é a desastrada participação de Billy Pilgrin na guerra. Foi para o combate, acabou preso pelos alemães e foi testemunha – desde o porão numero 5 de um matadouro – do pior bombardeio da Segunda Guerra; a destruição da bela cidade de Dresden pela força aérea norte-americana. Foi lá que os aliados resolveram fazer uma “operação exemplar” contra os alemães. O resultado foi a morte de 135 mil pessoas, a esmagadora maioria mulheres, velhos e crianças. Havia poucos soldados em Dresden, pois era tida como “cidade aberta”, nome que se dava às cidades que, pelos seus tesouros arquitetônicos, os dois lados concordavam em não bombardear. Mas mesmo assim ela ficou igual à superfície da lua. Afinal, a guerra não tem regulamento, não tem dó nem piedade. Em “Matadouro 5” o gênio de Vonnegut faz com que a história fuja sempre do melodrama. Ele é irônico, tragicômico, satírico e delirante. Seu personagem voa pelo tempo, circula pela guerra, pelo american way of life e pelo planeta de Tralfamador que fica a 717.960.000.000.000.000 km da Terra. A maestria narrativa de Vonnegut põe o leitor em alerta máximo permanente. A morte circunda a história até quase perder a importância. O livro é inundado pela doentia solidão de Billy Pilgrin, o homem que estava em Dresden. Coisas da vida, como ele costuma dizer no livro, sempre que fala da morte.

Quando se chega ao fim, temos a noção muito clara do que é a grande literatura. Sob o clima satírico, quase humorístico, tudo é amargo. E Vonnegut chega à dolorosa conclusão de que o ser humano é inviável e não há heróis quando se matam pessoas. Não importa o lado em que elas estejam. (Ivan Pinheiro Machado)

Em 1972, “Matadouro 5” – cujo título original é Slaughterhouse-Five – foi adaptado para o cinema com direção de George Roy Hill (o mesmo de “Butch Cassidy an the Sundance Kid”) e ganhou três Globos de Ouro na época. Veja o trailer:

O ardente The Globe

Por Paula Taitelbaum

Era verão e o público lotava  o The Globe naquela noite de 29 de junho de 1613 para mais uma estreia de Shakespeare. O céu estava limpo e, sob ele, a maioria dos espectadores permanecia em pé aguardando o início de “Henrique VIII”. Eles eram os chamados “groudlings” e se amontoavam em volta do palco, ao ar livre, em pé ou sentados no chão. No The Globe, uma construção octogonal de madeira, era possível acomodar até três mil pessoas e os que tinham mais recursos sentavam-se nos bancos cobertos. Sob o palco, alguns alçapões guardavam surpresas para durante a encenação. Sobre o tablado, havia uma galeria para ser usada em cenas de varanda, saídas e entradas dos atores ou para os músicos entoarem as canções da peça. 

O espetáculo então teve início e, mais uma vez, ele parecia mostrar que o texto de Shakespeare seria um sucesso. Envolvido nas tramas e dramas do monarca Henrique, o público estava concentrado quando soou o tiro de canhão de uma das cenas. O susto foi grande. Além do estrondo, ele acabou atingindo o telhado do lugar. O fogo espalhou-se rapidamente. E assim, em menos de uma hora, há exatos 398 anos atrás, o The Globe, popular teatro de Londres, foi totalmente consumido pelas chamas. Ninguém se feriu e a maioria dos figurinos e adereços das peças de Shakespeare conseguiram ser resgatados do incêndio.

Apesar do incidente, o teatro que era chão de Shakespeare foi logo reconstruído. Mas em 1642, com os puritanos no poder –  e franzindo a testa para qualquer tipo de entretenimento – o governo ordenou que todos os teatros locais fossem fechados. Desta vez, o The Globe não resistiu às fúria flamejante de gente como Oliver Cromwell, líder da Guerra Civil Inglesa, e sucumbiu, sendo demolido em 1644. Felizmente, Shakespeare, que morrera em 1616, não assistiu a esta triste cena.

Foi só a partir de 1970 que começou-se a falar novamente no The Globe e na possibilidade de uma reentrada dele nos circuito de teatros londrinos, com uma campanha liderada pelo ator e diretor britânico Sam Wanamaker. Anos depois, tiveram início as pesquisas arqueológicas para encontrar o local aproximado do The Globe original e uma réplica do antigo teatro começou a ser erguida em 1989, num terreno que, tudo indica, fica a 100 metros de onde estava o antigo. 

Em 1999, o Shakespeare´s Globe Theatre foi inaugurado, mantendo exatamente as mesmas características daquele erguido à beira do Tâmisa em 1542. A peça que abriu a temporada do novo teatro foi justamente uma das primeiras de Shakespeare a ser encenada no velho The Globe: “Henrique V“.

O Shakespeare Globe na beira do Tâmisa

Hoje, lá está ele imponente em seu estilo “retrô”. E basta pagar uma bagatela de 5 libras para sentir-se um verdadeiro “groudling” dos tempos shakespearianos. Foi o que eu fiz há cinco dias atrás. A tarde estava linda e, sob o céu azul, comprei ingresso para um espetáculo que começava às 14h (há sessões às 14h e às 19h30min). A única ironia é que, justamente naquele dia, a peça em cartaz não era assinada pelo do dono da casa, mas por seu maior concorrente: Christopher Marlowe. Mesmo assim, valeu assistir a “Doctor Faustus” à beira de um palco que, naquele momento, fiingi ser o mesmo em torno do qual Shakespeare orbitava.

Consegui um bom lugar na beira do palco - Foto: Eduardo Bueno

Às 14h em ponto os músicos se acomodaram na galeria - Foto: Paula Taitelbaum

Queria ver Shakespeare, mas era dia de Marlowe - Foto: Paula Taitelbaum

 O Shakespeare´s Globe tem uma lojinha ótima. E o melhor é que dá pra comprar pela internet. Dá uma olhada.

E se David Lynch filmasse “A metamorfose”

Tem livros cujas histórias são tão bem contadas e cheias de detalhes que chegam a ser visuais. Não é a toa que inúmeros diretores já se inspiraram em histórias da literatura para fazer seus filmes como Pedro Almodóvar em Carne Trêmula, Marc Foster no Em busca da terra do nunca e Tim Burton em Alice no país das maravilhas, só pra citar alguns.

Já tentou imaginar como você faria um filme a partir do seu livro preferido? O vídeo abaixo propõem um exercício interessante para estudantes de artes gráficas e cinematográficas: criar uma abertura para um filme (que ainda não foi feito) baseado na história de um livro sob a batuta de determinado diretor, tudo de faz-de-conta. Se David Lynch filmasse A metamorfose, de Franz Kafka, por exemplo, o resultado poderia ser algo mais ou menos assim:

Note que os créditos trazem nomes de pessoas “de verdade” como David Lynch e Meryl Streep, mas é só um exercício. No post Livros reais, filmes imaginários, do jornalista Almir de Freitas no site da revista Bravo!, há outros vídeos inspirados em livros ainda não filmados como O apanhador no campo de centeio, de J.D. Salinger e outros.

34. A história dos quadrinhos

O “Era uma vez… uma editora” de hoje está um pouco diferente. Como Ivan Pinheiro Machado está viajando, o post está menos autoral (mas nem por isso menos histórico). Semana que vem Ivan está de volta.

Tudo começou com um quadrinho: Rango, lançado pela L&PM em 1974. Dois anos depois, foi a vez de um álbum do cartunista e pintor Caulos, Só dói quando eu respiro, considerado o primeiro livro brasileiro de um autor importante que denunciava, através do cartum, a devastação ecológica. Em 1980, vieram os álbuns de luxo europeus clássicos, como os quadrinhos eróticos de Guido Crepax, entre eles História de O e vários títulos de Valentina e Anita.

 

Em meados da década de 80, começaram a ser publicados os álbuns clássicos de autores americanos, com destaque para Spirit, de Will Eisner, Fantasma, de Lee Falk, Batman de Bob Cane e Dick Tracy de Chester Gould.

Mais no final dos anos 1980, chegaram os quadrinhos undergrounds americanos como Freak Brothers de Gilbert Shelton e títulos de Crumb como Minhas mulheres. No meio de tudo isso, Moebius, Dik Browne, Quino, Jules Feiffer, Wolinski, Milton Caniff e outros grandes autores nacionais e internacionais que, juntos, somaram 120 títulos.

Esta coleção durou até os anos 90, mas deixou sua marca, cuja linha editorial serviu de inspiração para novas editoras. A tradição em publicar quadrinhos, no entanto, não se esgotou. Prova disso é que os títulos continuam chegando e fazendo parte do catálogo da editora. A partir de setembro deste ano, terá início a série Clássicos em HQ que somará oito títulos publicados em dez volumes. O primeiro deles será Robinson Crusoé. Depois virão A volta ao mundo em 80 dias, Dom Quixote, A ilha do tesouro, Um conto de natal, Os miseráveis, As histórias das mil e uma noites, Guerra e Paz e Odisseia.

*Toda terça-feira, o editor Ivan Pinheiro Machado resgata histórias que aconteceram em mais de três décadas de L&PM. Este é o trigésimo quarto post da Série “Era uma vez… uma editora“.

A arca de Fernando Pessoa

Precavido e organizado, o poeta português Fernando Pessoa “salvou” boa parte de sua intensa produção literária numa arca. Os poemas que ainda não tinham sido publicados foram organizados e etiquetados pelo próprio Pessoa para garantir que a posteridade não profanasse sua obra.

A arca onde Fernando Pessoa guardava seus manuscritos foi a leilão em 2008 junto com fotos e outros pertences do escritor

Nesta arca, havia um envelope verde com o rótulo “quadras”, cujo conteúdo revela um outro Fernando Pessoa – que também não está em nenhum de seus heterônimos. Eram 60 folhas com 365 quadras até então desconhecidas pelo grande público, que revelam um poeta simples que fazia registros do cotidiano e da vida na aldeia. Este material foi reunido no livro Quadras ao gosto popular (Coleção L&PM Pocket), que conserva desde a ordem dos papéis organizados por Pessoa até a ortografia da época.

Mas, afinal, o que é uma “quadra”?

Na introdução do livro Quadras ao gosto popular, assinada pela escritora Jane Tutikian, há uma explicação:

Vale dizer que este [a quadra] é o mais elementar e popular dos gêneros poéticos, cuja  principal característica é a simplicidade do tema e do esquema métrico, composto por redondilhas maiores (versos de sete sílabas), também conhecidas como “medida velha” – esquema de composição muito utilizado pelos poetas medievais.

Mas a definição do próprio Fernando Pessoa, extraída do livro Missal das trovas e citado na mesma introdução, é muito mais poética:

A quadra é um vaso de flores que o povo põe à janela  da sua alma. Da órbita triste do vaso escuro a graça exilada das flores atreve o seu olhar de alegria. Quem faz quadras portuguesas comunga a alma do povo, humildemente de todos nós e errante dentro de si próprio (…)

Aí vai um pouco da simplicidade e da leveza desta outra face de Fernando Pessoa:

8
Entreguei-te o coração
E que tratos tu lhe deste!

É talvez por ‘star estragado
Que ainda não mo devolveste…

11
Duas horas te esperarei
Dois anos te esperaria
Dize: devo esperar mais?
Ou não vens porque inda é dia?

117
O cravo que tu me deste
Era de papel rosado
Mas mais bonito era inda
O amor que me foi negado

Billy the Kid surpreende mais uma vez

O famoso retrato de Billy the Kid, tido como o único registro em foto do maior serial killer do velho oeste dos Estados Unidos, foi arrematado em um leilão por US$2,3 milhões, superando a expectativa inicial de venda de US$400 mil. O retrato foi dado pelo próprio Billy a seu amigo Dan Dedrick e permanecia com a família até então.

Foi esta imagem que criou a falsa ideia de que Billy the Kid era canhoto. Tanto que o filme feito em 1958 por Arthur Penn (o mesmo diretor de Bonnie e Clyde) sobre a vida do criminoso, com Paul Newman no papel principal, ganhou o título de The Left Handed Gun. Muito tempo depois, descobriu-se que a técnica fotográfica utilizada na época reproduzia imagens invertidas, dando a ilusão de que ele segurava a arma com a mão esquerda.

Para conhecer a história completa de um dos personagens mais enigmáticos do imaginário mundial, leia Billy the Kid da Coleção L&PM Pocket.

O lugar onde nasceu Peter Pan

“Vocês precisam entender que será difícil acompanhar as nossas aventuras se não se familiarizarem com o Kensington Gardens, se não o conhecerem tão bem quanto David o conhece. O Gardens fica em Londres, onde vive o rei, e as crianças o visitam todos os dias, a não ser que estejam decididamente febris, mas ninguém jamais conseguiu percorrer muito rápido. (…) O Serpentina começa aqui perto. É um lago encantado, e há uma floresta submersa no fundo dele. Se você espiar na beira da água, verá as árvores todas crescendo de lá para cá, e dizem que no período da noite também existem estrelas submersas no lago. Se existem mesmo, Peter Pan as vê quando está velejando pelo lago no Ninho de Tordo. Só uma pequena parte do Serpentina fica no Gardens, pois ele logo passa por baixo de uma ponte e se estende para muito longe, até a ilha na qual nascem todos os pássaros que viveram meninos e meninas. Ninguém que seja humano, exceto Peter Pan (e ele é apenas meio humano), consegue chegar até a ilha, mas você pode escrever o que deseja (menino ou menina, moreno ou loiro) num pedaço de papel e depois dobrar o papel em forma de barco e lançá-lo na água, e ele chega à ilha de Peter depois do anoitecer.” (Trecho do primeiro capítulo de Peter Pan em Kensington Gardens)

Se você morasse na frente do Kensignton Garden, como J. M. Barrie um dia morou, provavelmente também ficaria inspirado a criar alguma história, quem sabe um poema, de repente uma música. Os recantos verdes, o lago Serpentine, a ilha cravada na água, as árvores retorcidas, a ponte e os pássaros e tudo o mais que se estendia além das janelas de Barrie, serviu de estímulo para que o escritor criasse os cenários do mundo de Peter Pan. Eu estive lá na semana passada. Eu vi Peter de perto. Eu senti vontade de mergulhar no lago para procurar suas árvores submersas (mas avisos indicam que você não deve tocar na água, pois as algas verdes podem causar “danos à saúde”). Eu atravessei a rua e fiquei orbitando em volta da casa que um dia foi de Barrie. E mesmo que o novo proprietário tenha posto tapumes para evitar as fotos, nós subimos no muro e clicamos o jardim onde muito provavelmente um dia Sir James tomou o seu chá inglês das cinco. (Paula Taitelbaum, que esteve em Kensignton Garden na quinta-feira passada com Eduardo Bueno e fez as fotos abaixo)

O lago Serpentina percorre o Kensington Gardens

As águas e os recantos formam uma paisagem encantada

A seta indica que Peter Pan está por perto

E aqui está ele bem no meio do parque!

O bronze da escultura foi doado pelo próprio J.M. Barrie

Atravessando a rua, chegamos na casa de esquina que um dia foi do escritor

A placa deixa claro que ele morou mesmo aqui

Será que tem alguém em casa?

Como ninguém atendeu, Eduardo Bueno resolveu dar uma espiadinha

E conseguiu fazer uma foto do jardim que um dia foi de Barrie

(se quiser ver mais fotos do passeio pela terra de Peter Pan, vá até a nossa galeria no Flickr e divirta-se!)

Kensington Gardens é um parque público de Londres que fica junto ao Hyde Park. O lago Serpentine (Serpentina) foi criado no séc. XVIII a pedido da esposa do rei George II, Carolina de Ansbach. Há alguns anos, ali também foi construido um memorial em homenagem à Princesa Diana.

Autor de hoje: Eça de Queiroz

Póvoa do Varzim, Portugal, 1845 – † Paris, França, 1900

Viveu sua infância no interior de Portugal, na casa dos avós maternos. Estudou Direito em Coimbra, onde   escreveu e publicou folhetins literários de tendências realistas. Bacharel, mudou-se para Lisboa, onde abriu um escritório de advocacia, exercendo também o jornalismo. Depois de morar em Évora, retorna para a capital, integrando-se ao grupo literário Cenáculo. Em Lisboa, participa das Conferências do Cassino Lisbonense, freqüentando o meio literário no qual pontificavam Antero de Quental e Ramalho Ortigão. Com esse, publicou a novela O mistério da estrada de Sintra (1870), além dos artigos intitulados As farpas (1871), sátira aos costumes burgueses. Participou intensamente da vida literária de seu tempo, contribuindo para a introdução do Realismo em Portugal. Foi diplomata em Havana, na Inglaterra e em Paris, onde terminou seus dias como cônsul. É considerado o principal romancista português.

OBRAS PRINCIPAIS: O crime do Padre Amaro, 1876; O primo Basílio, 1878; Os Maias, 1880; A relíquia, 1887; A ilustre casa de Ramires, 1900; A cidade e as serras, 1901

EÇA DE QUEIROZ
por Luiz Antonio de Assis Brasil

Falar em Eça de Queiroz é dizer Portugal, especialmente aquele Portugal oitocentista, pequeno-burguês, constitucional e conservador. Muito se tem falado na importância da literatura como a melhor forma de conhecimento de determinado universo histórico-cultural. Assim o é; no caso de Eça, porém, não conhecemos apenas aquele Portugal, mas também uma projeção do que deveria ser Portugal. Com ironias de vitríolo, o grande autor nos dá a conhecer um catálogo de imperfeições lusas, consubstanciadas em personagens que, não sendo meros tipos literários, são exemplos de personagens magníficas: a timidez sonhadora e inútil (e transgressora) de Luísa, que trai o marido com o primo Basílio; a circunspecção tola e vazia de um Conselheiro Acácio, do mesmo romance, um homem capaz de discorrer pomposamente sobre as maiores banalidades; a perversão de um Padre Amaro e de um Cônego Dias, clérigos vencidos pela cupidez, homens sem ideal, aproveitadores da situação de desvantagem das paroquianas; a  impossibilidade de nobreza pessoal e familiar nos dias cínicos da contemporaneidade, como se vê em A ilustre casa de Ramires; o brutal retrato da sociedade lisboeta, eivada de vícios, tal como representada em Os Maias; o retrato psicológico mais feliz em toda a literatura portuguesa, aparente na personagem Artur Corvelo, de A capital, um homem que não sabe o que fazer com um talento duvidoso e que acaba na mesma miséria de quando estava em Oliveira de Azeméis, antes de tentar a vida em Lisboa; o pândego e bajulador Raposão, nessa obra sempre citada e sempre lida com o maior gosto, por sua atualidade, A relíquia.

Se Eça de Queiroz tivesse escrito apenas esses livros, já teria seu nome consagrado, mas sua atuação literária foi muito além, exercendo, com igual competência, o jornalismo, a crítica de literatura, o conto e a pequena novela. Em seu tempo, Eça de Queiroz significou a virada que veio inserir seu país na modernidade que, no caso, significava o Realismo. Foi Eça – na companhia de alguns colegas fiéis de Coimbra – que veio materializar esse movimento transformador. O Realismo de Eça foi importante não apenas no plano das inquietações estéticas. Isso seria diminuí-lo. O Realismo de Eça simbolizou a abertura de novos tempos, alterando a sociedade, reavaliando-a e estabelecendo novos parâmetros de entendimento do próprio conceito de cultura em ação. A imagem que temos de Portugal seria radicalmente diversa, não fosse a obra de Eça de Queiroz. Não é exagero consagrá-lo, portanto, como um dos fundadores de sua pátria.

Guia de Leitura – 100 autores que você precisa ler é um livro organizado por Léa Masina que faz parte da Coleção L&PM POCKET. Todo domingo,você conhecerá um desses 100 autores. Para melhor configurar a proposta de apresentar uma leitura nova de textos clássicos, Léa convidou intelectuais para escreverem uma lauda sobre cada um dos autores.

Fãs dos Smurfs provam que “a Terra é azul”

Milhares de pessoas em diversos lugares do mundo – de Bruxelas ao Ibirapuera – saíram às ruas hoje para comemorar o aniversário do cartunista Peyo, que nasceu em 25 de junho de 1928. O “detalhe” é que elas estavam pintadas de azul da cabeça aos pés e usavam touca branca na cabeça, ou seja, eram milhares de Smurfs em tamanho real!

No início, era só uma ideia criativa para celebrar o aniversário do criador das famosas criaturinhas azuis, mas com o tempo, o dia 25 de junho se tornou o Dia Mundial dos Smurfs. Este ano, a comemoração serviu também para divulgar a estreia do filme dos Smurfs, que está marcada para o dia 5 de agosto no Brasil.

Smurfs no Parque do Ibirapuera, em São Paulo

Smurfs em tamanho real foram vistos no Parque do Ibirapuera, em São Paulo (Foto: Rodrigo Dionisio/Frame/AE)

Em Bruxelas, terra natal de Peyo, centenas de pessoas foram às ruas pintadas de azul (Foto: Virgine Lefour/AFP)

E as novidades não param por aí! Deve chegar à L&PM nos próximos dias o livro O Smurf Repórter. No teaser à seguir dá pra ter um gostinho do que vem por aí: