Arquivo mensais:abril 2011

A tataravó de todas as livrarias

Ela foi considerada pelo Guiness Book of Records como a “livraria mais antiga do mundo”. E não há como contestar o feito: a livraria Bertrand, de Lisboa, foi aberta em 1732 no bairro Chiado. Para receber o certificado (que foi colocado em uma das paredes da loja) foi preciso passar por uma “rigorosa prestação de provas”. Entre elas, a Bertrand teve que confirmar que sua atividade nunca foi interrompida ao longo destes 279 anos.

A portuguesa Bertrand tem 279 anos e é considerada a mais antiga livraria do mundo

A Bertrand Livreiros foi fundada por Pedro Faure, que tinha origem francesa, e hoje é a maior cadeia de livrarias do país, com 53 filiais em Portugal e uma loja virtual que oferece mais de 100 mil títulos. No site da Betrand, aliás, pode-se ler o manifesto “Somos livros”. O texto (na verdade um poema) cita o terremoto de 1755 que devastou Lisboa, balançou as estruturas da Bertrand, mas, mesmo assim, não foi capaz de fazê-la fechar as portas. Abaixo, o manifesto:

O fim é o princípio.

Uma página que se vira.

Somos a tinta fresca em folha áspera.

A capa dura. Aquilo que procura.

Somos a História.

Desde sempre.

O terremoto de 55 e a revolução de 74.

Somos todos os nomes.

As pessoas do Pessoa,

Alexandre Herculano e Ramalho Ortigão.

O Mundo na mão.

Ponto de encontro.

De quem pensa. De quem faz pensar.

Temos pele enrugada de acontecimento.

As páginas são nossas.

E o pó que descansa na capa também.

Sabemos falar de guerra e paz,

explicar a origem das espécies

e dizer qual a causa das coisas.

Somos o que temos.

A tradição e a vocação.

A atenção. A opinião.

A história de dor e de amor.

Somos o nome do escritor.

A mão do leitor.

O certificado do Guiness Book está na parede da livraria Bertrand do bairro Chiado, que nunca deixou de funcionar. Ao visitar Lisboa, vale conhecer.

Marilyn

Por Luiz Antonio de Assis Brasil*

Em 2012 decorrem 50 anos do suicídio [?] de Norma Jeane Mortensen, aliás, Marilyn Monroe. Sua vida foi um longo ensaio para a loucura e a morte. Desde que nasceu a morte e a loucura a perseguiram, a começar por uma lendária cena de tentativa de homicídio, em que sua avó, louca, a asfixiava com um travesseiro. Depois foi a vez de internar Gladys, sua mãe, também por insanidade.

Seu pai, desconhecido.

Deu-se a sequência de ups and downs: matriculada sob o número 3463 num orfanato de Los Angeles, saiu de lá para diversos lares de ocasião, encontrando segurança apenas com Ana Lower, que tentou de todas as formas compensar os anos de abandono de sua pupila. Então surge a vida, com o desabrochar de uma beleza morena e forte, bem mais natural do que a famosa loira química dos anos seguintes.

O trabalho numa fábrica de paraquedas não poderia durar muito: descoberta por um fotógrafo, começou sua corrida irresistível rumo às páginas dos jornais, às capas das revistas ilustradas, à solitária foto que acabou nas paredes das borracharias, à Fox, ao cinema. Logo fez fama de loira burra, entregando-se, complacente, a essa imagem de caricatura.

Dentro dela, porém, subsistia a caipira Norma Jeane, um ser perplexo ante o sucesso que, no íntimo considerava imerecido. Começava a época dos ensaios: ensaios de vários casamentos, cada qual mais ruinoso do ponto de vista humano; ensaios de suicídios, alguns falsos, alguns verdadeiros. Daí foi um passo para as drogas, para o álcool, para as pílulas de dormir, de acordar.

O coquetel entre a demência e a compulsão para a morte começava a fazer seus efeitos, e a forma de superar esse círculo de ferro foi a sedução erótica – mas de fachada: Tony Curtis disse que beijar Marilyn era o mesmo que beijar Hitler. Paradoxo: o símbolo sexual do século não encontrou jamais qualquer espécie de consolo sentimental.

Grandes vidas, grandes biografias: tudo isso está no livro Marilyn Monroe, de Anne Plantagenet, saído em tradução de Rejane Janowitzer, pela L&PM, que consegue, numa habilidade e refinamento bem franceses, recriar essa mulher que, antes de um ser humano concreto, era uma tentativa em pessoa – até a última, a morte final, em 1962.

* Pela L&PM, Luiz Antonio de Assis Brasil publica Cães da Província, Perversas Famílias, Videiras de Cristalentre outros. Este texto foi originalmente publicado na pg. 06 no Segundo Caderno do Jornal Zero Hora, no dia 25 de abril.

Autor de hoje: William Shakespeare

Stratford-upon-Avon, Inglaterra, 1564 – † Stratford-upon-Avon, Inglaterra, 1616

Considerado um dos principais dramaturgos da literatura universal, sua vida é ainda um enigma, já que existem poucas informações seguras a respeito. Filho de um homem próspero e de boa posição social, que logo se arruinou, casou-se aos dezoito anos. Pouco depois, mudou-se para Londres e, sozinho, trabalhou como guardador de cavalos no teatro de James Burbage, O Globe Theatre. Nesse mesmo ambiente, tornou-se ator e dramaturgo, reescrevendo textos de autores que vendiam seus repertórios às companhias teatrais. Com o tempo, Shakespeare tornou-se famoso e recuperou a fortuna familiar. Além de textos para o teatro, escreveu poemas e sonetos. Sua obra principal é formada por tragédias e comédias que atravessaram séculos e que são fonte de inspiração para numerosas narrativas, uma vez que transmitem um profundo conhecimento da natureza humana.

Obras principais: Romeu e Julieta, 1594-1595; Hamlet, 1600-1601; Otelo, 1604-1605; O Rei Lear, 1605-1606; Macbeth, 1605-1606; A tempestade, 1611-1612

 WILLIAM SHAKESPEARE por Léa Masina

Embora Shakespeare tenha escrito bons sonetos, é mais conhecido pelas peças para o teatro, tanto tragédias quanto comédias, um completo repertório sobre a condição humana. O crítico Harold Bloom considera-o como o centro do cânone ocidental e, portanto, paradigma para avaliar a literatura.

É difícil escolher uma tragédias de Shakespeare e indicá-la como leitura obrigatória. Em meu entender, Hamlet, Otelo, Macbeth, O Rei Lear e A tempestade ocupam um espaço fundamental na construção do universo shakesperiano, embora não se possa deixar de ler os Henriques e os Ricardos, Romeu e Julieta e as comédias. Questões éticas, políticas, morais, naturais e suas transgressões compõem esse universo rico e amplo.

Para iniciar-se no universo Shakespeare, recomenda-se ler Macbeth. A leitura é fascinante, já que ali estão representadas questões humanas de extrema intensidade. Perpassado pela crueldade de uma época em que a Inglaterra estava em formação, encontra-se em Macbeth a articulação literária da ambição e da loucura. Lady Macbeth é uma personagem inesquecível, que domina a cena até mesmo quando desaparece. Os diálogos de Shakespeare e seus maravilhosos solilóquios ensinam aos escritores de hoje a arte de construir falas capazes de identificar o caráter de cada personagem. Há em Macbeth – como também em O Rei Lear – a identificação medieval do rei com a natureza. E disso decorre a denúncia de que o mundo adoece quando entram em crise os valores morais de uma época. Shakespeare elege o sofrimento como mecanismo de ação e cria relações humanas de extremo conflito para expor os desvãos da consciência humana nas falas e nas ações. Em Rei Lear, por sua vez, encontramos a complexidade das relações familiares, sempre perpassadas pelo poder feudal. O bobo da corte ali é a consciência explícita de um rei que se despoja de seu reino e do poder em favor das filhas. Essas, à exceção de Cordélia, irão traí-lo e humilhá-lo, o que torna proverbial a constatação do bobo de que ninguém deve envelhecer sem antes tornar-se sábio.

Com relação às comédias, há muito o que dizer: nelas se lê amor e desencontros. Cabe advertir que a obra de Shakespeare é um mundo a ser desvelado ao longo de toda uma vida. E nunca é tarde para começar.

* Guia de Leitura – 100 autores que você precisa ler é um livro organizado por Léa Masina que faz parte da Coleção L&PM POCKET. Todo domingo,você conhecerá um desses 100 autores. Para melhor configurar a proposta de apresentar uma leitura nova de textos clássicos, Léa convidou intelectuais para escreverem uma lauda sobre cada um dos autores.

Shakespeare é o escolhido deste final de semana porque dia 23 de abril foi seu aniversário de morte (e supõe-se que ele também tenha nascido neste dia).

Um delicioso bolo para servir na Páscoa

Sábado tem sempre uma “Receita do dia” vinda diretamente dos livros da Série Gastronomia L&PM. A receita de hoje, que é uma dica para deixar a sua Páscoa ainda mais deliciosa, está no livro 100 receitas de Patisseria, de Sílvio Lancelotti:

BOLO DE NOZES

Ingredientes:

2 xícaras, de chá, de açúcar – 2 colheres, de sopa, de manteiga, amolecida à temperatura ambiente – 3 gemas – 1 xícara, de chá, de leite – 1 xícara, de chá, de nozes bem moidinhas – 3 xícaras, de chá, de farinha de trigo, peneirada – 1 colher, de chá, de fermento em pó – Creme de Chantilly – Metades de nozes

Modo de fazer:

Bater o açúcar e a manteiga. Acrescentar as gemas. Bater e rebater. Adicionar o leite, as nozes, a farinha de trigo e o fermento. Bater e rebater. Despejar na forma. Levar ao forno, médio, até que a superfície do bolo fique bem tostadinha. Desenformar. Virar num prato bonito. Cobrir com o Chantilly. Enfeitar com as nozes cortadas pela metade.

Livros que são a sua cara

Você se parece com seu escritor predileto? E com o seu personagem favorito, se parece?
A agência de propaganda Love Agency, da Lituânia, preparou uma campanha para a livraria Mint Vinetu que explora exatamente isso. Batizada de “Become someone else” (“Torne-se alguém”), a ideia da série de cartazes é criar uma identificação do leitor com os livros. E quem nunca pensou em entrar dentro de uma trama, tornar-se personagem e poder interferir nos rumos da história? Na campanha, há personagens para todos os gostos: de Frankenstein a Hamlet. E, você, com quem se identifica?

Frankenstein

Frankenstein "Become someone else"

Dom Quixote

Dom Quixote "Become someone else"

Hamlet

Hamlet "Become someone else"

Livros versus ovos de Páscoa

Ainda não comprou os ovos de Páscoa? Então pense bem: quem sabe, este ano, pra variar, você não troca o chocolate pelos livros? Não tem certeza? Então dá uma olhada nos doze motivos que listamos para tentar convencer você:

1. Enquanto, ao ser levado na bolsa, o chocolate do ovo de Páscoa tem grande chance de derreter, escapar do papel e melecar tudo, um livro pode ficar ali quanto tempo você quiser. De preferência, até o dia que de você termine de lê-lo, é claro.

2. Um ovo de Páscoa de 300g tem em média 1.600 calorias (alguns até mais)! Em contrapartida, segundo uma pesquisa da cadeia de livrarias britânica Borders, livros de ação fazem a gente gastar duas calorias por minuto, pois suas histórias levam o corpo a produzir mais adrenalina. Agatha Christie e Conan Doyle são, portanto, emagrecedores!

3. O ovo de Páscoa pode durar de alguns minutos a semanas, enquanto o livro vai durar até a próxima Páscoa. Ou melhor: pode ficar com você por toda vida. Quem sabe até passar pra seus filhos, seu netos, bisnetos…

4. Um ovo de Páscoa pode ser dividido (apesar de muita gente preferir comer tudo sozinho), mas compartilhar um livro é espalhar conhecimento e emoção…

5. Livros, apesar de serem feitos de papel, podem ser considerados mais ecológicos, pois não produzem lixo. Já os ovos são embalados em papel alumínio e papel celofane, vem com fita, adesivo, embalagem do recheio…

6. Você já ouviu falar de alguém que tenha alergia ou intolerância a livros?

7. Enquanto os ovos de chocolate têm apenas opções do tipo “ao leite”, “meio amargo”, “amargo”, “branco” e “com flocos”, livros oferecem uma gama enorme de gêneros que vão dos romances aos quadrinhos.

8. Em caso de compras de última hora, ao optar por livros, você não vai precisar entrar em fila, ficar com os “restos” ou brigar com aquela senhora que insiste que o último ovo da Barbie é dela e não seu.

9. Livros vêm com mais surpresas do que um ovo de Páscoa. Pode ter certeza.

10. O livro pode ir junto pra cama e, mesmo no caso do sono se abater sobre você, ele não vai sujar o seu lençol. Ah, você também não precisa escovar os dentes depois.

11. Livros em excesso não fazem mal à saúde. Muito pelo contrário. Já os ovos…

12. Os livros da Coleção L&PM POCKET custam mais barato do que a maioria dos ovos de Páscoa.

Se mesmo com tudo isso, você ainda insistir nos ovos de Páscoa, a gente entende, afinal, eles são o símbolo da Páscoa. Mas quem sabe você também não coloca um livro no ninho?

Kerouac em dobro no cinema em 2012

Se você é fã da literatura beat, deve estar contando os dias para assistir ao On the road, de Walter Salles, que tem estreia prevista para o início do ano que vem. Pois vá preparando o coração para emoções em dobro em 2012: o diretor Michael Polish já começou a filmar Big Sur, baseado no livro que é considerado o mais honesto e pessoal de Jack Kerouac. Lançado em 1962, Big Sur mostra a deterioração física, mental e de ideais vivida pelo personagem Jack Duluoz (alter ego de Kerouac). Outros nomes da geração beat são retratados nesta obra autobiográfica como Neal Cassady, Carolyn Cassady e Lawrence Ferlinghetti. No filme, Jack Kerouac será interpretado pelo ator Jean Marc-Barr

Após o frenesi causado pelo lançamento do livro On the road, em 1957, Kerouac passou um período retirado na cabana de Ferlinghetti, seu amigo, poeta e dono da City Lights Books, editora que publicava (e ainda publica) os beat. Na região de Big Sur, na Califórnia, ele dedicou seus dias à escrita de um novo romance. É o próprio Ferlinghetti que conta esta história no vídeo a seguir: 

Clique para ver o vídeo no Youtube

24. E-books: vanguarda “avant la lettre”

Por Ivan Pinheiro Machado*

No ano de 1999, virada de século, falava-se muito em fim do mundo e, creia, em e-books. Os jornais noticiavam insistentemente e as feiras dedicavam espaços generosos à nova tecnologia. Afinal, o livro seria o produto ideal para transações via internet. Paga-se e pronto: o download é feito imediata e rapidamente no suporte escolhido. Influenciados pela mídia que exaltava o “novo livro”, resolvemos fazer aquela que seria a primeira “editora digital” do país. Conversamos com o editor e especialista em questões digitais Sérgio Lüdtke que recém tinha vendido sua participação na editora Artes e Ofícios em Porto Alegre. O resultado desta conversa foi a criação de uma empresa chamada “Digibook”, onde a L&PM entraria com os arquivos digitais de seus livros e Sérgio daria o suporte tecnológico para operarmos online. Trabalhamos durante uns seis meses nesta novidade. Digitalizamos 200 títulos, enquanto o Sérgio tentava desenvolver uma interface para ser instalada nos computadores. Através desta interface, seria feito o download do livro.

Apesar de termos trabalhado muito, nossa Digibook não decolou. Acabamos ficando no meio do caminho por falta de solução a várias questões técnicas. Enquanto isso, a mídia foi silenciando, silenciando, até que, lá pelos idos de 2002, ninguém mais falava em “livro digital”. Nem aqui, nem nas grandes feiras de livro, como Frankfurt e Londres. Nós arquivamos a nossa Digibook e seus 200 títulos num CD e seguimos tocando a vida. Depois da “bolha” de desinteresse que durou uns cinco anos, o tema e-book voltou à tona no Brasil. Enquanto os Estados Unidos rapidamente criavam um mercado importante, por aqui, o assunto engatinhava. Somente a partir de 2009 os editores se mobilizaram. Hoje, começa a haver uma oferta importante de títulos. Surfando na onda dos iPads, o mercado brasileiro dá seus primeiros passos rumo ao futuro. Para termos um mercado de livros digitais, precisamos ter o suporte ou, os e-readers, aparelhos nos quais o público lerá os livros digitais. E a venda de leitores tem crescido exponencialmente no Brasil, embalada pela febre dos tablets.

12 anos nos separam do nosso projeto pré-histórico. A Digibook acabou indo parar naquele velho CD, no fundo de alguma gaveta. Mas o mundo não acabou – ao contrário, evoluiu – e a L&PM sobreviveu à virada do século, criando a maior coleção de livros de bolso do país e já está disponibilizando mais de 150 títulos digitais nos sites das livrarias Saraiva e Cultura. Enquanto isso, o nosso parceiro Sérgio Lüdtke tem tido uma brilhante carreira como jornalista e expert em mídias digitais. Hoje, ele edita a revista Época nas versões online e para Ipad. Só não vingou como futurólogo. Indagado pelo jornal de negócios “Gazeta Mercantil” sobre o futuro dos e-books (era o ano de 1999) ele declarou “vocês verão, no Natal de 2001 todo mundo vai ganhar um e-book de presente”…

A L&PM e o livro digital

A partir de hoje, dia 19 de abril, a L&PM Editores inicia de forma profissional a sua entrada no mundo dos livros digitais. Distribuídos pela DLD (Distribuidora de Livros Digitais), ele já estão disponíveis para o grande público em nosso catálogo. O objetivo é disponibilizar mais de 400 títulos até o fim do ano e 1.000 títulos até o final de 2012.

*Toda terça-feira, o editor Ivan Pinheiro Machado resgata histórias que aconteceram em mais de três décadas de L&PM. Este é o vigésimo quarto post da Série “Era uma vez… uma editora“.

O aniversário do incansável Monteiro Lobato

Escritor, editor, tradutor, advogado, promotor, industrial e dono de Cia. de Petróleo. José Bento Renato Monteiro Lobato foi tudo isso em seus 66 anos de vida. Nascido em 18 de abril de 1882, em Taubaté, interior de São Paulo, Monteiro Lobato foi criado em um sítio que, mais tarde, o inspiraria a escrever as histórias de Narizinho, Pedrinho, Emília, Dona Benta, Visconde e Tia Anastácia.

Mas apesar de ter ficado famoso com seus escritos infantis – que tiveram o mérito de misturar o folclore brasileiro com mitologia grega, quadrinhos e cinema – Monteiro Lobato foi muito além do Sítio do Picapau Amarelo. Escreveu contos, artigos, críticas, prefácios, cartas, uma autobiografia e um romance chamado “Presidente Negro”. Disse ter recebido influência das fábulas de Esopo e de La Fontaine. E também de J.M. Barrie, autor de Peter Pan, e de Lewis Carroll, criador de Alice no País das Maravilhas.

Monteiro Lobato também foi o pai do popular Jeca Tatu (que depois ganharia força como garoto propaganda do Biotônico Fontoura). E traduziu, entre outros, Conan Doyle e Jack London, ambos nos anos 1930. Foi incansável, inigualável, insuperável no que se refere à literatura infantojuvenil brasileira. Justamente por isso, em 2002, ano dos 120 anos de seu nascimento, foi instituída uma lei que firmou o aniversário de Monteiro Lobato como o Dia Nacional da Literatura Infantil. Dia de incentivar ainda mais a leitura dos pequenos. Aliás, se precisar de alguma dica, a L&PM tem vários livros para crianças.

Monteiro Lobato e as crianças para as quais ele escrevia

O dia em que o cérebro de Einstein se foi

Inverno de 1955: Einstein está velho, esgotado. Seus raros visitantes não reconhecem mais o homem outrora risonho. O rosto está cavado. Rugas marcam cada pedacinho da pele. O olhar perdeu todo o brilho. Seu discurso é desprovido de qualquer vigor, de qualquer otimismo. Ele vê o mundo correndo para a morte, levado pela loucura dos homens. Lamenta por vezes não ter consumado sua tarefa e lança seu doravante célebre: “Se fosse para recomeçar, eu teria sido encanador…”. Ele perdeu, um a um, todos os seus. Os que ele amara, os que haviam acompanhado os dias felizes e os dias de desespero, os que o haviam apoiado. (…) Seu filho Hans Albert veio da Califórnia para ficar com ele. Einstein esboça um sorriso ao vê-lo. O filho senta-se na cabeceira do pai, coloca a mão em cima da mão do sábio. Uma mão fria, tão fria. Permanecem calmos os dois. Einstein olha para o filho. O brilho do seu olhar renasce por um instante. (…) Ele fica sozinho. Alguém apagou a luz. Ou talvez seja seu olhar que não vê mais. Uma noite eterna – alguma vez acreditou nisso? Não percebe mais o encadeamento dos minutos e das horas. Mas talvez o tempo tenha acelerado sua corrida. Diz a si mesmo que abraçou o tempo, que o apertou com a mesma força, ele se lembra agora, com uma energia igual àquela que usara ao abraçar o pai e a mãe, que foram esperá-lo na estação de Pávia quando ele tinha quinze anos e tinha abandonado, envergonhado, porém determinado, o ginásio de Munique. (…) Agora ele tenta mexer o braço, mas não tem mais forças. Seu braço não mexe. Seu corpo não responde mais. Talvez o aneurisma tenha se rompido. A bomba explodiu no meio de sua barriga. O cataclismo interior foi desencadeado. A hemorragia interna. Ainda bem que ele aceitou as injeções. Não sente a intensidade da dor. Alguém acendeu a luz. Uma senhora de roupa branca. Ela se aproxima de seu rosto. Algumas palavras, cujo sentido ele mesmo não chega a captar, escapam de seus próprios lábios. É alemão, o que ela pode compreender, essa senhora de roupa branca que aproximou o ouvido de sua boca? É alemão, colorido de sotaque suábio. É uma hora e quinze da manhã. Chegou a hora de Albert se juntar aos seus. (trechos de Albert Einstein, de Laurent Seksik, Série Biografias L&PM) 

Albert Einstein morreu em 18 de abril de 1955, aos 76 anos, vítima de um aneurisma que desencadeou uma hemorragia interna. Durante a autópsia, sem que ninguém percebesse, seu cérebro foi roubado pelo patologista do Hospital de Princeton, o doutor Thomas Harvey. Harvey levou o cérebro de Einstein para sua casa, onde o dissecou para estudos, na esperança de descobrir o que havia por dentro da mente do gênio. Não chegou a grandes conclusões, mas deixou uma boa história para contar. Aliás, a história do mistério envolvendo o sumiço do cérebro de Einstein deu origem a alguns documentários. Um deles, exibido pela National Geographic, tem dublagem em português. Mas atenção: se o seu estômago for sensível à autópsias, recomendamos assistir de olhos fechados: