Arquivo mensais:maio 2010

Dennis Hopper: morreu o rebelde sem causa

Diretor e ator, reconhecido por sua rebeldia, Dennis Hopper morreu no último sábado, aos 74 anos, em decorrência de câncer de próstata. Dirigiu oito filmes, dos quais se destacam o marco da contracultura Sem destino (Easy Rider), de 1969, e Colors – as cores da violência, de 1988, estrelado por Sean Penn e Robert Duvall. Contracenou com James Dean, de quem foi grande amigo, nos clássicos Juventude transviada (1955), de Nicholas Ray, e Assim caminha a humanidade (1956), de George Stevens. Dennis Hopper também atuou nos emblemáticos Apocalypse Now (1979), de Francis Ford Coppola, e Veludo azul (1986), dirigido por David Lynch.

Assista a um trecho do programa “Fishing With John”, onde o ator conversa com o músico John Lurie, e leia aqui o texto de Mario Bortolotto para a Folha (somente para assinantes).

“Eu confesso que fiquei abalado com a morte de Dennis Hopper. Às vezes eu estava vendo um filme aparentemente recente em que ele aparecia na TV e clicava naquele comando que mostra a sinopse do filme para ver em que ano rodou. No último que vi – nem lembro o nome – achei que ele estava OK. O Mario Bortolotto, em seu texto na Folha e S. Paulo, conclui que “nossos heróis estão morrendo…”. É verdade, os heróis também morrem. Aquela turma toda anda morrendo. Os caras que nos fascinam desde a nossa juventude. Eu lembro perfeitamente, nos meus vinte anos, do domingo ensolarado em que foi anunciada a morte de Picasso. Ele tinha 93 anos. Mas eu fiquei chocado. Que sacanagem é esta? Ele não era mágico? Ele não era super-homem? Ele não pintava três quadros por dia? Ele não era Picasso? Como Picasso podia morrer?
Este é o grande enigma da existência. Nossos heróis morrem. O velho e maravilhoso maluco Dennis Hopper morreu. Todo mundo morre. Até o Picasso morre.”  (Ivan Pinheiro Machado)

David Goodis: tão bom quanto Chandler e Hammett

Eddie experimentou os tapete macios do legendário Carneggie Hall. Seus dedos deslizaram sob as alvas teclas de um piano Steinway de 200 mil dólares. E após o último acorde da “Polonaise em lá bemol maior Opus 53”, ele foi aplaudido de pé.
Muita coisa aconteceu até ele chegar àquela espelunca onde tocava praticamente em troca de comida, num piano vagabundo, para gente pior ainda. A história de Eddie e seu irmão está contada no maravilhoso livro Atire no pianista (L&PM POCKET) de David Goodis.

Menos conhecido e incensado que Raymond Chandler e Dashiell Hammett, Goodis foi tão bom quanto eles no gênero que ficou consagrado como “policial noir”. Na verdade, o complemento “noir” foi criado para diferenciar do policial tradicional. Eram obras que iam além da trama policial, do “quem matou quem”. Livros com notável reflexão psicológica e estereótipos clássicos, como o “cara durão”, as mulheres fatais e cínicas , o detetive sentimental e cético que ganhava a vida por 25 dólares por dia, mais despesas. E sempre enfrentando problemas com os tiras. Quase que invariavelmente as tramas se passam nos anos 30, 40 e 50 na Califórnia, ou na Filadélfia, no caso de Goodis. Seja na época da Grande Depressão ou já no pós-guerra, os heróis (ou anti-heróis) dos escritores “noir” estavam sempre na contramão do “sonho americano”.

Os franceses adoram este gênero, tanto é que “noir” vem do francês “negro”. E François Truffaut filmou Atire no pianista, estrelado por Charles Aznavour (trailer abaixo). Tal foi o sucesso do filme que o livro mudou de nome; era Down There e tornou-se Shoot the piano player. Os outros livros do autor, A lua na sarjeta, A garota de Cassidy (que vendeu um milhão de cópias nos Estados Unidos) e Sexta-feira negra, todos publicados pela coleção POCKET, são verdadeiras obras-primas.

Goodis foi também roteirista em Hollywood, onde adaptou A Dama do Lago, de Raymond Chandler (trecho abaixo), entre muitos outros.

Além de Atire no pianista, outros de seus livros tiveram grande sucesso no cinema, como Lua na Sarjeta (La lune dans le caniveau) de Jean-Jacques Beinex, com Gerard Depardieu e Nastassja Kinski, e Dark Passage com Humphrey Bogart e Lauren Bacall. Dark Passage, por sinal, foi objeto de uma disputa judicial que se arrastou até após a morte de Goodis. Ele denunciou a United Artists e a rede de TV ABC por terem se apropriado da ideia do livro para criar o célebre seriado e o filme O Fugitivo (trecho abaixo). Em decisão histórica para o direito à propriedade intelectual, a Suprema Corte dos Estados Unidos deu ganho de causa a Goodis.

Depois de sua morte em 1957 num acidente mal explicado, sua obra caiu no esquecimento nos Estados Unidos. Só na década de 70 seus livros voltaram a fazer sucesso, mas na França, onde todos foram traduzidos e são reeditados até hoje. Para tentar recuperar o prestígio de Goodis junto aos americanos , em fevereiro desse ano foi lançado o documentário David Goodis… To a pulp (trailer abaixo) produzido e dirigido por Larry Withers, enteado do escritor.

A Expo é um parque de diversões da cabeça

Antes de discorrer novamente sobre a Expo Shangai 2010, uma descoberta: os chineses não são tão desrespeitosos no trânsito quanto eu achava que fossem. É que mesmo com o sinal verde aceso para pedestres, você pode ser atropelado por um veículo que vem dobrando a esquina, já que aqui na China o vermelho só vale para fazer parar os carros que seguem reto ou fazem conversão à esquerda. Os que dobram à direita tem sempre passe livre e não querem nem saber se tem faixa de segurança. Ou seja, o que eu achei que era uma infração, é apenas um perigo iminente. E agora as considerações sobre a Expo. Essas bem mais positivas e animadoras do que as do post passado. Acho que não cheguei a dizer o quão impressionante é a feira e tudo o que é possível ver por lá. Então digo agora. A Expo Shanghai 2010 é, como diria Ferlinghetti na tradução de um livro publicado pela L&PM há anos atrás: um parque de diversões da cabeça.

Tirando a decepção que tive com o pavilhão brasileiro, os outros me impressionaram bastante. O da Colômbia também era bem modesto, mas pelo menos tinha colombianos simpáticos e café de alta qualidade. O do México (foto ao lado) era um lindo museu interativo, com obras verdadeiras que vão de esculturas pré-colombianas a instalações que sobem pelas paredes, passando por uma pintura de Frida Khalo. Pra completar, uma loja maravilhosa com belíssimas peças de artesanato e um restaurante mexicano com taco, burritos e guaca mole. No pavilhão dos Estados Unidos, confesso, chorei vendo o vídeo de abertura. A ideia norte-americana era muito simples: três filmes em espaços diferentes, exibidos em supertelões. Todos mega produzidos, claro. O primeiro era uma espécie de making off em que diferentes americanos tentavam dizer “Nihao” – que em Chinês significa algo como “Olá, tudo bem?” – e mais outras coisas amigáveis. Depois, as portas se abriam e começava outro filme com crianças falando sobre suas soluções e invenções para um futuro melhor – e que terminava com o presidente Obama em big close dizendo “We are waiting for you in America”. Vamos combinar que ele não quer de verdade receber um bilhão e quatrocentos milhões de chineses em casa, mas ok. Por último, um vídeo que era super piegas e com o roteiro bem fraquinho, mas que teve o mérito de, literalmente, fazer chover: quando a chuva começa a cair no filme, um chuvisco acompanhado de raios, trovões e vento forte atinge a platéia. Hollywood pouca é bobagem…

O pavilhão da Itália, com vários andares, tem projeto de design de Peter Greenaway (não me perguntem porque eles chamaram um inglês, mas ele arrasou) e é o mundo maravilhoso das formas. Um espaço estupendo, exageradamente delicioso de se ver. Todas as épocas, todas as cores, todas as áreas do design estão lá em um prédio que sozinho já é um espanto de tão envolvente. No post anterior já mostrei algumas fotos do local e nesse há uma silhueta minha posando de Monalisa. Ou quase…

No próximo post falo um pouco mais sobre a Expo. E depois juro que encerro o assunto e começo a contar outras coisas. Ainda vou falar das livrarias de Xangai, de templos budistas, de feiras de quinquilharias e até do Carrefour daqui que, urgh, vende sapos e tartarugas vivas pras pessoas cozinharem em casa.

Ouro e prazer

Por Ivan Pinheiro Machado

Balzac tinha a pretensão de ir muito além da literatura com a sua “Comédia Humana”.
Segundo ele, seus livros na realidade eram “tratados de costumes” que facilitariam a vida dos historiadores do futuro na “compreensão do século XIX”. E ele retratou com a precisão de um sociólogo a Paris dos tempos da Restauração. E com isso realizou um verdadeiro mergulho na alma humana. Dizia que, no fundo, Paris se movia por uma busca desenfreada por “ouro e prazer”; “a luta de todos contra todos sob a amável hipocrisia dos salões, o choque feroz de instintos insaciáveis”.

Era uma sociedade transformada inexoravelmente pela revolução de 1789. Em 30 anos vivera uma revolução sangrenta, uma república, um império e a restauração de uma monarquia saudosista e ineficiente. Era um novo mundo. Uma classe média ascendente e uma burguesia definitivamente influente transitavam entre velhos aristocratas falidos e novos-ricos em busca de nobreza. Esta tensão se transportava para o Bois de Bologna, as Tulherias, o hipódromo, a ópera, os salões majestosos dos palacetes de Saint-Germain de Près. Uma Paris deslumbrante, onde “dândis” impecavelmente cafajestes contracenavam com condessas de pele alva e olhos mediterrâneos.

Balzac foi o cronista desta sociedade em transe. Descreveu as paixões desenfreadas, os brutais jogos de interesses e “a busca de ouro e prazer”. Ilusões que nasciam e se perdiam num mundo contraditório, que redundava em fortuna para poucos e sofrimento e frustrações para quase todos. Assim pensava Honoré de Balzac.

CLIQUE AQUI PARA LER A PARTE 8 DESTA SÉRIE.

A Expo Shanghai, os chineses e o Brasil

Antes de falar na Expo Shanghai 2010 (aqui se escreve assim), algumas conclusões sobre os chineses que encontrei pelo caminho: as mulheres odeiam sol e andam sempre de sombrinha; nenhum deles respeita sinais de trânsito e muito menos faixa de segurança; um dos esportes preferidos deles é a furação de fila; ao entrar em um dos ônibus que circulam na Expo (ela é tão imensa que foi preciso fazer um túnel de mais de 300 metros sob um rio para que esses ônibus pudessem ir para o outro lado da feira), eles não esperam os passageiros descerem para tentar entrar.

Mas agora, vamos à Expo Shangai em si. Além dos pavilhões de todos os países do mundo, existem pavilhões especiais, entre eles o de “melhores práticas urbanas”. É nesse espaço que estão duas cidades da América Latina: Porto Alegre, com o seu case “Governança Solidária e Social”, e São Paulo, com o “Cidade Limpa”. Ambos são interativos, mas confesso que gostei mais da proposta paulista (com projeto de Daniela Thomas) onde, entre outras coisas, painéis giratórios que parecem livros formam paredes que lembram como a cidade era e como ficou depois que foram proibidos outdoors e outras interferências publicitárias.

O painel paulista projetado por Daniela Thomas / Paula Taitelbaum

O de Porto Alegre também é legal, com um jogo social interativo que parece um grande video-game circular (é difícil de explicar, então se contentem com essa explicação mesmo). E preciso confessar que foi graças à agilidade do pessoal do espaço gaúcho – que entrou em contato com os outros pavilhões – que não precisei entrar em filas que chegavam a até quatro horas de espera. Com certeza, se eu tivesse que enfrentar essas filas, não teria achado a Expo tão incrível. E provavelmente só teria conseguido visitar uns poucos pavilhões. Aliás, é impossível visitar todos, porque são duas centenas e alguns deles são enormes. Como quero falar um pouco sobre cada um dos que eu visitei, o assunto terá que render mais de um post.

Só para explicar melhor, cada país construiu seu próprio pavilhão e colocou lá dentro o que considerou melhor para “se vender”. Obviamente, alguns investiram mais e outros menos, alguns bem menos. Quem investiu mais milhões foi a Arábia Saudita. Mas esse só vi por fora. Visitei os do Brasil, Canadá, Colômbia, México, Estados Unidos, Finlândia, Alemanha, Japão, China e Itália (fotos acima). Hoje, vou falar somente sobre o pavilhão do Brasil e do sentimento que tive ao entrar lá: vergonha, muita vergonha. Por fora, ele já de chorar, com o logotipo formado por duas bananas e forrado de ripas de madeira pintadas de verde que não causam efeito nenhum além da sensação de que o país é uma pobreza até em termos de criatividade.

Ao entrar, um túnel de imagens de baixa definição, em plena era HD 3D – será que era um VHS? Depois, telões que contavam as histórias de quatro brasileiros, mas que, na verdade, mais pareciam (e eram) comerciais institucionais da Petrobras e da Vale – patrocinadores do espaço. Só para você ter uma ideia, há uma cena em que um dos personagens vai ao posto BR e fica lá abastecendo intermináveis três minutos. Não há nada ali que pudesse levar um Chinês a apostar um ramebi que visitar o Brasil vale a pena. E olha que os chineses adoram uma aposta. Outra vergonhosa constatação: ao contrário de todos os outros pavilhões, não havia nenhum brasileiro para dar informações. Não estive no do Cazaquistão, mas acredito que até ele estava melhor, ainda que o Borat não estivesse lá. Por falar nisso, se visitasse o pavilhão brasileiro, Borat já teria assunto para um próximo filme. Só o bar e a lojinha já renderiam boas piadas. Depois que eu contar o que vi nos outros, vai dar pra entender melhor o porquê da vergonha. Pensando bem, pior só o da Venezuela, que foi montado e nem abriu.

Livro que Washington retirou de biblioteca é devolvido mais de 200 anos depois

Em 5 de outubro de 1789, George Washington foi a biblioteca de Nova York e retirou um exemplar de “A Lei das Nações”. Na semana passada, em 19 de maio de 2010, ele foi finalmente devolvido. Uma associação que cuida da propriedade de Mount Vernon, que pertencia a Washington, descobriu que o livro nunca havia retornado à biblioteca e comprou na internet um outro exemplar da mesma edição por U$12 mil. Dos males o menor: se alguém fosse pagar a multa, teria que desembolsar cerca de U$300 mil.

Parabéns ao Drácula

Como todos vocês certamente leram nosso site hoje,  já sabem que há exatos 113 anos era publicada a primeira edição de Drácula, clássico de Bram Stoker. E desde aquele longínquo 26 de maio de 1897, o “vampiro original” ganhou pelo menos dez adaptações para o cinema. Separamos três delas para que vocês se divirtam comparando a evolução do primeiro Drácula cinematográfico, de 1931,  ao último, do ano 2000. Entre eles está o de 1992, dirigido por Francis Ford Coppola.

Drácula (1931)

Drácula de Bram Stoker (1992)

Drácula 2000 (2000)

Filme mostrará relacionamento extraconjugal de Dickens

A BBC está começando a produzir um filme sobre o caso que Charles Dickens manteve por 15 anos com uma jovem atriz chamada Nelly Ternan. O roteiro é baseado em “The Invisible Woman” (A mulher invisível), de Claire Tomalin. No livro, publicado em 1991, Tomalin dá detalhes do relacionamento do casal. Quando eles se conheceram Dickens tinha 45 anos e Nelly, 18. A esposa do escritor, Catherine, descobriu o caso do marido quando um bracelete que ele havia encomendado para a amante foi entregue por engano no endereço de sua casa. O produtor Stewart Mackinnon disse que “o filme fará com que as pessoas vejam Dickens de uma maneira diferente. Vai mostrá-lo como um ser humano com todas as suas fragilidades”.

Xangai é um barato

Chineses de cara fechada, em seus uniformes militares, com perguntas como “o que você pretende fazer na China, sua capitalista?”. Juro que achei que meu desembarque na terra de Mao seria assim. No lugar, encontrei uma alfândega com jovens e sorridentes atendentes em um aeroporto totalmente futurista. Mas vou poupar os detalhes e fazer um pequeno álbum de retratos falados das minhas primeiras impressões de Xangai, cidade onde me encontro nesse exato momento. Xangai parece estar à frente de nós.  Não só porque aqui é sempre a manhã do dia seguinte – enquanto na maioria do mundo ainda é a noite do dia anterior -, mas porque seus prédios fabulosos dão a impressão de estarmos na cidade da família Jetson.


No Bud, bairro antigo, edifícios com mais de cem anos convivem com torres com mais de cem andares. Há lojas chiques e famosas como Hermés, Fendi, Louis Vitton, Cartier, Vertu (que vende celulares de dez mil euros) e do outro lado da calçada há lojinhas com todos os níveis de artigos falsificados. No calçadão da Nanjing Road passam milhões de pessoas em um só dia. À noite, os neons iluminam todos os prédios, as árvores ganham lanternas coloridas, os chineses vão todos para as os bares beber e conversar. Chineses modernos, com cabelos e roupas da moda, unhas coloridas e nenhum medo aparente de ser feliz. Dá vontade de morar em Xangai. Principalmente porque tudo é muito lindo, muito limpo, muito organizado e muito, mas muito, mas muito barato mesmo (a não ser que você queira comprar alguma coisa muito verdadeira). Um detalhe, porém: vi apenas uma livraria em Xangai e nenhuma pessoa com um livro na mão. Bem, mas melhor assim do que o tempo em que todos os chineses eram obrigados a carregar o livro vermelho de Mao.

* Paula está na China fazendo pesquisas para um livro. Nos próximos 20 dias ela vai compartilhar no blog suas impressões sobre o país mais populoso do mundo.