Arquivo mensais:fevereiro 2010

Arthur Rimbaud: a tragédia, o charme e o mito

Por Ivan Pinheiro Machado

A padiola é suspensa e içada até o navio. Lá embaixo, dezesseis homens olham calados depois de realizarem seu trabalho. Abdo Rimbo, como chamavam Arthur Rimbaud, está indo embora para morrer. A dor lancinante impede o riso, um aceno mais efusivo. Calados, aqueles homens do deserto quase perdoam seu algoz; aquele europeu duro, irrascível, que só se referia a eles como “negros sujos, imbecis, bestas de carga”. Depois de 11 anos na África Oriental, a maldita doença interromperia sua fuga.

O navio o levaria de Aden a Marselha e o grande poeta da França morreria poucos meses mais tarde, depois de um sofrimento atroz, aos 37 anos, em 10 de outubro de 1891.

Ninguém notou quando morreu. Mesmo o grande Verlaine já tinha esquecido o seu grande amor adolescente, o poeta irreverente, tresloucado, de grandes olhos azuis que escandalizara o Quartier Latin. Também pudera, ele havia sumido em 1880 na chamada “terra das sombras”, a tenebrosa Abissínia na África Oriental e ninguém, salvo sua família, havia tido notícias dele.

O tempo foi passando e sua poesia, enfim descoberta, espalhou-se pelo ar da França, como pólen na primavera. Seus versos ardentes, suas alucinações, seus poemas geniais, suas iluminações e sua temporada no inferno espantaram o mundo. Todos estavam perplexos; como aquela obra genial fora produzida por um adolescente que aos dezoito anos abandonara a poesia, a família, os amigos, a França?

Depois de rolar pela Europa e o Oriente próximo, aos 24 anos Arthur chegou ao norte da África. Nunca mais escrevera um verso. Queria enriquecer, queria desaparecer. Não seria mais Jean-Nicholas Arthur Rimbaud. Seria Abdo Rimbo, o mercador da Abssínia. O traficante de armas e – dizem, sem nunca ter sido provado– de escravos. O obsessivo francês que carregava consigo, sob o sol de 50 graus, um cinturão com o ouro acumulado atado à cintura. Vagarosamente a lenda cresceu. O poeta solitário, calado, internado no fundo da África. Traficando armas, escravos, camelos. Ingredientes poderosíssimos para excitar os sofisticados círculos literários parisienses e daí ganhar o mundo. O mito cresceu, histórias aqueceram a lenda do menino poeta que abandonou a poesia aos 18 anos e fugiu para a África. Milhares de livros foram escritos; biografias, ensaios, teses, todos tentavam decifrar o enigma. Seus passos pelos confins da África foram seguidos meticulosamente por centenas de biógrafos que escreveram milhares de páginas. Mas nada foi descoberto. Ficou o mito. Que cresceu com tempo e continua a crescer, ficando, quem sabe, maior que a obra poderosa, fundamental, que influenciou decisivamente a poesia dos séculos que vieram depois.

Rimbaud no Brasil

A coleção L&PM POCKET publicou Uma temporada no inferno, com tradução e introdução de Paulo Hecker Filho. Entre a reduzida bibliografia rimbaldiana publicada no Brasil destacam-se Poesia Completa (Top Books), com tradução e introdução de Ivo Barroso, a Correspondência Completa (Top Books), também um magnífico trabalho de tradução, introdução e notas do poeta e tradutor Ivo Barroso, Rimbaud Livre, um ensaio de Augusto de Campos, e o excelente livro Rimbaud na África (Nova Fronteira), do inglês Charles Nicholl. Destaque também para o livro A hora dos assassinos, um ensaio sobre a vida de Rimbaud por Henry Miller (L&PM POCKET). No início da década de 80 a L&PM publicou Rimbaud na Abssínia e Rimbaud da Arábia do especialista francês Alain Borer e uma antologia de cartas, “Correspondência de Arthur Rimbaud” (seleção e edição de Ivan Pinheiro Machado) com introdução de Ivo Barroso. Estes livros estão totalmente esgotados podendo ser encontrados somente em sebos ou no site Estande Virtual.

Rimbaud também está na Série Biografias L&PM.

Novo desenho do site e estreia da WebTV movimentam início de março

A partir do dia 1° de março os frequentadores do site da L&PM terão uma surpresa bem agradável: o espaço ganhará nova roupagem, mais moderna e organizada. Para os curiosos, podemos adiantar que o atual layout do blog em muito lembra o futuro design do site…

Martha Medeiros, Moacyr Scliar (durante conversa com Ivan Pinheiro Machado), Duca Leindecker e David Coimbra já gravaram programas na WebTV

Com o novo desenho estreia também a L&PM WebTV, um canal de vídeos com programação estritamente cultural e cujo foco será, claro, a literatura. As gravações de depoimentos de escritores já estão adiantadas e após um pequeno período experimental a TV contará com uma grade de programação fixa e atualizações diárias.  Em breve postaremos mais novidades aqui no blog!

Elogio da velhice

Por Luiz Antonio de Assis Brasil

O insuperável texto a respeito é o De Senectute (A Velhice, às vezes traduzido como Saber Envelhecer), de Cícero. O pensador usa um método: apresenta argumentos contra a velhice e depois os rebate. De Senectute não pretende consolar: Cícero nada vê de mau na velhice.

Vamos sumariamente aos argumentos e aos contra-argumentos.
Primeiro: a velhice nos afasta da vida ativa. Qual vida? A natureza dota cada idade de vidas próprias, com seus próprios ritmos de atividade.
Segundo: a velhice não tem forças; sim, mas ninguém exige dela ser forte! Mesmo ao suposto enfraquecimento da memória, Cícero tem resposta espantosa: diz ele que jamais viu um velho esquecer-se do lugar onde escondeu seu dinheiro: quo thesaurum obruisset. Ainda dentro deste item, diz-se que os velhos são rabujentos: difficiles. Nada disso. São rabugentos porque sempre o foram, desde a juventude; os outros é que não se aperceberam disso.
Terceiro: a velhice nos priva dos melhores prazeres. Os melhores prazeres, entretanto, mudam com a idade. Um velho terá imenso prazer nas antigas amizades, no bom vinho, no paladar pausado, na reflexão, na arte e na cultura e os desfrutará com muito mais volúpia que o jovem, pois tem mais vagares e compreensão das coisas. Além disso -vejam o bom-humor de Cícero – não se sofre por ser privado daquilo de que não se tem saudades: quod non desideres.
Quarto: a velhice nos aproxima da morte. Certo, se pensarmos apenas na cronologia; entretanto, os mais propensos a morrer cedo são os jovens, por sua afoiteza e pelo caráter devastador das doenças juvenis; ademais, não há razão para temer a morte: se houver uma vida futura post mortem, ótimo; se não houver, nunca o saberemos, aut nullus est. O autor crê na imortalidade da alma, mas prefere ficar em sua argumentação terrena.
Conclusão de Cícero: os velhos não devem nem se apegar nem renunciar sem razão à vida. Para isso é preciso ser sábio e a sabedoria é coisa natural na velhice.
Leia De Senectute. Lá está tudo isso, e melhor. Se você não lê latim, há boas traduções. Se for jovem, rirá muito; se for velho, ficará feliz – o que é muitíssimo diferente.

Texto publicado no jornal Zero Hora

David Coimbra e os folhetins eletrônicos

David Coimbra vai lançar no segundo semestre Jô na estrada, sua nona publicação pela L&PM. Como já adiantamos no site, o livro é resultado de uma parceria entre o escritor e o ilustrador Gilmar Fraga. A trama é contada de maneira intercalada, ora pelas palavras de David, ora pelos quadrinhos desenhados por Fraga.

Jô na Estrada é um folhetim dividido em três partes (Jô na estrada, A volta de Jô e Jô em casa) que foi publicado originalmente no blog do David. E essa não é a primeira vez que um folhetim eletrônico escrito por ele vira livro. O mesmo já aconteceu com Cris, a Fera e Pistoleiros também mandam flores, esse último publicado no site da L&PM.

Agora, David está escrevendo Apalparam as costas de Bel, um folhetim mais complexo que os anteriores, com uma quantidade maior de personagens e múltiplos pontos de tensão. Um amontoado de homens e mulheres, todos colegas de trabalho e todos com interesses nada profissionais, fica trancado no elevador da sua aparentemente semifalida firma. Aquele espaço de uns poucos metros quadrados passa a ser então o campo de uma batalha mental cujo resultado é uma porção de relacionamentos mortos e orgulhos feridos. Para ler todos os capítulos já publicados e saber qual é o final dessa história, acesse o blog do David.

Diário do Anonymus em Paris – 3º Dia

Por José Antonio Pinheiro Machado

Na segunda-feira de carnaval, não houve desfiles nem bailes em Paris. Foi o dia do encerramento da Paris Cookbook Fair, e a maior festa ficou por conta dos grandes investidores, como o Grupo Food, que através do seu presidente Paulo Dalcó disse que foi uma das melhores feiras que participou: “Aqui, encontramos apenas o melhor. Tudo foi o máximo! As pessoas que vieram aqui tinham um foco bem determinado.”
Nesta primeira Feira Mundial do Livro de Gastronomia, de fato os participantes queriam comprar ou vender direitos de publicação de livros dessa área. E muitos negócios foram encaminhados. Houve a premiação de diversos livros, através de uma comissão julgadora e, para todos, ficou a sensação de que há um caminho aberto. A segunda edição da Paris Cookbook Fair está prevista para o ano que vem, na mesma época.

O local escolhido para a feira, o novíssimo “Cent Quatre”, centro de eventos artísticos e culturais, foi comentado com reservas. O local é amplo e bonito, com 4.000 metros quadrados de área. Mas ainda tem uma infraestrutura deficiente. Além disso, é muito longe da área central, localizado num bairro que não tem boa fama, pelo alto índice de criminalidade. Também houve queixas à divulgação do evento, que mereceu pouca atenção da imprensa local. Os organizadores cuidaram de todos os detalhes para o conforto dos participantes, mas se descuidaram das relações com a imprensa e o público: nos dias abertos ao público, a presença ficou abaixo do esperado.

Entretanto, esses detalhes, de modo geral, foram colocados em segundo plano: “Foi a estreia. Muita coisa tem que melhorar. Mas, no fundamental, os franceses capricharam”, disse Dolores Manzano, a “Dosh”, secretária da Câmara Brasileira do Livro que transformou o estande brasileiro no maior sucesso.
Domingo, a chef Ana Trajano já tinha brilhado com uma apresentação culinária à base de mandioca e charque que encantou os participantes. Ontem foi a vez do estande brasileiro virar o centro das atenções também com gastronomia bem brasileira.  Foram servidos ao público que passava pelo estande salgadinhos espetaculares e muito típicos: coxinhas de galinha, bolinhos de bacalhau, empadinhas de palmito e o clássico pão de queijo. Brasileiros residentes em Paris ficaram surpresos pela qualidade e pela autenticidade dos salgadinhos servidos: “Me sinto num boteco do Rio de Janeiro. Só falta cachaça… Mas o café é de primeira. Aqui na Europa, eles tentam imitar os quitutes brasileiros, mas fica sempre uma porcaria. Quem fez estas maravilhas?”- queria saber uma fotógrafa brasileira que serviu-se de uma dose generosa dos saborosos quitutes. A cozinheira que preparou esse destaque gastronômico do dia é uma brasileira humilde que pouco a pouco ganha muito prestígio com suas especialidades: Rita Félix Pereira, que se recusa a dar qualquer informação sobre as receitas e os ingredientes. Como todo mágico que se preza, ela recolheu os aplausos e não revelou os truques.
Depois de muitos  bolinhos, empadinhas, coxinhas e pãezinhos, Anonymus Gourmet, na despedida da primeira Paris Cookbook, não poderia dizer outra coisa: voltaremos!

N.E.: Na estande brasileira, foi improvisada uma mesinha com os livros do Anonymus e um computador com a página do blog aberta. O diário do Anonymus em Paris fez sucesso até… em Paris!

Diário do Anonymus em Paris – 2º Dia

Por José Antonio Pinheiro Machado

Os brasileiros estão adorando a Paris Cookbook Fair, a feira mundial dos livros de gastronomia que se realiza no recém criado “104”, o “Le Cent Quatre”, novo espaço cultural e artístico da capital francesa.
Representantes de cerca de 100 países movimentam o pavilhão amplo, moderno e confortável, totalmente reciclado e modernizado — que no passado abrigou o órgão municipal das “Pompas Fúnebres de Paris” durante dois séculos. O Cent Quatre fica no XIXème Arrondissiment, valorizando uma região pobre de operários, desempregados e estrangeiros ilegais.
As Câmara Brasileira do Livro, está presente com um estande que tem a participação das editoras Melhoramentos, Senac e Bocatto. A L&PM, a convite da presidente Rosely Boschini, comparece como observadora. “Esta feira veio para ficar”, disse Rosely. “Aqui estão presentes as principais editoras do mundo que editam livros de gastronomia. Até no Brasil, o interesse editorial pela gastronomia é crescente. No ano que vem, vamos comparecer com representação reforçada.”
Embora ainda não seja a realidade brasileira, nos Estados Unidos e na Europa os livros de gastronomia, segundo o presidente da Paris Cookbook Fair, M. Edouard Cointreau, já são “a parcela mais apetitosa e mais rentável do mercado editorial.”
Esse entusiasmo parece contagiar nossos editores e livreiros, e vai se concretizar em duas frentes, num primeiro momento. Desde logo começa a preparação para trazer a Paris uma representação mais numerosa na Cookbook Fair do ano que vem. Além disso, outra novidade imediata: a criação de um espaço exclusivo para livros de gastronomia já na próxima Bienal do Livro, em São Paulo.
Na verdade, esta primeira edição da Paris Cookbook Fair ficou dividida entre duas inclinações: feira de negócios ou feira-festival? Numa feira de negócios, a exemplo da tradicional Feira de Frankfurt, o foco é a comercialização internacional de direitos entre editores de diversos países; na feira-festival, da qual a cinquentenária Feira do Livro de Porto Alegre é amostra, a idéia é um grande evento de público, de divulgação de autores e novos lançamentos.
“Talvez seja interessante cultivar essa dúvida existencial”, diz um dos editores mais chegados a M. Cointreau.  “Essa duplicidade pode fazer bem à saúde financeira e ao marketing das próximas edições”, completa.
Por enquanto os negócios têm mais expressão do que a presença do público.
Mesmo assim, centenas de parisienses e turistas, no primeiro dia aberto ao público, enfrentaram a manhã gelada do fim de semana, com temperaturas em torno de zero grau, para ingressar no Cent Quatre, felizmente bem fechado e aquecido: além da calefação impecável, bailarinas indianas, conhaques e vinhos se encarregaram de fazer subir a temperatura.
Somando-se aos apelos dos estandes e das danças, o público desfrutou de quiosques com bebidas variadas e uma mini-feira livre de produtos bio, onde não faltaram cenas inesquecíveis. Um renomado produtor italiano de caríssimo aceto balsamico oferecia demonstração de seu produtos envelhecidos, com amostras diminutas servidas ao público em parcimoniosas colherinhas. Um japonês, entusiasmado pelo sabor foi polidamente advertido pela esposa, ao tentar a quinta colherada de repetição.
Nas demonstrações culinárias, o destaque (sem patriotismo) foi o Brasil, que apostou na simplicidade: a cozinheira e chef de cozinha Ana Trajano apresentou a uma platéia de dezenas de refinados gourmets o charque e a mandioca. Depois de uma apresentação teórica em que comilões de diversos países foram iniciados nas diferenças entre charque, carne seca e carne de sol, todos adoraram os finalmentes: charque com salada e uma boa farofa.
A mandioca brilhou especialmente: “De norte a sul do Brasil, chamada de mandioca, macaxera ou aipim, servida ao natural, ou na forma de pirão, farofa ou paçoca, é um alimento de primeira. A mandioca une o Brasil!”, disse Ana no evento em que lançou seu livro “Gosto do Brasil”. O editor Breno Lerner lembrou que 60 milhões de pessoas deixaram de morrer de fome na África graças ao crescimento da cultura da mandioca, que tem o Senegal na liderança mundial em matéria de cultivo.
Entre os livros de luxo de cintilantes capas dura,s apresentados na Paris Cookbook Fair por editores europeus em ternos Armani impecáveis, não deixa de ser estimulante constatar que brilhou o grande ingrediente da mesa brasileira. Quem diria. Os estandes refinados se transformaram, por momentos, em balcão da realidade, e a mandioca, normalmente reduzida a insossa curiosidade tropical, foi redimida.

Nos devaneios do conhaque

Por José Antonio Pinheiro Machado

A caminho da Paris Cookbook Fair, Anonymus Gourmet fez o que chama de “escala fundamental” em Lisboa, onde se reencontra “com as raízes essenciais da alma lusitana”. Um dos símbolos vivos dessa estirpe é sem dúvida o Almirante Vasco Marques.
Depois de dominar os oceanos por quatro décadas com sua argúcia de velho lobo do mar, o Almirante Vasco Marques, agora, vive em sossegada reforma, ao lado da sua Rosarinho, num castelo aprazível do Bairro Alto de Lisboa. Quando a noite desce sobre a Península Ibérica, enquanto Rosarinho leva ao forno uma garoupa recém pescada, o “Homem do Norte” (como o Almirante é conhecido na cidade do Porto) desce à adega suntuosa e mergulha na dúvida torturante: “Barca Velha ou Château Margaux? O que beber no jantar?” Mas as navegações do Almirante prosseguem, mesmo em terra firme.
“Navegar é o destino dessa raça!…”  − diz Rosarinho, resignada ante a vocação incontornável do grande marinheiro. O comentário é feito, não por acaso, ao pé da belíssima estátua de Pedro Álvares Cabral que domina o átrio do castelo onde mora o casal. Quando fala em “raça”, Rosarinho se refere de forma ambivalente à raça portuguesa e também à raça dos homens indômitos que arrostam os perigos, os presságios e a tempestade. O Almirante, sem qualquer vaidade, sabe que pertence às duas estirpes.  Ele compreendeu os versos de Fernando Pessoa − navegar é preciso, viver não é preciso − terçando armas com um pirata armênio no tombadilho de uma escuna (antigo navio à vela, de mastreação constituída de gurupés e dois mastros): navegar é uma ciência exata e necessária; viver, além de ofício incerto, só é indispensável com honra.
Na reforma sossegada, − depois da garoupa inexcedível, nos devaneios do conhaque, − o Almirante reflete que tem apenas três características que o diferenciam da “raça” portuguesa: 1) detesta bacalhau; 2) detesta pastéis de Belém; 3) adora piadas de português. Em relação ao item 3,  é dos arquivos do almirantado a história do alentejano que foi a Lisboa consultar um médico. O alentejano, aquele matuto natural do Alentejo, a região mais pobre de Portugal, foi a Lisboa para o exame periódico de saúde.
−Você bebe? − perguntou o médico.
− Dois ou três copos de vinho nas refeições… − respondeu o alentejano.
− Fuma ?
− Dois charutos por dia.
− E … quanto ao sexo ? − quis saber o médico.
− Uma ou duas vezes por mês. − foi a resposta.
O médico ficou perplexo:
− Sóóóóóó !?!?!? Com a sua idade e a sua saúde? Eu que sou muito mais velho, tenho sexo duas a três vezes por semana.
O alentejano ficou meio sem jeito:
− Pois é, doutor… Mas o senhor é médico em Lisboa. E eu sou padre numa pequena vila do Alentejo!
Segundo o Almirante Vasco Marques, essa é uma cena da vida real que ilustra o debate atual sobre castidade e casamento dos padres.

Diário do Anonymus em Paris – 1° Dia

   

Por José Antonio Pinheiro Machado 

Foi aberta hoje em Paris a Paris Cookbook Fair, a Feira Mundial do Livro de Gastronomia. O lugar escolhido não poderia ser mais adequado, o Le 104 é o mais novo espaço cultural de Paris, no 19.eme arrondissiment, distante dos lugares mais tradicionais da cidade, mas que poderá se tornar uma nova onda. É um espaço curioso. Ali funcionava no século XIX o serviço de “Pompas Fúnebres Municipais de Paris”, que cuidava dos funerais de “loucos, desvalidos e mulheres divorciadas.” Tornou-se obsoleto, é claro, e surgiu a boa idéia de reaproveitar aquele grande pavilhão de aspecto lúgubre para usos mais luminosos…     

O "Le 104", sede da primeira edição da Cookbook Fair / Foto: Divulgação

 Para começar, agora o pavilhão é todo branco, mas não renega sua origem. No pórtico de entrada está lá, como era antigamente: “Pompas fúnebres de Paris”.  Mas hoje, como disse um porteiro quando Anonymus se surpreendeu com a inscrição, “aqui é um lugar que era de morte e agora é de vida”. E a primeira Paris Cookbook Fair tem os contratempos naturais de uma vida que começa. Poucos antes da abertura os colombianos não sabiam onde ficar, os brasileiros tiveram que mudar por conta própria detalhes do estande e os guardas não deixavam entrar os jornalistas que não tinham credecial: mas eles queriam entrar justamente para se credenciar…  

Resolvidas as confusões do parto, os mais de 4.000 m² de área viraram festa, reunindo editores, autores, chefs, fotógrafos e produtores vindos de mais de 100 países. Além de conferências, palestras de editores e autores de livros ligados ao mundo da gastronomia e do vinho, performances de 62 chefs de todo o mundo estão programadas no “Show Kitchens”.  O comandante da festa tem linhagem: é Monsieur Edouard Cointreau, da família que produz o licor mais consumido do mundo e que criou sua própria tradição pessoal: é presidente da Gourmand Magazine. Desde as entrevistas preliminares, ele contagiou a todos com seu entusiasmo: “Será uma feira de livros diferente de todas. É aberta para todos – grandes e pequenos -, vindos de todos os países do globo”. Segundo Monsieur Cointreau, o mercado de livros ligado à gastronomia é um dos mais rentáveis do mundo e “precisávamos de um encontro desta importância planetária”.  

Entre os milhares de livros expostos nos diversos estandes, algumas curiosidades: chocolate, disparado, é o tema dominante dessa amostra da literatura gastronômica, frango – cada vez mais presente nas mesas do mundo – aparentemente não atrai leitores, escritores e editores, e impressiona o volume de obras com receitas e dicas de alimentação infantil. E um dado dominante: em todas as categorias e sabores, a maioria absoluta dos autores procura mostrar a gastronomia como uma arte fácil e sem mistérios. Parece que chega ao fim o império dos chefs inescrutáveis de receitas impossíveis de compreender. Os leitores parecem mais interessados em receitas fáceis, simples e saborosas que possam ser reproduzidas com facilidade no fogão de casa.

Apresentação


Por Ivan Pinheiro Machado

O Blog da L&PM Editores será um espaço de opinião e serviço que trata, preferencialmente, de tudo que acontece no mundo da cultura e do entretenimento. Opiniões, resenhas de livros, polêmicas, contestações, informações, entrevistas, grandes textos de grandes autores, poetas jovens e nem tanto, planos, utopias, histórias, ensaios, ironias, iconoclastias, enfim, onde houver vida inteligente, nós pretendemos nos habilitar, divulgar e interagir com os nossos amigos e leitores.

Entre tantas possibilidades, iniciamos como convém aos que celebram: à mesa. E vejam só que mesa! O jornalista e escritor José Antonio Pinheiro Machado – que também atende pelo codinome Anonymus Gourmet–  está na primeira Paris Cookbook Fair, a Feira Mundial do Livro de Gastronomia na capital francesa. E de lá ele vai mandar boletins diários contando com exclusividade o que se passa neste verdadeiro paraíso da gastronomia.