Arquivos da categoria: Enciclopédia dos Quadrinhos

Verbete de hoje: Carlos Zéfiro

 

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, o Blog L&PM publicará, nos domingos, um verbete do livro. O de hoje é  o brasileiro Carlos Zéfiro (1921-1992)

Quando terminamos a redação da primeira Enciclopédia dos Quadrinhos (agosto de 1990), ninguém conhecia a verdadeira identidade desse famoso quadrinista, que sempre se assinou como “Carlos Zéfiro”. Dois livros, inclusive, já tinham sido publicados com histórias e muitos textos sobre a obra desse nosso pornógrafo oficial: A arte sacana de Carlos Zéfiro (Editora Marco Zero, 1983), com organização de Joaquim Marinho e textos de Roberto da Matta, Sergio Augusto e Domingos Demasi, e O quadrinho erótico de Carlos Zéfiro (Record, 1984), de Otacílio d’Assunção (Ota). Quem descobriu a verdadeira identidade de Zéfiro foi o jornalista Juca Kfouri em uma extensa matéria publicada na Playboy nacional, em novembro de 1991. Tratava‑se de um ex-funcionário público (do Serviço de Imigração do Ministério do Trabalho), Alcides Aguiar Caminha, que na ocasião já completara 70 anos. Caminha sempre recusou identificar‑se como Zéfiro porque poderia não só perder seu emprego, como também o direito à aposentadoria. Em julho de 1992, Caminha recebeu uma suprema homenagem: o troféu HQ Mix. Dois dias depois faleceu, vítima de um derrame. As histórias que Caminha desenhou – mais de 600, em geral com 32 páginas, em formato 1/4 de papel ofício – eram vendidas clandestinamente em bancas de jornais e revistas e se chamavam “catecismos”. O editor era um livreiro, Hélio Brandão, que ousava imprimir e distribuir os “catecismos”. Dizem que algumas edições chegaram até a Argentina, com sucesso de vendas. O estilo de Caminha era fraco, mas muito erótico e sensual para a época (anos 50 e 60), já que praticamente não havia nada nas bancas com “as artes” do Carlos Zéfiro. Paralelamente as suas atividades em HQ, Caminha foi também compositor, parceiro de Nelson Cavaquinho. Em 1991, saiu mais um livro organizado por Joaquim Marinho, Os alunos sacanas de Carlos Zéfiro (Editora Marco Zero), com textos de Regina Echeverria e Maria José Silveira.

 

Verbete de hoje: Alex Varenne

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, o Blog L&PM publicará, nos domingos, um verbete do livro. O de hoje é  o francês Alex Varenne (1939)

A rigor, Alex Varenne sempre deve ser associado à figura de seu irmão, Daniel (nascido em 1937). O primeiro é ilustrador, o segundo, óbvio, roteirista. Juntos, os Varenne, segundo um crítico francês, “vêm fazendo nos quadrinhos o que Balzac fez com sua Comédia humana”. Divulgadíssimos fora da França, quer pelo estilo gráfico de grande originalidade utilizado por Alex e as narrativas cínico-eróticas de Daniel, os álbuns e as histórias dos Varenne estão até no Brasil. Os primeiros trabalhos deles foram publicados nas páginas de Charlie (1979), no ciclo Ardeur. Mais tarde se transferindo para o L’Echo des Savanes, os Varenne criaram a série “Carré Noir Sur Dames Blanches”. Mais tarde, para a mesma revista, vieram as aventuras (noturnas e eróticas) de Erma Jaguar, onde, em certo momento, participava uma figura muito parecida com a “deputada” Cicciolina. Alex é um ilustrador notável. Seus desenhos, impressos em preto e branco, quando recebem tratamento de cor, ganham nuances plásticas da melhor categoria. No Brasil, depois de algumas histórias avulsas publicadas pela Circo, os trabalhos dos Varenne foram para a coleção “Opera Erótica” da Martins Fontes, em álbuns de luxo: A visita, Mulheres de sonhos em quadros sonhados, Corpo a corpo e Erma Jaguar. A personagem que ganhou maior continuação foi a de Erma Jaguar, publicada na Argentina pela revista Super Sex. Nessa mesma publicação, saiu a série “Velada de Escombros”, material inédito em Portugal e no Brasil.

No final de fevereiro, a L&PM publicará "Erma Jaguar" álbum com todas as histórias da personagem de Alex Varenne

Verbete de hoje: Hayao Miyazaki

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, o Blog L&PM publicará, nos domingos, um verbete do livro. O de hoje é  o japonês Hayao Miyazaki (1941)

O grande público brasileiro conhecia Hayao Miyazaki pelos desenhos animados de longa-metragem A viagem de Chihiro (Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2003) e O castelo animado. Antes desses, ele já havia trabalhado em Heidi, Dos Apeninos aos Andes, Ana dos cabelos ruivos e Conan – O garoto do futuro, onde debutou como diretor, Lupin III e Sherlock Holmes. Paralela a essa carreira, cultivou o mangá, a partir de 1969, com O povo do deserto e O gato de botas. Sua consagração nas HQs veio com Nausicäa, que foi publicada pela Conrad (em sete volumes). A ação se passa num futuro distante, mil anos depois de um cataclismo chamado Sete Dias de Fogo. O desenhista francês Jean Giraud (veja em G) afirmou que Nausicäa é o seu mangá preferido.

O Sherlock Holmes de Hayao Miyazaki

Verbete de hoje: Dave McKean

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, o Blog L&PM publicará, nos domingos, um verbete do livro. O de hoje é  o britânico Dave McKean (1963)

O estilo gráfico de Dave McKean é composto por uma instigante combinação de técnicas de desenho, pintura, fotografia e colagem. Sua estreia deu-se em edição da série “Mister X”. Logo depois, fez parceria com o escritor Neil Gaiman na graphic novel Violent Cases (1987). Gaiman foi seu colaborador mais constante, tanto em HQs (Orquídea negra, Sinal e Ruído, Mr. Punch, Hellblazer) como em livros ilustrados (Coraline, Os lobos dentro das paredes, O dia em que troquei meu pai por dois peixinhos vermelhos, The Graveyard Book). O trabalho mais notório de McKean foi o conjunto de capas que elaborou para as 75 edições de Sandman (DC), a grande obra-prima de Gaiman, e também de edições especiais relacionadas à série (Orpheus, Noites sem fim, Tudo o que você sempre quis saber sobre sonhos… mas tinha medo de perguntar). As capas de McKean para Sandman foram reunidas na coletânea “Capas na Areia” (1997). Ainda como capista, assinou as primeiras 21 edições do título Hellblazer (Vertigo). Outro grande momento de McKean ocorreu em Asilo Arkham (DC, 1989), álbum escrito por Grant Morrison. Notabilizou‑se também por HQs próprias de caráter autoral e experimental, como Cages (Kitchen Sink Press, 1990-1996) e Pictures That Tick (2001). Parte do material acima descrito recebeu lançamento no Brasil pelas editoras Globo, Abril, Opera Graphica, Metal Pesado, Conrad, Brainstore, HQManiacs e Panini. Em 2005, foi lançado nos cinemas Máscara da ilusão, obra dirigida por McKean e roteirizada por Neil Gaiman.

Verbete de hoje: Liniers

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, o Blog L&PM publicará, nos domingos, um verbete do livro. O de hoje é  o argentino Liniers (1973)

As tiras de Macanudo, publicadas no La Nacion, de Buenos Aires, são de uma criatividade sem-fim. Liniers (o pseudônimo de Ricardo Siri), desde o início de 2002, faz algo que o diferencia no mundo das HQs. Às vezes, a tira chega a ter 25 quadros. O formato muda todos os dias. Os numerosos personagens são originais e muito engraçados. A menina Enriqueta, o gato Fellini e o ursinho de pelúcia Madariaga aparecem com mais frequência, mas não são mais importantes que os pinguins; Oliverio, a azeitona; gente que anda por aí; a vaca Cinéfila; as ovelhas lanudas; os duendes; o homem‑lobo (que nos dias de lua cheia vira pinguim); o senhor da cabeça pequena; Z-25, o robô sensível; o homem que traduz o nome dos filmes; Ramindez, o melancólico; coisas que passaram a Picasso; Alfio, a bola troglodita e por aí vai. Fontanarrosa (que faleceu em 2008) sempre foi um grande admirador de Liniers. “Tudo parece um pouco ingênuo”, garante ele, “mas cuidado, desprevenido viajante. É a ilusória ingenuidade de um leão cercando uma gazela”. Publicada na Argentina em álbuns pelas Ediciones de la Flor, Macanudo ganhou tradução no Brasil através da Zarabatana Books.

Verbete de hoje: Marge

 

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, o Blog L&PM publicará, nos domingos, um verbete do livro. O de hoje é  a norte-americana Marge (1904-1993)

Com o seu nome real, Marjorie Henderson Buell, ela é uma ilustre desconhecida. Agora, com o pseudônimo artístico, Marge, todo mundo sabe: é a mãe-criadora de Little Lulu (Luluzinha), Tubby Tompkins ( Bolinha) e Little Alvin ( Alvinho). No início, Little Lulu foi “gag cartoon” nas páginas do Saturday Evening Post (1935). O sucesso fez com que a Western Publishing Company obtivesse os direitos para comercializar Little Lulu em forma de comic books (1945) também em tiras diárias (1955-1967). Para todo esse trabalho, Marge contou com o auxílio de vários colaboradores, em particular John Stanley, Woody Kimbrell, Roger Armstrong e o roteirista Del Connel. No domínio do merchandising, Little Lulu e seus amigos venderam-se para os mais diversos produtos, ganhando igualmente uma série de desenhos para a TV. Até 1972, Marge manteve controle geral da série, que existe ainda, com propriedade da Western. As melhores recompilações, porém, são de histórias feitas na década 50 e 60.

Os originais: Luluzinha e Bolinha como Marge começou a desenhar

Verbete de hoje: Mort Drucker

 

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, o Blog L&PM publicará, nos domingos, um verbete do livro. O verbete de hoje é Mort Drucker (1929)

Nos últimos anos, raro foi o filme ou série de TV de sucesso não caricaturizado por Mort Drucker nas páginas da revista Mad. No início, seu estilo ainda poderia lembrar algo de outro grande artista colaborador da Mad, Jack Davis. A continuidade de seu trabalho, entretanto, foi limpando qualquer influência estranha. Quem tentou imitar Mort, por exemplo, foi um artista menor da Mad, Ângelo Torres. Com roteiros de Dick de Bartolo e Stan Hart, Mort muitas vezes em suas sátiras misturava elementos (por exemplo, Sean Connery aparecendo num filme de James Bond interpretado por Roger Moore), com resultados hilariantes. Sua capacidade de caricaturar figuras do mundo do cinema, da TV e da vida sociopolítica-cultural norte-americana foi impressionante. Mesmo no caso de filmes considerados clássicos e sérios (como 2001, Perdidos na noite, Quem tem medo de Virgina Woolf? ou Platoon), o trabalho de Mort é tão criativo e engraçado que a gente acabava perdoando sua irreverência iconoclasta. Mort Drucker, antes de se tornar colaborador quase exclusivo da Mad, desenhou, entre 1948 e 1956, os quadrinhos de Abott e Costello.

Verbete de hoje: Gilbert Shelton

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, o Blog L&PM publicará, nos domingos, um verbete do livro. O verbete de hoje é Gilbert Shelton (1940)

Ao lado de Robert Crumb (veja em C), Gilbert Shelton é o mais popular desenhista dos quadrinhos do underground norte-americano. Seus Freak Brothers (Fat Freddy, Phineas e Franklin) são os reis da confusão de sexo, drogas, ócio, bagunça, birita, festas e rock’n’roll. Shelton, agora estabelecido na Califórnia, nasceu em Dallas, Texas. Ao contrário

de seus anti-heróis, trabalhou duro seis horas por dia na sua Rip Off Press, produzindo histórias cada vez melhores. Começou a carreira no Texas Ranger, publicação subterrânea da Universidade do Texas. Seu primeiro personagem de sucesso, Wonder Hart-Hog, o suíno de aço, era um porco machista, reacionário, repressor e chauvinista. A figura se tornou best seller da revista Help, lançada em 1965 por Harvey Kurtzman (veja em K). A consagração de Shelton aconteceu, porém, com o lançamento dos Freak Brothers em 1967, numa revistinha comix Austin Rag. Em 1968, Shelton mudou-se para a Califórnia onde, depois de algum tempo, junto com amigos, fundou a Rip Off Press. The Freak Brothers é o veículo através do qual Shelton ironiza e denuncia o ilusório “sonho norte-americano”. Também não perdoa os seus anti-heróis, colocando-os como ridículas figuras de uma sociedade marcada pelo moralismo de

fachada e um reacionarismo selvagem. As histórias dos Freak Brothers são geralmente acompanhadas pelas aventuras do Gato do Fat Freddy, deliciosas e irreverentes também. No Brasil, The Freak Brothers apareceram pela primeira vez em 1972, na revista Grilo, e posteriormente ganharam álbuns pela coleção “Quadrinhos L&PM”. Saíram dois volumes com as aventuras dos Freak Brothers e um com o Gato do Fat Freddy. A Conrad também lançou dois álbuns (2004 e 2005) com os personagens.

Verbete de hoje: Phil Davis

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, o Blog L&PM publicará, nos domingos, um verbete do livro. O verbete de hoje é Phil Davis (1906-1964)

Poucos desenhistas da época do ouro dos quadrinhos norte-americanos têm o prestígio de Phil Davis, principalmente na Europa. Alain Resnais, o diretor de Hiroshima, Mon Amour, disse que se inspirou em muitas imagens de Davis para criar o seu O ano passado em Marienbad. Federico Fellini, outro admirador, disse que sempre quis filmar as narrativas de Phil. Nascido em St. Luis, Missouri, em 4 de março, Davis, até os 28 anos, trabalhou principalmente como ilustrador e publicitário. Em 1933, ele encontrou um conterrâneo, Lee Falk (veja em F) e juntos criaram um dos personagens mais famosos do King Features Syndicate: Mandrake, the Magician. No princípio (1934), as aventuras de Mandrake, sempre junto com o seu fiel auxiliar Lothar e depois com a “noiva” permanente, Narda, eram quase convencionais. Logo em seguida, porém, a dupla Falk/Davis, além dos poderes mágicos dados a Mandrake (na verdade, um mestre no hipnotismo), aumentou a dose do imaginário/ fantástico. Mandrake e seus companheiros passaram a visitar mundos paralelos, outras civilizações, o fundo do mar, invasores do espaço, em cenários que primavam pela criatividade. O traço foi eliminando detalhes supérfluos, tornou-se até mais duro que no princípio, mas os mundos que Davis criava eram realmente mágicos. Mandrake foi vendido (e vende até hoje) em todos os quatro cantos da Terra. Lamentavelmente a saúde de Phil não era boa. Nos seus últimos anos de vida, o desenhista foi muito auxiliado por sua esposa, Martha, que já tinha fama como figurinista e estilista de moda. Quando Phil morreu de um ataque cardíaco, Martha tentou continuar sozinha as tiras e páginas dominicais de Mandrake, mas realmente não tinha pique para tanto. A série passou então para as mãos de Fred Fredericks.

Verbete de hoje: Peyo

Com o lançamento da nova Enciclopédia dos Quadrinhos“, de Goida e André Kleinert, o Blog L&PM publicará, nos domingos, um verbete do livro. O verbete de hoje é PEYO:

Asterix, Lucky Luke e os Smurfs. Sem dúvida, e nessa ordem, eis os personagens de humor mais conhecidos da escola franco-belga. Enquanto os dois primeiros destinam-se também ao público adulto, os Schtroumpfs (como se chamam no original) fazem a alegria principalmente da garotada. Estão em muitos outros meios também: ajudam a vender os mais variados produtos e viraram inclusive desenhos para o cinema e a TV. Os Smurfs é a criação mais conhecida do desenhista Pierre Culliford, que sempre assinava seus trabalhos como Peyo. Nos quadrinhos desde 1945, foi companheiro de Jijé, Franquin, Morris e Paape (todos citados nesta obra). Desenhando para o jornal La Derniére Heure, Peyo criou um personagem chamado Johan, que vivia suas aventuras marcadas pelo humor na Idade Média. Quando “Johan” foi para a revista Spirou, a série enriqueceu-se com outras figuras, e nela surgiram os pequenos duendes chamados Schtroumpfs. Fizeram tanto sucesso que Johan desapareceu e eles tomaram conta de tudo. Mudaram inclusive a vida de seu ilustrador, que criou uma empresa para cuidar dos múltiplos caminhos por onde passaram a caminhar seus pequenos duendes. Peyo foi igualmente o criador de “Benoit Brisefer”, um garoto de força sobre-humana (1960), série depois continuada por Will e Walthéry.